Viajar de férias é bom. Contornado de pessoas amadas, é ainda melhor. Mas o que fazer quando, entre os amados, há um ser de quatro patas? Levar um pet na viagem pode ser uma experiência incrível, a ponto de se tornar rotina para uns. Mas quem vive essa experiência alerta: cuidados são necessários, antes e durante a viagem, para evitar que esse sonho, de ter a companhia do amigão nos dias de curtição, não vire um pesadelo.
São também necessários cuidados nos casos em que os pets não podem ser levados. Soluções não faltam. Amigos de crédito, profissionais e hospedagens especializadas em animais de estimação podem ajudar, mas é importante estar sempre atilado para evitar riscos maiores a esses entes tão queridos da família.
Companheiros de férias
Fotojornalista e antropóloga, Tina Coêlho costuma levar seus “bichús” – termo que usa ao se referir aos muitos amigos caninos – em quase todas as férias. Principalmente quando tem, uma vez que rumo, praias uma vez que Ponta do Corumbáu, na Bahia, onde trabalha, também, uma vez que instrutora de mergulho.
Tina costuma viajar com seus cinco cachorros por outras rotas. Foram várias idas e vindas entre Brasília e Belo Horizonte. Ela, no entanto, alerta: para esse tipo de proeza, é fundamental que os pets estejam “educados para viajar de coche”, até mesmo para, dependendo da situação, usar cinto de segurança. O estágio, explica, é repassado, inclusive, dos cachorros mais velhos para os filhotes.
Em universal, a viagem é feita em veículos espaçosos, uma vez que caminhonetes. Nesse caso, os pets de maior porte, uma vez que os dois dogs alemães que ela tem, vão na caçamba, com as coleiras amarradas. “Mas já tive situações de levar os cinco em um gol”, disse ela ao lembrar que um dos cachorros, o dog teuto Mano, tem mais de 2 metros de comprimento (do nariz à ponta da rabo) e 1m30 de profundidade.
“Mano ficou atado no porta-malas. E os outros ficaram afivelados no cinto. As malas colocadas no piso tornaram o espaço mais confortável para eles”, acrescentou ao reiterar que isso só foi provável porque todos pets são habituados a longas viagens por rodovias.
Desde sempre Tina foi muito ligada a animais de estimação, motivo pelo qual sentia saudades quando viaja sem eles. “Meus cachorros são membros da família. Logo por que não trazê-los, se eles também merecem usufruir de uma viagem de férias? A meu ver, eles merecem essa consideração. Simples que, para isso, é necessário todo um preparo para curtirmos, juntos, os bons momentos da vida”, acrescentou.
Cuidados específicos
De combinação com o médico veterinário Thiago Richard Massunaga, há motivos que vão além do lazer, para levar os pets nas férias. “Há casos de animais que são muito ligados e dependentes dos donos, ainda que, em universal, muitos não sintam tanta falta da família, desde que mantenham uma rotina com outras pessoas de seu convívio”, disse à Sucursal Brasil.
“Mas há também o caso de pets que precisam de qualquer desvelo específico, uma vez que medicações de uso contínuo”, acrescentou referindo-se a situações em que há maiores dificuldades para a delegação dessa responsabilidade a terceiros.
O veterinário acrescenta que, no caso de viagens de coche, é preciso que se organize em relação às paradas, de forma a diminuir ou evitar o estresse do bicho. “O ideal é encontrar locais onde os eles possam transpor do coche a cada 2 horas, pelo menos”.
Com relação às hospedagens, a dica é buscar, previamente, locais que aceitam animais de estimação, os chamados pet friendly.
“Ah… eles são mansinhos”
O tamanho dos dogs alemães de Tina Coêlho costumam render situações inusitadas até mesmo nas hospedagens pet friendly. “A gente sabe que nossos cachorros são muito tranquilos e não representam transe. Nunca nos causaram problemas. Mas nem todo hotel sabe disso”.
“Por isso adotamos a estratégia de não deixar que os vejam antes de fazermos o check in. Quando perguntam o tamanho dos cachorros, respondemos exclusivamente com um ‘ah… eles são mansinhos’. Depois, esperamos a hora certa e entramos com eles discretamente, o que é muito difícil de fazer quando se trata de dog teuto, porque todos querem vê-los de perto”, diz a fotojornalista.
Segundo Massunaga, as dificuldades de viagens em carros podem ser maiores, dependendo do porte do bicho. “E se for por meio airado, é importante que veja antes, com as companhias aéreas, suas limitações, muito uma vez que as regras para o transporte”. Na maioria dos casos, é indicado o uso de medicamentos para evitar maiores estresses dos bichos, durante a viagem.
Cão Joca
O susto de embarcar o melhor companheiro ficou maior depois o caso do cão Joca, morto durante uma viagem de avião em abril, quando embarcou de Guarulhos (SP), com rumo a Sinop (MT). Um erro da companhia aérea acabou colocando ele em outro voo, com rumo a Fortaleza.
Ao constatar o erro, a companhia enviou o cachorro de volta a Guarulhos. Todo o procedimento levou muro de 8 horas, tempo muito maior do que as duas horas e meia, inicialmente previstas. Joca foi encontrado morto ao chegar em Guarulhos.
Pet hotel
Pet hotéis são uma opção para os animais que não podem ser levados com seus donos durante as férias. Segundo o veterinário, esta pode ser uma solução para esses casos. “Os animais ficam na companhia de outros animais e sempre têm atividades para fazer e se divertir. Muitos, quando voltam para vivenda, sentem falta das atividades”, diz Massunaga.
Ele, no entanto, ressalta que, antes de deixar os pets nessas hospedagens, é importante ouvir a opinião de pessoas que já contrataram o serviço; e que a estadia seja planejada, uma vez que o número de vagas disponíveis costuma ser menor durante o período de férias.
“Vale procurar locais que coloquem os pets em companhia de outros animais de mesmo porte, ou com animais com quem eles já estejam acostumados”, acrescenta Massunaga.
Outra possibilidade é a de contratar cuidadores, que vão à residência diariamente para dar os cuidados necessários aos bichinhos. “Os cuidadores costumam ser atentos e cuidam muito muito dos animais, conhecem a família e sabem uma vez que cada um age. Se a escolha for por um profissional, é melhor que ela seja feita por indicação de alguém que já usou do serviço. E que seja uma pessoa que goste de animais”, sugere o veterinário.
Cuidadores
É o caso da pet sitter (cuidadora de animais de estimação) Bianca Bianchi. “Sabe aquela pessoa que, no encontro de amigos, fica isolada, deitada no solo brincando com cachorros, enquanto os outros estão na piscina ou na churrasqueira? Sou eu”, apresenta-se Bianca.
“No início, eu cuidava uma vez que uma forma de complementar a renda, mas a coisa acabou crescendo por desculpa das indicações feitas pelos meus clientes. Nunca mais parei”, disse à Sucursal Brasil.
Bianca recebe em vivenda os cachorros de outras pessoas quando viajam. No caso de gatos, ela prefere não tirá-los do envolvente com o qual já estão acostumados. “É fundamental que o envolvente esteja todo telado, para evitar o chegada do gato à rua, e que tenha caixinhas de areia para ele fazer suas necessidades”, ressalta a cuidadora.
Ela tem, uma vez que principal natividade de renda o jornalismo, mas a paixão pelos bichos acabou por dar a ela uma renda extra, uma vez que cuidadora. “Hoje, nem tanto pela questão financeira. Faço mais pelo paixão mesmo. É mais uma vez que uma terapia, porque eu adoro os bichos”, explica a cuidadora, residente em Campo Grande (MS).
A cuidadora diz que há demanda pelo seu serviço durante o ano inteiro. “Não só para quem viaja de férias. Há também situações de pessoas que vão receber parentes em vivenda, que, por qualquer motivo, não podem ter contato com animais. Uns pela idade; outros por alergia; e outros por estarem se recuperando de uma cirurgia. São diversas as situações”.
Dicas de viagem
Durante dez anos, Tina foi casada com um veterinário, o que possibilitou, a ela, aprofundar os conhecimentos sobre a saúde de pets e, também, sobre diversos animais de fazendas, em privativo, cavalos e bodes.
Ela diz que é sempre bom levar uma maleta com os itens básicos de primeiros socorros, quando se viaja com animais de estimação. “É bom incluir também algumas medicações específicas para pets. No caso dos cachorros, vale levar vermífugo contra o chamado verme do coração [dirofilariose]. Ele tem de ser oferecido periodicamente. Em universal, uma vez por mês para que não haja contaminação”, explica.
O médico veterinário Thiago Massunaga diz que, viajando ou não com os pets, é fundamental manter sempre as vacinas, os vermífugos e anti-parasitário extrínseco deles em dia.
Praia
Se a viagem for para a praia, é bom levar o shampoo e outros itens de banho do bichinho. “Nunca deixe ele com chuva salgada no corpo ao final do dia, porque faz mal à pele e ao pelo. Se não tiver shampoo, dê um bom banho de chuva gulosice para tirar o sal. Isso já ajuda bastante. É também recomendável usar um secador de cabelo para finalizar a secagem, porque a umidade pode dar fungo”, ressalta Tina Coêlho.
O mar alivia muito o calor dos cachorros. No entanto, requer cuidados especiais com os ouvidos, para evitar otites caninas. “Em universal, eles têm proficiência para não deixar entrar chuva do mar. Mas é sempre bom permanecer de olho também. Faz secção do kit de primeiros socorros ter alguma coisa para o ouvido”.
É também indicado levar cortador de unha e a ração com a qual eles já estejam habituados, uma vez que há riscos de não encontrá-la em outros locais. Levar um brinquedinho pode ajudar a distrair “tanto o cachorro uma vez que o seu possuidor”, brinca a fotojornalista.
Outra dica importante é a de levar a guia, para evitar confusão com outros cachorros e porque muitas pessoas têm susto de cachorro, e acabam ficando constrangidas quando se deparam com um bicho solto.
Gatos
Thiago Massunga explica que viajar com gatos é um tanto mais complicado, devido aos hábitos noturnos e ao instinto caçador e explorador dos felinos.
“Uma vez que eles gostam de perambular à noite, não é muito recomendável levá-los a lugares com os quais não estão habituados. Há inclusive o risco de eles sumirem nos momentos finais da viagem”, disse o veterinário.
Nesses casos, o mais indicado é deixar o bichano em vivenda, aos cuidados de qualquer companheiro ou buscar ajuda profissional, seja com cuidadores ou lugares especializados em hospedar pets. O importante, segundo ele, é que seja alguém de crédito para cevar, colocar chuva e dar medicação, quando necessário.
“Em universal, deixar em vivenda é muito seguro e tranquilo. No entanto, alguns animais podem sentir falta do proprietário e deixar de se cevar normalmente, mas logo recupera. Se a família tiver mais de um bicho, melhor. Principalmente se forem gatos”.
Cuidados
A cuidadora de pets Bianca Bianchi presta seus serviços tanto na vivenda do cliente uma vez que na própria vivenda. “Há situações em que recebo eles cá. Tenho espaço suficiente para isso. Nesse caso, são necessários alguns cuidados extras. Principalmente no caso de eles não serem castrados”, disse.
Outro desvelo é o de checar se a carteirinha de vacinação está em dia, de forma a prometer um contato seguro entre os pets. “Peço que usem coleirinha repelente ou que deixem repelente para o bicho, por conta da nossa região cá, que é uma região endêmica para a leishmaniose”, disse a moradora de Campo Grande.
Para hospedá-los em vivenda, ela pede que os animais sejam entregues medicados preventivamente contra carrapato, pulga, vermes e sarnas, de forma a evitar tais riscos. “Mantenho, com eles, uma rotina de passeio duas vezes por dia. Logo eles acabam indo para a rua e para o mato”.
É também dada preferência a animais que estejam acostumados a socializar com seus semelhantes. “Pets que convivem exclusivamente com humanos, sem contato com outros cachorros e sem o hábito de passear, costumam ter problemas para interagir com outros animais. É difícil ensiná-los em pouco tempo. Podem ocorrer problemas”.
Situações inusitadas.
Mesmo com todos cuidados sendo adotados, problemas podem ocorrer durante a prestação dos serviços de pet sitter.
“Faço sempre uma visitante inicial, de forma a ter uma noção sobre o histórico de comportamento do bicho, eu me previno de muitas situações. É ali que tenho noções sobre uma vez que bicho se comporta; sobre o temperamento dele; sobre seu histórico; uma vez que reage a fogos de artifício; e uma coisa muito importante: sobre se há risco de estar ou de entrar no cio”.
Mesmo assim, há sempre o risco de um tanto imponderável intercorrer. “Recentemente passei por uma situação muito inusitada. Tenho um hóspede que fica cá durante o dia, enquanto sua dona está no trabalho. Um cachorro muito bonzinho que não me dá trabalho”.
“Veio uma outra cliente pedindo para eu permanecer com uma cachorrinha já muito senhorinha, com seus 14 anos, que, segundo a dona, já havia pretérito pelo cio, o que me levou a furar uma exceção e deixá-los juntos, uma vez que estavam se dando muito e zero indicava, no comportamento, qualquer interesse decorrente do cio. Passamos o dia inteiro cá, levei eles para passear e zero”.
“Aí, à noite, fui tomar um banho. Quando terminei, vi os dois cruzando na sala. Estranhei porque isso só acontece no cio. Uma vez que já não adiantava separar, isso os machucaria, esperei eles se soltarem. Falei para a dona o que tinha sucedido. Ela estranhou porque o cio já tinha pretérito. Descobrimos que havia ali alguma desregulação hormonal. No caso, uma piometra [infecção uterina grave, comum em fêmeas não castradas]”, explicou Bianca.
Outros animais
Apesar de a absoluta maioria da demanda ser para cuidar de cães e gatos, Bianca diz que já foi contratada para cuidar de outros animais, uma vez que peixinhos e hamsters. Nesses casos, é importante que as orientações sejam anotadas de forma detalhada, em privativo sobre hábitos e sobre quantidade e frequência recomendadas para a alimento.
“Uma coisa importante sobre peixes é a de ter aquelas bombinhas de oxigenação da chuva. Inclusive por uma questão de limpeza, para não apinhar sujeira no vidro do aquário”, sugere.
“E, no caso dos hamsters, não tem muitos segredos. Além da quantidade de comida recomendada e a disponibilidade de chuva fresca, porque eles bebem bastante chuva, você tem de fazer ele gastar virilidade. Estimular ele a trebelhar; a rodopiar na rodinha; a subir as escadas. E é bom dar sempre coisas para eles roerem, uma vez que cenoura e outras coisas durinhas. Finalmente, são roedores, além de manter a serragem da casinha sempre limpinha”, acrescentou.