A 7ª edição do Olhadura – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas do Sesc São Paulo começa nesta quinta-feira (5), em Santos, com uma homenagem ao teatro por meio do espetáculo do grupo peruviano Yuyachkani, que ocupa espaços abertos e mistura artes cênicas e vida cotidiana.
A apresentação de “El Teatro Es un Sueño” será na rossio Doutor Caio Ribeiro de Moraes e Silva, em frente ao Sesc Santos, às 17h. O grupo volta a ocupar espaços públicos na sexta (6), na rossio Mauá, às 16h, e no sábado, no Emissário Submarino, às 16h.
A peça é inspirada em texto homônimo do poeta peruviano César Vallejo e conta com artistas do Peru e do Brasil.
Considerado um dos principais eventos de artes cênicas do país, o Olhadura reúne, até o dia 15 de setembro, 33 produções teatrais contemporâneas da América Latina, Portugal e Espanha.
Elas serão apresentadas em 17 lugares, em 80 sessões, e abordarão temas uma vez que as questões indígenas, decoloniais e climáticas, além da violência de gênero, migrações e a inconstância dos corpos.
Além de espaços cênicos tradicionais, os espetáculos ocuparão ruas, praças e lugares uma vez que a Moradia da Frontaria Azulejada e os Arcos do Valongo. Shows, bate-papos e oficinas também fazem segmento da programação.
O Peru é o país homenageado nascente ano e estará representado por oito espetáculos. O público poderá observar ainda a 12 obras vindas da Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Espanha, México, Portugal e Uruguai, além de 13 trabalhos nacionais do Amazonas, Ceará, Minas Gerais, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Setentrião, Rio Grande do Sul e São Paulo.
A curadoria foi idealizada em torno de três eixos: o sonho, a floresta e a esperança.
“O teatro talvez seja, para o Oeste, a forma que veio substituir o ritual avoengo de compartilhamento do sonho”, diz a equipe de curadoria do festival, assinada pelos artistas Alessandra de Assis Perrechil, Fabrício Floro, Tommy della Pietra e Rani Bacil Fuzetto.
Para a curadoria, a floresta é o grão e está no meio da programação de 11 dias do festival, que inclui presenças indígenas em obras que defendem os ecossistemas. E a esperança atravessa toda a programação, uma vez que um sentimento de justiça futura.
A programação conta com a peça “Yo Soy El Monstruo Que Os Habla”, do repórter e filósofo espanhol Paul B. Preciado. Inédito no Brasil, o espetáculo fala sobre violências sofridas pela comunidade LGBTQIA+.
A obra recria a conferência de Preciado para 3.500 psicanalistas, realizada em Paris, em 2019, quando ele denunciou a violência que a psicanálise exerce sobre corpos dissidentes.
Em um paralelo ao narrativa “Um Relatório para uma Ateneu”, de Kafka, em que um macaco encarcerado aprende a linguagem humana e fala a um grupo de cientistas, o filósofo dirigiu-se à câmara uma vez que varão trans caracterizado uma vez que disfórico de gênero.
“Estar no palco dando vida aos textos é uma catarse. Porque todas elas são eu e eu sou todas elas. Essas situações de violência, opressões e injustiças sociais, a forma de ver a vida e de julgar as mulheres ou os corpos trans racializados, migrantes, marcados por diferentes violências que Paul relata nesta obra”, diz a atriz Faby Hernández, que está no elenco da peça.
Ela afirma que o espetáculo relata situações vividas ao longo de sua trajetória e, por isso, não parece interpretar uma cena.
“Sinto que estou em frente ao espelho, questionando o sistema por sua injustiça contra as mulheres trans. Apesar de termos oferecido a rosto lutando pelos direitos humanos, há 50 anos continuamos sendo estigmatizadas e violentadas socialmente”, conclui.
Outro espetáculo inédito é “La Vida en Otros Planetas”, dirigido por Mariana de Althaus, com um quadro da instrução pública no Peru pelos olhos de um grupo de professores e alunos. A dramaturgia incorpora relatos reais de educadores colhidos em questionários anônimos, além de testemunhos pessoais do elenco.
Entre as produções brasileiras um dos destaques é “Azira’i”, um espetáculo autobiográfico sobre a relação da atriz, cantora e ativista Zahy Tentehar com a sua mãe, a primeira mulher Pajé da suplente de Cana Brava, no Maranhão. Ela chegou a ocupar a categoria dos Pajés Supremos dos povos Tentehar, talhado unicamente a pessoas com sabedorias medicinais e espirituais extremamente desenvolvidas.
Zahy recebeu o Prêmio Shell uma vez que melhor atriz neste ano. Foi a primeira mulher indígena a receber a premiação