Festival De Arte Expõe Obras De Ia Em Meio A

Festival de arte expõe obras de IA em meio a polêmicas – 30/07/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Com animações e instalações artísticas criadas por lucidez sintético para estimular a interação entre observador e obra, o Festival Internacional de Linguagem Eletrônica, ou File, explora neste ano a tecnologia que se tornou o mecha para revoltas da classe artística.

No ano pretérito, Hollywood parou por 118 dias quando roteiristas e atores protestaram contra a reutilização de seus textos e imagens pelos estúdios, que já usam a tecnologia. Na última quinta, o Sindicato dos Atores de Hollywood declarou uma novidade greve contra dez das maiores empresas de games dos Estados Unidos, por motivos similares. Enquanto isso, dubladores em todo o mundo se organizam para enfrentar contratos em que a repetição de vozes com uso de IA é prevista.

As águas são turvas também nas artes. No ano pretérito, o prêmio Jabuti, um dos mais importantes de literatura do Brasil, desclassificou um livro da competição depois deslindar que sua ilustração foi feita com IA. Nos Estados Unidos, pipocam processos de artistas contra empresas de IA, enquanto outros procuram a Justiça para validar porquê arte projetos constituídos com a tecnologia.

Ricardo Barreto, curador da File, está do lado daqueles que acreditam que uma pintura ou ilustração feitas com lucidez sintético não deixam de ser arte. “A arte sintética não é produzida só com a lucidez sintético. Sempre tem humanos dando o direcionamento. Ou seja, sem o humano não seria a arte”, diz.

Uma das instalações da mostra foi desenvolvida por ele, em que o observador é convidado a permanecer de pé entre três telões enormes que exibem animações psicodélicas feitas com IA, enquanto utiliza uma espécie de fone de ouvido com infravermelho. Ao encarar cada uma das telas, o áudio muda de contrato com o filme que se está olhando.

A teoria de Barreto era gerar uma possibilidade de cinema interativo que, segundo ele, deverá surgir no porvir. “[Hoje] O cinema é coletivo. Uma vez que fazer um cinema interativo e coletivo? Cá temos três telas, mas poderiam ser 30, e seria verosímil testemunhar simultaneamente todos os filmes”, diz.

Os hiperestímulos associados ao promanação de uma geração ansiosa estão na conta das redes sociais, diz Barreto. Mas o curador admite que, caso a IA inunde o entretenimento, será necessária uma “formação” de crianças, adolescentes e até adultos, para prepara-los para o mundo que estaria por vir.

A File também apresenta outras obras desenvolvidas a partir da tecnologia. É o caso de “Cascade”, de Marc Vilanova, em que cordas luminosas são penduradas em pequenos protótipos no teto, programados para repetir as ondas sonoras geradas por diversas cachoeiras —ainda que mais desenvolvida, a instalação parece um meneio aos artistas cinéticos da dezena de 1960. Ou, ainda, uma retrato quântica da carioca Gabriela Barreto Lemos, que provoca para os limites entre física e arte.

Outro trabalho exposto, dos arquitetos Hassan Ragab e Lukas Radavicius, é uma espécie de animação que mostra a mudança de um prédio em construção, que muda de forma de contrato com os “prompts” —comandos por voz ou escritos dados pela dupla. Ao abastecer a IA com referências arquitetônicas diversas, a tecnologia apresentou, simultaneamente, múltiplas possibilidades para aquela paisagem.

Um tanto similar ocorre em “The Forgettable Art Machine”, instalação em que a imagem do visitante diante de uma tela é transformada, em unicamente alguns segundos, em uma pintura de traços estilísticos diferentes —que poderiam ter sido pintados por um expressionista germânico ou um futurista russo, por exemplo. No momento seguinte, a imagem se desintegra para sempre.

“A IA não cria zero. Ela demonstra as variantes daquele tema”, diz Barreto, motivo pelo qual, segundo ele, não será verosímil que as maquinas fiquem independentes dos humanos. Mas o progresso da tecnologia é incontornável, ele diz, e outra distopia está reservada à humanidade. “Quem não mudar vai permanecer para trás e vai permanecer pobre. É aquela coisa inevitável.”

“Essa instrumento dispensa um monte de gente, mas será verosímil fazer coisas incríveis. O que vai mudar são as formas de trabalhar. Um filme desse dispensa atores, mas você constrói outros atores. Às vezes, através de atores. É um nível [tecnológico] que permite trabalhar mais a originalidade e dispensa o trabalho manual e braçal.”

À reportagem, ele diz, jornalistas serão sintéticos. “Mas por trás tem uma equipe enorme. As máquinas sozinhas, elas não sobrevivem, elas sempre vão depender do humano. É uma simbiose.”

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *