Em 1951, Berlim ganhou um festival de cinema para desafiar o isolamento soviético. “Rebecca”, de Alfred Hitchcock, foi uma das principais atrações, ainda que fosse um filme de 1940. Era o primícias da guerra fria, hoje reduzida a argumento de camelô em esquinas turísticas da capital alemã. Os pesadelos da política, no entanto, não largam a Berlinale, agora em sua 75ª edição.
“Das Licht”, de Tom Tykwer, abre o festival nesta quinta-feira (13). A luz do título em germânico entra na história de uma família disfuncional de Berlim por intermédio de uma governanta síria. Pais e filhos se reencontram graças a uma pessoa estranha, resume o diretor de “Corra, Lola, Corra”. Enquanto isso, a Alemanha discute francamente expulsá-los.
O período da mostra, com mais de 220 de filmes provenientes de 150 países, coincide com a reta final da eleição parlamentar alemã, marcada para 23 de fevereiro. No dia anterior, o júri presidido pelo diretor americano Todd Haynes aponta os premiados. O pleito era para ser em setembro, mas foi antecipado pela ruinoso da coalizão que governa o país.
Nas urnas, o fantasma é a AfD, o partido de extrema-direita, que caminha para fazer a segunda maior bancada do Bundestag. A Alemanha não foge do roteiro populista europeu, de problemas inventados e soluções drásticas. Fronteira fechada e a volta do marco germânico vão resolver o problema, diz a {sigla}. Na incerteza sobre o porvir, dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas nos últimos dois fins de semana.
O extremismo campeia também porque há uma crise econômica na Alemanha. Tricia Tuttle, diretora do festival, foi aplaudida na entrevista de apresentação do evento quando um repórter perguntou porquê ela conseguiu manter o orçamento de pé. Berlim cortou secção de seu subvenção, dentro de um pacote de austeridade do governo conservador da cidade.
Tuttle também teve que responder sobre a entrevista que deu ao Guardian, em dezembro, quando declarou que alguns profissionais da indústria estavam com receio de ir a Berlim. A Alemanha aprovou uma controversa solução que, para especialistas, iguala uma sátira à atuação de Israel em Gaza, por exemplo, a antissemitismo.
No ano pretérito, a premiação do festival, coalhada de manifestações sobre a situação dos palestinos, causou polêmica. Aplausos para a dupla que recebeu o prêmio de melhor documentário com um filme sobre o conflito, formada por um israelense e um palestino, foram condenados por políticos e boa secção da prensa. A ministra da Cultura do país, presente na premiação, se defendeu dizendo que aplaudiu, mas unicamente o israelense.
Tuttle afirmou que faz secção do trabalho guiar os visitantes pela sensibilidade alemã com Israel, mas também o caminho contrário, “lembrar que vamos ouvir todo tipo de perspectiva dissemelhante”.
Elas sobram no festival. Entre os 19 filmes listados na competição solene, “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, fala de um Brasil beirando o distópico, em que os idosos são mandados para colônias para que a produtividade do país aumente; uma mulher de 77 anos se rebela e decide fugir para a Amazônia. O filme, com Denise Weinberg e Rodrigo Santoro, traz Mascaro de volta à Alemanha seis anos depois de “Divino Paixão”, outra distopia.
O diretor brasílico terá possante concorrência, porquê Richard Linklater, de “Boyhood”, que apresenta “Blue Moon”, biografia músico sobre os últimos dias do compositor Lorenz Hart. Ethan Hawke, ator frequente em seus filmes, e Margaret Qualley encabeçam o elenco. Também na competição aparecem Jessica Chastain, em “Dreams”, de Michel Franco, e Marion Cotillard, em “La Tour de Glace”, de Lucile Hadzihalilovic.
Corroteirista de “Ida”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2013, Rebecca Lenkiewicz estreia na direção com “Hot Milk”, adaptação do livro de Deborah Levy.
As vestígios paralelas terão outras 11 produções brasileiras, porquê “A Melhor Mãe do Mundo”, de Anna Muylaert, que levou prêmio do público em 2015 por “Que Horas Ela Volta?”, e o documentário “Hora do Recreio”, de Lúcia Murat. A participação vernáculo dobrou em relação à edição do ano pretérito.
Berlim exibirá também produções já aguardadas pelo público, porquê “Um Completo Ignoto”, biografia de Bob Dylan protagonizada por Timothée Chalamet, e “Mickey 17”, novo filme de Bong Joon Ho, de “Verme”, com Robert Pattinson no papel de um sujeito que ganha a vida morrendo.
Em tempos de antissemitismo aflorado, também será mostrada uma traslado restaurada de “Shoah”, obra histórica de Claude Lanzmann, com mais de 9 horas de depoimentos de vítimas e perpetradores do Imolação. O filme completa 40 anos e é objeto de um documentário de Guillaume Ribot, que também está na programação do festival.
