Festival De Veneza Dá Chega Para Lá Em Discursos De

Festival de Veneza dá chega para lá em discursos de ódio – 07/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Os grandes festivais tinham uma desconcertante dívida com Pedro Almodóvar: laureado diversas vezes com troféus secundários, o espanhol ainda não tinha recebido um prêmio principal em Berlim, Cannes ou Veneza, os mais importantes festivais do mundo. Pois os italianos se encarregaram de emendar isso na premiação deste ano: “The Room Next Door”, seu primeiro longa em inglês, ganhou um relativamente justo Leão de Ouro.

Não é o melhor filme do cineasta, mas é um Almodóvar de muito elevado nível. Traz Julianne Moore no papel de uma escritora que ajuda uma velha amiga com cancro, vivida por Tilda Swinton, em seus dias finais. Ela lhe ajuda inclusive em sua eutanásia, em um filme muito muito orientado e que não tem o peso que a trama talvez faça parecer.

Há melancolia, mas há humor e uma grande fúria com um notório estado de coisas no mundo, que dá a esse filme uma vitalidade inesperada —uma pujança de combate. É uma obra altamente política, que faz uma cáustica estudo do mundo atual, com canhões voltados sobretudo a ideias reacionárias.

De notório modo, o tema também surgiu no brasílico “Ainda Estou Cá”, de Walter Salles, que ganhou o prêmio de melhor roteiro, reconhecimento ao trabalho de Murilo Hauser e Heitor Lorega —o primeiro troféu veneziano em décadas a ir para um longa vernáculo.

Ao narrar a história do desaparecimento e morte do ex-deputado Rubens Paiva, no primórdio dos anos 1970, por ordem do governo militar, o filme é um libelo contra todo tipo de truculência de governos autoritários e conservadores. Traz de volta esse pretérito para que ele não seja revivido na prática.

A tônica do festival foi muito essa: um chega para lá do progressismo em pensamentos e atitudes com origem no ódio. Ecoou o tema da Bienal de Artes de Veneza, organizada pela mesma instauração Biennale, deste ano: “Stranieri Ovunque”, ou estrangeiros em todos os lugares, frase que se refere tanto ao trajo de que, no mundo global de hoje, é inevitável encontraremos pessoas estrangeiras em qualquer sítio que formos. Ao mesmo tempo em que nós mesmos também sempre seremos estrangeiros ao sairmos de nosso lugar natal.

“Jouer avec le Feu”, das francesas Delphine e Muriel Coulin, fala sobre supremacistas brancos na França atual e deu a Vincent Lindon o prêmio de melhor ator, na pele de um pai que se desespera ao perceber que seu fruto mais velho se uniu a um grupo neonazista, cometendo violência contra imigrantes.

Outro premiado, o também gaulês “Leurs Enfants Après Eux”, trazia temática semelhante: Paul Kircher, vencedor do prêmio Marcello Mastroianni para atores iniciantes, vive um rapaz em eterno conflito com outro de origem mouro. E o tema apareceria também em “The Order”, do australiano Justin Kurzel, que não recebeu prêmios, mas que também falava de xenofobia.

Vencedor do troféu de melhor direção, “The Brutalist”, do americano Brady Corbet, louva o papel de imigrantes na construção de um país, a partir da trajetória de um arquiteto húngaro que migra para os Estados Unidos posteriormente a Segunda Guerra. E o ganhador do Grande Prêmio fo Júri, “Vermiglio”, da italiana Maura Delpero, se passa em um vilarejo no setentrião da Itália onde a questão também é tangenciada.

E a situação feminina não foi esquecida, surgindo com força na resguardo do recta ao monstruosidade exposta no pungente “April”, da georgiana Dea Kulumbegashvili, que saiu de Veneza com o Prêmio Privativo do Júri. Foi um dos filmes mais comentados no boca a boca.

E também surgiu em “Babygirl”, da holandesa Halina Reijn, que propiciou a Nicole Kidman aquela que talvez seja a maior atuação de sua estupendo curso, rendendo-lhe um merecido o prêmio de melhor atriz. No longa, ela dá vida a uma bem-sucedida diretora de uma empresa de robótica que se envolve com um estagiário muito mais novo. Ela finalmente pode dar vazão a seus sonhos eróticos que não teve coragem de treinar com o marido esgar. Nunca é tarde para alguém requerer para si o recta a ter prazer.

E não se pode olvidar da sátira à idolatria a figuras carismáticas, mas que pregam o ódio, habilmente exibida em “Coringa: Delírio a Dois”, de Todd Phillips, que pode ter pretérito sem prêmios pelo evento, mas que trouxe um invitação para uma reflexão importante, em um filme com potencial de se exprimir com um grande público.

A mensagem universal desta 81ª edição, percebe-se, foi a de resistência contra o progresso da intolerância nos quatro cantos do mundo. A extrema-direita pode estar ganhando território em eleições locais, mas Veneza mostra que a arte promete ser um campo privilegiado de resistência a esse movimento.

Folha

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