O festival É Tudo Verdade, maior evento devotado ao cinema documental no Brasil, anunciou neste sábado a seleção de filmes para a sua 30ª edição. Serão exibidas 85 produções de 30 países dos dias 3 a 13 de abril, em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Para dar a largada ao festival foram escolhidas duas produções sobre grandes artistas brasileiras. No Rio de Janeiro, a rombo será com “Viva Marília”, sobre a atriz Marília Pêra, morta em 2015. Assinado por Zelito Viana, o filme é narrado em primeira pessoa e traz imagens inéditas de uma das maiores artistas da dramaturgia pátrio.
Já em São Paulo será exibido “Ritas”, um retrato da rainha do rock, Rita Lee, dirigido por Oswaldo Santana. O longa terá uma entrevista exclusiva com a cantora, arquivos pessoais e gravações feitas por ela no celular.
“Hoje há uma grande produção de documentários para streaming e duas correntes são as mais populares: true transgressão e retratos de artistas. Mas o melhor dessa produção é feita para o cinema, com filmes muito mais criativos”, diz Amir Labaki, fundador do É Tudo Verdade.
As biografias de artistas aparecem também na competição internacional, com “Estrada Azul: A História de Edna O’Brien”, sobre a romancista que teve suas obras proibidas na Irlanda nos anos 1960, e “O Propagandista”, um retrato de Jan Teunissen, cineasta holandês que foi gerente do departamento de cinema dos nazistas.
Já na competição pátrio são exibidos “Bruscky: Um Autorretrato”, sobre o artista pernambucano, e “Lan: O Caricaturista”, que conta a história de Lanfranco Veselli, um dos mais importantes chargistas da América Latina.
Além das biografias, predomina entre os filmes brasileiros o tema da arquitetura e da presença humana em espaços que resistem à devastação. É o caso de “Copan”, que mostra o dia a dia no prédio projetado por Oscar Nyemeyer no coração de São Paulo para indicar as contradições da cidade.
O documentarista Vladimir Roble, morto em outubro, será o grande homenageado desta 30ª edição do festival. O papeleta do evento mostra uma foto sua durante as filmagens de “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, considerado um dos documentários mais importantes produzidos no Brasil.
Além de “Cabra Marcado para Morrer”, serão exibidos nove documentários dirigidos por Roble, entre eles “O País de São Saruê”, considerado o seu trabalho mais importante, um mergulho no varão nordestino e suas relações de trabalho, e “Rock Brasília”, sobre porquê a margem Legião Urbana revolucionou a música pátrio. Foram Roble e Coutinho que inspiraram a geração do festival há 30 anos, conta Labaki. Os dois se queixavam da dificuldade em exibir suas produções nas salas comerciais.
O homenageado internacional será Humphrey Jennings, publicado por produções sobre a Segunda Guerra. A escolha conversa com outro tema que se sobressai na competição internacional: o aumento de regimes e sistemas autoritários. “Estamos em um mundo em chamas. É um jeito de festejar quem está filmando esses conflitos hoje”, afirma Labaki.
Destacam-se “Sob as Bandeiras, o Sol”, com imagens raras da ditadura no Paraguai, “Crônicas do Paradoxal”, que compila gravações clandestinas feitas em Cuba e “A Liberdade de Ferro”, sobre um varão que é libertado depois anos de reclusão em uma prisão no Texas, onde aguardava a sua sentença de morte.
A crise climática também permeia a seleção deste ano. Exemplo é “Petra Kelly: Haja Agora!”, longa sobre a história de uma das fundadoras do Partido Virente teuto, ou “Rua do Pescador, nº6”, um retrato das comunidades afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
- “A 2000 Metros de Adriivka”, de Mstyslav Chernov
- “Culpar”, de Christian Frei
- “Crônicas do Paradoxal”, de Miguel Coyula
- “Em Procura de Amani”, de Nicole Gormley e Debra Aroko
- “Escrevendo Hawa”, de Najiba Noori
- “Estrada Azul – A História de Edna O’Brien”, de Sinéad O’Shea
- “A Invasão”, de Sergei Loznitsa
- “O Jardineiro, o Budista e o Espião”, de Havard Bustnes
- “A Liberdade de Ferro”, de Santiago Esteinou
- “Meus Fantasmas Armênios”, de Tamara Stepanyan
- “O Propagandista”, de Luuk Bouwman
- “Sob as Bandeiras, o Sol”, de Juanjo Pereira
- “Bruscky: Um Autorretrato”, de Eryk Rocha
- “Copan”, de Carine Wallauer
- “Lan – O Caricaturista”, de Pedro Vinícius
- “Mundurukuyü – A floresta das mulheres peixe”, de Aldira Akay, Beka Munduruku e Rylcélia Akay
- “Um Olhar Inquieto: O Cinema de Jorge Bodanzky”, de Liliane Maya e Jorge Bodanzky
- “Quando o Brasil era Moderno”, de Fabiano Maciel
- “Rua Pescador nº6”, de Bárbara Silêncio