Filha De Shyamalan Dirige Suspense A Partir De Trauma

Filha de Shyamalan dirige suspense a partir de trauma – 08/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Que o traumatismo se tornou um commoditie ao cinema de horror mercantil nos últimos cinco ou dez anos é bastante evidente. Filmes do gênero nos mais variados tipos e estilos buscam nas dores do pretérito dos personagens os caminhos para alguma legitimação de enredo que os aproxime de uma suposta empatia, de modo a fazer a trama caminhar na base da identificação imediata com secção do público.

No fetiche nostálgico de um “Halloween” à catarse de “Midsommar”, ambos em 2018, ou na atualização de imaginários de “O Varão Invisível” em 2020, ou portanto nas monstruosidades de “Sorria” e “Fale Comigo” em 2022, em todos há uma espécie de “privatização do traumatismo”, pela qual superar os próprios fantasmas soa mais urgente do que encarar a figura ameaçadora no simples trajo de ela ser a disrupção particularidade das histórias sinistras.

Nesse sentido, “Os Observadores”, estreia de Ishana Night Shyamalan na direção de cinema, equilibra tratar os traumas da protagonista, que permanecem ocultos por boa secção da narrativa, e mourejar com as ameaças misteriosas que atentam contra o grupo só numa vivenda no meio de uma floresta na Irlanda. Em certa medida, a diretora e roteirista demonstra consciência de que o traumatismo, hoje, vende muito muito no gênero, mas ela não parece totalmente satisfeita com isso. Sua sofreguidão é maior. Por mais que o filme desemboque numa solução de afetos pessoais, tensionados a todo momento, é na perspectiva coletiva que Mina, vivida por Dakota Fanning, toma as decisões a movimentar os mecanismos do roteiro.

Isso faz uma grande diferença na mortificação de “Os Observadores” em relação a títulos similares recentes que buscam nos sofrimentos íntimos uma maneira por vezes simplória de provocar angústia. Mina tem seu traumatismo, mas o efeito no comportamento é o contrário da sonolência e compaixão. Ela é continuamente desafiada a obedecer, o que tem por consequência justamente a indisciplina da qual a mancha do pretérito não a paralisa. Os estranhos fenômenos enfrentados por ela são, antes de tudo, manifestações indefinidas colocadas ao casualidade no caminho, e não alegorias de seu interno machucado. A teoria de duplicidade que a certa fundura se torna importante em “Os Observadores” reforça o sentido de que Mina, ao seu modo, é única e um.

Ishana é filha de M. Night Shyamalan, cineasta indiano naturalizado nos EUA que foi sucesso popular em 1999 com “O Sexto Sentido”. Desde portanto, sua obra divide opiniões entre quem o veja uma vez que um grande rabi contemporâneo e quem o acha uma promessa frustrada. Pouco interessado na celeuma, Shyamalan faz alguns dos melhores filmes de terror e suspense em Hollywood e ainda se dá ao luxo de assinar a produção do primeiro trabalho em tela grande da filha. Ishana é só um pouquinho mais jovem que o rebento mais famoso do cineasta, justamente “O Sexto Sentido”, o que significa que sua vida foi pautada pelos efeitos das escolhas imaginativas do pai.

Porquê diretora, ela conduziu alguns episódios da perturbadora série “Servant”, disponível na Apple TV, e foi assistente de Shyamalan em “Tempo”, de 2021, e “Batem à Porta”, de 2023. Com o luxo técnico e a formação pessoal oferecidos pelo pai, Ishana faz em “Os Observadores” um filme de grande elegância visual, que emula sem pudores o estilo paterno ao mesmo tempo em que tenta encontrar caminhos próprios. Os mistérios são mais etéreos, a atmosfera se assemelha a um manente sonho e o tom de raconto de fadas —por vezes literalmente— chega a ser explícito em referências diretas a “Alice no País das Maravilhas”.

Muito disso vem do romance de A. M. Shine cá apropriado, mas é Ishana quem define o tom comedido. Ela acumula os acontecimentos frenéticos da história de Shine numa estrutura dramática e visual desapressada e reflexiva. É uma vez que se Ishana retomasse a oralidade fabular de “A Mulher na Chuva”, um dos filmes mais maltratados na curso do pai, sob a perspectiva de referenciais históricos encontrados em Alfred Hitchcock —mormente “Um Corpo que Cai” e “Os Pássaros”— e em contemporâneos uma vez que o Jordan Peele de “Nós”. Entre o pretérito e o presente, a diretora fica num caminho do meio. Se não exibe zero muito inédito, nem exatamente surpreendente, o filme é poderoso o suficiente para deixar marcas e se evidenciar no cenário do horror e fantasia.

Folha

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