Filme De Davi é Propaganda Ruim E Difícil De Engolir

Filme de Davi é propaganda ruim e difícil de engolir – 10/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Antes de tudo, é preciso lembrar que “Davi: Um Faceta Generalidade da Bahia” não é um documentário no sentido jornalístico. É uma peça promocional da grande máquina que é o Big Brother Brasil, resultado de maior faturamento hoje na Orbe.

O objetivo de seus produtores é confirmar que o público estava enroupado de razão ao dar ao baiano Davi Brito o prêmio final de R$ 2,9 milhões. Se outro tivesse sido o vencedor, outro seria o documentário —o importante é provar que “a voz do povo é a voz de Deus”.

Por outro lado, é preciso lembrar que o jovem baiano de somente 21 anos é o primeiro vencedor do reality a merecer um documentário no Globoplay desde a campeã de 2021, Juliette —o ator Arthur Aguiar e a médica Amanda Meirelles, vencedores das últimas edições, não tiveram suas trajetórias contadas.

Qual o motivo? A resposta está na termo “representatividade”. Juliette uma vez que uma mulher nordestina, Davi uma vez que um varão preto e nordestino de origem muito humilde.

Difícil é engolir os caminhos e escolhas que a direção tomou para racontar essa história. O filme abre com a comoção que a iminente vitória de Davi causou nas ruas de Salvador no dia da final —e aí a direção trata de nos convencer de que o clima era da mesma proporção que uma final do Brasil na Despensa do Mundo.

Depois, o filme procura de forma enviesada as razões que fizeram o público se encantar com o comportamento de Davi no jogo.

Se até nas edições diárias do BBB se notava um inevitável direcionamento da edição para proporcionar um ou outro participante, cá a coisa é escancarada. Sobram imagens de Davi chorando e sofrendo contra a injusta hostilidade da maioria da vivenda, pensando em jogar a toalha e estreitar o botão para transpor, derrotando um oponente em seguida o outro nos paredões.

A obra deixa de lado, porém, os aspectos mais polêmicos de sua figura, uma vez que seu comportamento manipulador na hora de combinar votos com os amigos mais próximos, o provável excesso no pedido de expulsão de Wanessa Camargo ou seu machismo latente —os xingamentos de “viado” numa discussão na vivenda são logo desculpados uma vez que “um pouco incorrecto que eu aprendi e não repeti mais”.

A frieza com que foi recebido pelos demais participantes ao transpor da vivenda no último dia deve ter feito os produtores optarem por incluir depoimentos de somente dois de seus amigos mais próximos, os finalistas Matteus e Isabelle. Resumindo, Davi estava longe de ser uma unanimidade do público —em todo caso, muito menos que Juliette— e isso não transparece.

Outra opção duvidosa é o tempo imenso que o filme dedica a enaltecer a Bahia com todos os estereótipos possíveis —terreno de gente feliz, agitada, divertida, enxurrada de gírias e expressões próprias, e, ao mesmo tempo, potente, altiva, batalhadora.

Baianos uma vez que o ator Luís Miranda e a influenciadora Maíra Azevedo, a tia Má, dão importantes depoimentos sobre uma vez que a vitória de Davi é um soco na face do racismo estrutural e do preconceito de classe.

Mas junto a eles evocam a tropa da música popular baiana —Ivete Sangalo, Leo Santana, Xanddy Simetria, Márcio Vito, Carla Perez— para enaltecer Davi uma vez que um legítimo baiano. Até uma desnecessária Carolina Dieckmann aparece para racontar por que torceu pelo vencedor.

Pior ainda são os trechos em que um ator reencena momentos da história de vida de Davi, vendendo picolé num ônibus ou no primeiro “date” com Mani Reggo, sua ex-namorada. Os últimos minutos do documentário são dedicados a explorar o término da relação, que se deu ainda na vaga avassaladora do BBB.

Depois de hesitar na vivenda entre definir a relação uma vez que namoro ou matrimónio, Davi declarou no Mais Você que eles “ainda estariam se conhecendo”, o que desagradou Reggo e fez os dois promoverem uma DR pública por meio de posts nas redes —mais uma vez alimentando a máquina do programa e fazendo disparar o número de seguidores dela.

O filme frustra o fã ao promover o reencontro dos dois para uma conversa pacífica, mas sem penetrar o áudio da conversa, respeitando uma decisão dos dois.

Se o resultado do filme é ruim, sobra a figura de Davi, um rapaz muito pobre e trabalhador, que trabalhou em diversos bicos para ajudar a família desde muito novo e hoje, graças a um reality show, volta a sonhar em estudar e se formar médico.

Talvez o maior acerto de “Davi: Um Faceta Generalidade da Bahia” seja a maneira uma vez que filma esse face geral dando seu prova ao documentário, sentado de forma frontal, encarando o testemunha feliz, esperançado e referto de esperança no horizonte, uma vez que se estivesse sentado numa poltrona da sala de vivenda do testemunha.

Num país em que até pouco tempo detrás o preto só aparecia na TV jogando futebol, cantando ou servindo os protagonistas brancos das novelas, essa é uma imagem que guarda em si um notável progressão.

Folha

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