Fim Do Trabalho Escravo Exige Novas Políticas, Dizem Especialistas

Fim do trabalho escravo exige novas políticas, dizem especialistas

Brasil

O Ministério do Trabalho e Ocupação (MTE) admite que o término do transgressão de exploração de mão de obra em condições análogas à escravidão no Brasil depende de ações mais abrangentes do que o combate que vem sendo feito há 30 anos.

Em nota, o MTE diz que a erradicação do trabalho servo contemporâneo no país exige “pronunciação com a sociedade social” e “um conjunto de iniciativas estruturais em áreas porquê ensino, saúde e serviço, que complementem as ações repressivas e de resgate, visando à construção de um país mais justo”.

O repto se torna maior quando são consideradas mudanças permanentes nas formas de trabalho em diferentes cadeias produtivas. Uma evidência das transformações recentes é o traje de que setor com mais trabalhadores resgatados em 2024 é tipicamente urbano: 293 pessoas do totalidade de 2.004 resgatados atuavam na construção social (14,6%). Historicamente, o trabalho servo é sempre associado à exploração em zona rústico.

O diagnóstico do MTE sobre as dificuldades para pôr término a essa forma de exploração se assemelha ao de especialistas de diferentes instituições públicas e da sociedade social que participaram de duas mesas-redondas organizadas pelo próprio ministério na última terça-feira (28), Dia Vernáculo do Auditor-Fiscal do Trabalho e Dia Vernáculo do Combate ao Trabalho Servo.

Informação e prevenção

Na avaliação do procurador Luciano Aragão Santos, diretor-geral do Ministério Público do Trabalho (MPT), a fiscalização dos auditores do Ministério do Trabalho “funciona”, pois, efetivamente, nas últimas três décadas, “tem retirado trabalhadores de condições análogas à escravidão”.

No entanto, “a fiscalização não é suficiente, e nunca vai ser”, para ultimar com a forma moderna de trabalho servo. Para Santos, é necessário ir além da repressão. “Nós temos que prevenir. E, quando vou falar de prevenção, sabor de falar de dados. Nós precisamos ter dados para tomar decisões. E, perdão, vou me emendar: nós precisamos ter informação.”

Segundo o procurador, das 63 milénio pessoas resgatadas até 2023 (um ano antes do balanço mais recente) 17,1 milénio não estavam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do governo federalista (CadÚnico). Ou seja, essas pessoas, ainda que resgatadas do trabalho servo, permaneciam fora do alcance de diferentes programas de assistência social, inclusive do Bolsa Família.

Para o frade dominicano Xavier Plassat, da Percentagem Pastoral da Terreno (CPT), há “uma certa inadequação da capacidade” do sistema assistencial para atender as vítimas de trabalho servo depois do seu resgate e também para fazer prevenção contra a reincidência.

“Se não houver esse atendimento, haverá, sim, perenidade do ciclo” e pessoas hoje resgatadas estarão novamente expostas a serem exploradas. Plassat acrescenta que o quadro é agravado porque as políticas públicas para erradicação do “continuam tímidas e subfinanciadas”.

Vulnerabilidade


Trabalho escravo
Trabalho escravo

No campo, três quartos dos trabalhadores têm ocupação somente no período de colheita de algumas culturas – Ministério Público do Trabalho – Divulgação

Dados apresentados na mesa-redonda do MTE pela advogada Laíssa Pollyana do Carmo, que trabalha para a Confederação Vernáculo dos Trabalhadores Assalariados e Assalariadas Rurais (Relatar), mostram é provável antever quem são os trabalhadores mais vulneráveis à exploração.

De tratado com Laíssa, dos 4 milhões de trabalhadores assalariados rurais em todo o país, 60% estão na informalidade (2,4 milhões de pessoas). Nos estados da Bahia e do Ceará, Maranhão, Pará e Piauí, a média de informalidade é ainda maior: oito de cada dez não têm carteira de trabalho assinada e não estão protegidos pela legislação trabalhista.

Três quartos dos trabalhadores têm ocupação temporária, isto é, só conseguem ocupação em momentos específicos do ciclo produtivo, porquê a colheita da safra de algumas culturas. Assim só têm remuneração porquê trabalhadores rurais assalariados em secção do ano, períodos que podem ser de até três meses.

Seis de cada dez trabalhadores assalariados rurais moram no campo e quatro vivem na periferia das cidades, onde as condições de moradia são mais precárias. Boa secção desses trabalhadores tem baixa escolaridade, 11% são analfabetos e 24% sabem ler, mas não ultrapassaram três anos de estudo.

Novas dinâmicas de exploração

Nas três décadas de combate ao trabalho servo pelo MTE, 65.598 pessoas foram resgatadas em 8.483 ações fiscais. A organização não governamental (ONG) Repórter Brasil conseguiu esboçar o perfil de 85% dos trabalhadores resgatados e as rotas de imigração dessa força produtiva e, com isso, perceber alterações no quadro de exploração.

“A gente sempre dizia: ‘os maranhenses são os principais trabalhadores a serem resgatados, e o principal lugar de resgate é o Pará’. Se a gente pega a série histórica, sim, os maranhenses no Pará respondem por 36% de todos os trabalhadores resgatados, 53% deles estavam na pecuária. Só que, quando a gente pega os últimos cinco anos, vê que a maior secção dos trabalhadores está saindo da Bahia e indo para Minas Gerais, 42% deles [para trabalhar] nas lavouras do moca”, diz coordenadora de projetos da ONG Repórter Brasil, Natália Suzuki.

Para Natália, as dinâmicas do trabalho servo mudam muito depressa, e a política pública precisa ter a mesma velocidade. Assim, quem atua contra essa forma de exploração tem que fazer “trabalho de lucidez” e se antecipar. “A gente não pode pensar só em medidas reparadoras depois que o problema acontece. [A atuação] tem que ser preventiva.”

Monitoramento e reparação

Natália Suzuki defende medidas que evitem que, nas diferentes cadeias produtivas, o trabalho servo continue sendo uma peça, uma escolha porquê protótipo de produção.

A advogada Laíssa Pollyana do Carmo é favorável a um melhor comitiva das cadeias produtivas e considera “de extrema prestígio” cobrar responsabilidade de todas as empresas envolvidas no processo de transformação de matérias-primas em produtos finais.

De tratado com Laíssa, os trabalhadores mais vulneráveis à exploração porquê mão de obra escrava estão em “cadeias produtivas riquíssimas e exportadoras”, porquê a pecuária, as lavouras de cana-de-açúcar, soja, moca, milho, horticultura, frutas, lavouras temporárias e produção florestal.

O procurador Luciano Aragão Santos assinala que, na ponta das cadeias produtivas, “as grandes indústrias desses setores não monitoram, não estão preocupadas com violação dos direitos humanos cometida por quem fornece o seu insumo, a material prima para o seu resultado industrializado.”

A inércia muda, no entanto, quando o Ministério do Trabalho e Ocupação divulga a lista suja de quem explora formas modernas de trabalho servo. Conforme o procurador, “na hora”, a indústria corta relações comerciais com o fornecedor indicado, mas não se responsabilizam pelo que ocorria antes.

“É preciso que tais empresas adotem medidas para monitorar essa calabouço produtiva, para prevenir violação de direitos humanos”, diz Aragão, que defende que quem compra matéria-prima e outros insumos estabeleça contratualmente fiscalização efetiva. “Não basta suspender a compra, a gente tem que buscar a reparação.”

Fonte EBC

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