Levantamento do cnj aponta que 30% dos presídios não têm

Fiocruz: estudo reduz riscos do tratamento contra leishmaniose cutânea

Brasil

Estudo desenvolvido na Instauração Oswaldo Cruz (Fiocruz) abre novidade perspectiva de tratamento e trato para pacientes com leishmaniose cutânea, com altos níveis de evidência científica. A doença, transmitida pela picada de um inseto que se alimenta de sangue, tem tratamentos antigos e que podem ser tóxicos para o coração, fígado e pâncreas.

“A grande luta da gente nesse trabalho é que não faz sentido que pessoas venham a falecer por tratamento de uma doença que habitualmente não mata. E o que a gente tem para tratar são esses remédios muito tóxicos”, explicou à Sucursal Brasil o dermatologista Marcelo Rosandiski Lyra, pesquisador do Laboratório de Pesquisa Clínica e Vigilância em Leishmanioses do Instituto Vernáculo de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz. O profissional destaca que mesmo para aquele paciente que não venha a óbito, as complicações do tratamento convencional são muito grandes. “Porque o paciente também sofre o tratamento, tem dor muscular, dor de cabeça. Pode ter uma série de complicações relacionadas ao tratamento mesmo”.

Coordenado no Rio de Janeiro por Lyra, o estudo propõe uma mudança no tratamento para leishmaniose cutânea, substituindo o tratamento convencional por intralesional, ou seja, com emprego do remédio na própria lesão. No Rio, foram sorteados dois grupos de pessoas com leishmaniose cutânea que foram tratados de forma dissemelhante e monitorados durante dois anos. “Monitoramos durante esse período todos os efeitos que eles tiveram e o doente volta ao ambulatório diversas vezes. Ele é visto com muito desvelo”. Segundo Lyra, o trabalho mostrou uma força de evidência muito grande. “Ele foi capaz de provar que é um tratamento em termos de eficiência de 83% de trato, enquanto o tratamento convencional tem 68%. E em termos de segurança e subtracção de efeitos colaterais, foi goleada”.

O estudo contou com esteio de várias instituições, uma vez que a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade de Brasília (UNB), a Faculdade de Medicina Tropical de Manaus, a Universidade Federalista de Mato Grosso (UFMT) e a Universidade Federalista de Mato Grosso do Sul (UFMS), entre outras, o que, para Marcelo Lyra, é importante  para dar um caráter pátrio aos resultados.

Doença tropical

A leishmaniose é uma doença causada por protozoários pertencentes ao gênero Leishmania e transmitida pela picada de um inseto hematófago [que se alimenta de sangue] da família dos flebótomos, divulgado popularmente, entre outros nomes, uma vez que mosquito-palha. A leishmaniose é uma doença que ocorre nas regiões tropicais, em países em desenvolvimento, e pode descompor a espécie humana e outros animais.

Existem dois tipos de leishmaniose, a cutânea ou tegumentar, que provoca feridas na pele e mucosas, e a visceral, que acomete órgãos internos e tem uma vez que principal hospedeiro o cão. Não há, todavia, transmissão direta entre pessoas e pessoas e cães. A leishmaniose visceral é uma doença extremamente grave. “Se a pessoa não tratar, morre até 90% sem tratamento, porque pega os órgãos internos”, explicou Lyra. Já a leishmaniose cutânea pode pegar, além da pele, mucosas do nariz, da boca. “É uma doença grave porque, às vezes, o paciente faz lesões desfigurantes, faz feridas muito grandes na pele. Mas, embora seja desfigurante nos casos mais graves, a doença não costuma ser mortífero. É uma doença que tem seriedade, tem impacto social importante, mas dificilmente a pessoa vai morrer em decorrência dessa doença”.

Manual

O último manual do Ministério da Saúde que regula as normas de tratamento da leishmaniose é de 2017. Um novo manual deverá trespassar até 2025. O anterior já incluía o tratamento intralesional, mas ainda com muitas restrições, indicado somente para lesões muito pequenas e únicas. Lyra deseja ver incluído no manual o novo tratamento para lesões maiores, em pacientes com número maior de lesões. “Porquê era muito restrito (no manual anterior), aquilo praticamente ninguém fazia. Ampliando as recomendações, a gente vai contemplar um número maior de pessoas”.

Para o pesquisador, em termos de saúde pública, é positivo ver mais gente usando o tratamento intralesional, já que diminui a mortandade e os efeitos colaterais. “O tratamento é mais barato porque, uma vez que é feito direto sobre a lesão, acaba que a quantidade de remédio disposto é em torno de 10% a 15% do que se faz em um tratamento convencional. Além de tudo, é uma economia. É tudo que o Ministério da Saúde queria: tem um remédio que é mais barato, mais seguro, tão ou mais eficiente. Já o tratamento convencional não reverte em benefícios para ninguém”.

O trabalho do dermatologista e pesquisador da Fiocruz foi premiado no 76º Congresso Brasiliano da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O item científico “Um Experimento Randomizado, Controlado, de Não Inferioridade e Multicêntrico de Tratamento Sistêmico vs Intralesional com Antimoniato de Meglumina para Leishmaniose Cutânea no Brasil”, foi também considerado uma das dez publicações mais importantes na espaço de doenças parasitárias no Congresso Europeu sobre Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ECCMID), ocorrido recentemente em Barcelona, Espanha. O estudo foi reconhecido por minimizar os efeitos colaterais do tratamento convencional da leishmaniose e, portanto, evitar mortes, reduzir morbidade e ainda com um dispêndio mais grave. O trabalho foi publicado em 2023 na revista Clinical Infect Disease, especializada em doenças infecciosas. As premiações, segundo Marcelo Lyra, dão credibilidade para fazer no país as mudanças necessárias.

Lyra lamentou que não haja interesse de grande segmento da comunidade internacional sobre o tema porque se trata de uma doença de países pobres, até porque esse tipo de tratamento não reverte em numerário para ninguém. Reverte para a saúde pública ao diminuir custos. Porquê não se vai vender remédios ou vacinas, o tema não possui grandes fomentadores desse tipo de pesquisa, explicou.

Paciente

Fernando Correa Losada, engenheiro social e jurisperito, 65 anos, foi guiado para a Fiocruz, por intermédio do Serviço de Epidemiologia Municipal, em setembro de 2023, com suspeita de leishmaniose. Ele apresentava lesão ulcerada no dorso da mão esquerda sem dor ou prurido. Foi feito uso de antibioticoterapia, sem sucesso médico. Na consulta realizada no mês seguinte na Fiocruz, Marcelo Lyra fez a única biópsia que confirmou a doença.

Posteriormente o resultado positivo, o tratamento de Losada começou em 6 de novembro do ano pretérito. Porquê ele tem bloqueio de ramo esquerdo do coração, fez tratamento intralesional, porque o tradicional era contraindicado. “A resposta foi supimpa”, garantiu o paciente.

Ele informou que no último examinação de sorologia para leishmaniose, realizado no início de fevereiro deste ano, o resultado foi não reativo. “Estou curado”, comemorou Losada. O comitiva que terá que fazer engloba consultas e exames de sangue, com intervalos maiores.

Fonte EBC

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *