Quantas histórias cabem nos muros invisíveis? Alunos da rede pública e privada de Paracatu foram instigados a dar respostas à essa pergunta. Em seguida visitar a mostra Muros Invisíveis: Professores Negros, eles foram convidados a desenvolver uma fanfic, ou seja, inventar histórias a partir de outras já existentes. A teoria era revelar talentos, além de promover o palato pela leitura e pela escrita.
A premiação ocorreu nesta manhã de sábado (31), dentro da programação do Festival Literário Internacional de Paracatu, e celebrou os vencedores das categorias de esboço e redação. Foram 18 vencedores, nas seis categorias do concurso.
Bárbara Kamyllia Tenório, de 17 anos, ficou com o primeiro lugar na categoria de estudantes de 15 a 18 anos. Ela está no terceiro ano do ensino médio e estuda na Escola Estadual Neusa Pimentel Barbosa. Sua redação recebeu o título “Uma imprescindível mulher”.
“Eu fiquei muito surpresa com o primeiro lugar. Eu sabia que eu tava no pódio, mas não imaginava que seria logo o primeiro. Eu escrevi sobre uma professora negra e sobre quebrar muros, quebrar barreiras. Porque ser preto no Brasil é muito difícil, por justificação do nosso histórico, e ter forças para quebrar os muros, uma vez que a gente viu na exposição, é muito bonito”, fala.
A professora de português, redação e literatura Kélia Nunes Rabelo, acompanhou o processo da Bárbara e disse que foi muito difícil selecionar o texto, tamanha qualidade dos textos produzidos.
“Nós visitamos a exposição, fizemos uma lição ao ar livre e ficamos surpreendidos com a qualidade dos nossos alunos. Desde o início, estávamos confiantes no primeiro lugar, porque a redação da Bárbara ficou muito boa, original, criativa e acho que cumpriu com o propósito do concurso”.
Com o título “A heroína da ensino”, Andressa Gabrielly, da Escola Estadual Altina de Paula Guimarães, conquistou o terceiro lugar da categoria de 12 a 14 anos. Ela gosta de ler, redigir e já participou de outros concursos de redação. “Eu usei a professora Laisa uma vez que personagem principal e o super poder dela é do conhecimento e da ensino. Os professores podem não ter o poder da invisibilidade, ou de voar, mas passam todo o conhecimento que eles têm”.
A diretora da escola da Andressa, Sueli Batista Gomes, acredita que o escora da escola, da professora e da família foram fundamentais. Para ela, o que fica do Fliparacatu, é “inumerável na cultura, conhecimento, arte que é levada às crianças e adolescentes”.
A segunda edição do Prêmio de Redação teve 44 desenhos inscritos e 47 redações. Muro de 32 milénio alunos forem envolvidos. Os primeiros lugares receberam premiações em numerário de R$ 300, R$ 500 e R$ 1 milénio. A percentagem julgadora foi composta pelo jornalista Cláudio Oliveira, a historiadora Helen Ulhoa Pimentel e os professores José Ivan Lopes e Vinícius Sossego de Araújo.
Muros invisíveis
Com curadoria das líderes quilombola, Rose Patriarca e Kassius Kennedy, a mostra homenageia 21 professores negros da rede pública de Paracatu. A exposição é realizada pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais, através da promotora de Paracatu, Mariana Leão.
Selma Patriarca dos Anjos Silva, uma das escolhidas, afirma que foi indescritível participar e conta que foi maravilhosos racontar a sua história, o racismo sofrido. Para ela, é um projeto que vai mudar a história de Paracatu e do povo preto.
“Ser convidada foi uma surpresa. Porque, geralmente não se homenageia professores, e ainda mais professores negros, com uma história generalidade e, para a maioria, uma história sem preço. Senti que seria uma forma de nos mostrar para a sociedade e que a gente pode tudo. E também homenagear os nossos avós. A sensação que a gente tinha, na inauguração, é que tinha várias e várias gerações ali conosco”.
Selma dá aulas para o ensino infantil e fundamental na escola municipal Maria de Trindade Rodrigues, na zona Rústico de Paracatu. A escola do Jean Carlos dos Reis Silva, de 11 anos, vencedor da categoria PCD com um esboço onde ele retratou alunos de mãos dadas, com a professora. Jean disse que está “muito feliz” com o prêmio e que pretende continuar desenhando.
Para Selma, ter a história recontada pelos alunos foi muito privativo. Em uma delas, foi retratada uma vez que uma vez que uma princesa; em outra, foi comparada a Carolina Maria de Jesus. Por término, ela lembra ainda que uma das alunas, de cinco anos, viu a foto na mostra e perguntou: tia, a senhora é negra? E Selma respondeu, “sim, somos, você também é negra? Ela olhou pra mim e disse: uai, eu sou da cor da senhora, logo eu sou, né?”.
Conceição Evaristo, que começou a curso uma vez que professora infantil no Rio de Janeiro, disse que concursos uma vez que oriente são “o momento cumeeira dos eventos de literatura”.
Conceição ressaltou a preço de homenagear professores negros uma vez que um resgate histórico. E, em privativo, as professoras negras.
“Talvez as primeiras professoras foram as mulheres negras, dentro da morada grande. Elas cuidavam da prole da morada grande. Exerciam papel de educadora, inclusive da língua falada no Brasil”, disse a escritora.
Ao fechar a premiação, Ailton Krenak, homenageado do Festival, deu um carinhoso juízo às crianças.
“Mantenham seus coraçõezinhos nos lugares onde sempre estiveram: seguros. A formosura de vocês é o que dá sentido ao mundo. Os desenhos, os textos, isso é o sentido da literatura, do esboço, da arte. Muito-vindos a esse mundo incrível, pleno de muros invisíveis, que vocês vão ajudar a desmontar”, afirmou Krenak.
*Repórter viajou a invitação da organização do festival