Foi de Ibititá, no interno baiano, que um grupo de alunos e professores do Escola Estadual do Campo de Ibititá saiu de ônibus na madrugada da última quarta-feira (7). Chegaram em Salvador dez horas depois, para participar do maior evento cultural literário da Bahia: a Sarau Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô).
Pela primeira vez no festejo, o grupo – formado por quatro turmas do terceiro ano do ensino médio – chegou a confeccionar uma camiseta privativo para usar na sarau literária, lembrando os elementos gráficos que são utilizados pela Flipelô neste ano.
“A gente fez uma camisa para diferenciar e facilitar a vida dos alunos. E a gente pensou em fazer uma blusa com o nome da Flipelô, para poder dar essa homenagem. E também aproveitamos para trabalhar Raul Seixas [o homenageado deste ano da Flipelô]. Usamos o óculos [na camiseta] uma vez que símbolo do Raul”, contou Eliene Alecrim da Silva, 58 anos, professora de filosofia e projeto de vida da Escola Estadual Campos de Ibititá.
Em entrevista à Escritório Brasil, a professora contou que a excursão teve o objetivo de mostrar a secção prática dos conhecimentos teóricos que são aprendidos em sala de lição.
“Temos um projeto chamado Lição Viva, onde a gente tenta ver as coisas, estudar e presenciar cada momento e cada espaço. Saímos da sala de lição para estar onde a história realmente acontece”, disse a professora.
“Ganhamos um prêmio com esse projeto e, com esse numerário, a gente resolveu trazer os alunos a Salvador. Viemos para a sarau literária, mas essa também é uma oportunidade para o aluno que nunca viu Salvador e que não conhece o mar, tomar um banho de praia pela primeira vez e ir a um show pela primeira vez. O motivo principal foi a Flipelô, mas aproveitamos o momento para que esses alunos pudessem viajar pelo conhecimento. Estudamos a teoria lá no livro e cá, a prática”, disse ela.
Um desses alunos é o jovem Herick Marques Dourado Santos, 17 anos, que participou dessa excursão. “Estou achando muito lítico, inclusive. As coisas cá são bonitas, são diferentes da nossa região. Portanto eu estou gostando muito de ver, estou achando interessante tudo o que está acontecendo cá. É a primeira vez [que estou aqui]”, contou.
Outro estudante que acompanhou o grupo foi Dioclésio Rodrigues da Silva, 18 anos. Ele, inclusive, aproveitou a participação na Flipelô para comprar um livro: “estou achando maravilhoso, adorei o passeio. Conheci mais a cultura daqui, conheci a sarau literária”, disse.
“Essa é uma experiência de conhecimento. Ler é importante pra melhorar o hábito da leitura, o modo de falar e para saber coisas novas”, disse o estudante.
Para a professora Eliene, a Flipelô permite que seus alunos possam se aproximar mais de escritores de livros, além de estimular e “encantá-los” ao hábito da leitura e do conhecimento.
“Temos que fazer esse tipo de despertar [para a leitura] porque a internet tirou muito os meninos do livro. A livraria hoje está meio assim vazia porque eles estão mais perdidos na rede social. Temos que tentar [estimulá-los] muito mais para a leitura”, completou a professora.
Segundo Angela Rocha, diretora executiva da Instauração Lar de Jorge Estremecido e coordenadora da Flipelô, diversas caravanas, de diversas regiões do estado, têm frequentado o evento desde sua segunda edição.
“Sempre vêm escolas e caravanas do interno. A partir da segunda edição isso começou a ocorrer e agora, em nossa oitava edição, a gente verifica muito isso. Também vêm escolas da periferia. A gente tem uma arte-educadora que trabalha nesse sentido também, de ir até a escola e organizar com os diretores para que eles venham ao Pelourinho. E, neste ano, conseguimos ativar também as escolas particulares”, contou.
A edição deste ano
Inspirada na Sarau Literária Internacional de Paraty (Flip), a Flipelô acontece desde 2017 e surgiu com o objetivo de preservar e valorizar a memória do jornalista Jorge Estremecido, a cultura e arte da Bahia e estimular a literatura, principalmente entre os jovens.
Além de uma programação literária e espaços para debates, sessões de autógrafos, contação de histórias, lançamentos de livros, saraus e vendas de livros, a Flipelô ainda promove shows, apresentações teatrais e até exposições.
“A Flipelô é multilinguagem. A literatura é um mote principal, mas todas as linguagens, uma vez que a retrato, as artes plásticas, o cinema e o teatro, estão com a gente. A música, que na Bahia não pode faltar, também está com a gente”, conta Angela.
Em entrevista à Escritório Brasil, a coordenadora do evento disse que a aderência do público neste ano “está incrível e diversa”.
“O evento é muito interessante porque ele é democrático, é gratuito e ocorre em todos os espaços do Pelourinho, até em instituições mais inusitadas, uma vez que uma panificação, que promove uma atividade sua e a gente ajuda a vulgarizar.”
Um dos espaços que a coordenadora do evento citou uma vez que mais adorável neste ano foi o Instituto CCR Mabel Velloso, onde há atividades voltadas ao público infantil. “A gente deu uma turbinada nele e ele está encantador”, comentou.
Outro espaço que é um dos preferidos de Angela Rocha é a Vila Literária, espaço que foi montado no Largo Teresa Batista e que foi devotado aos apreciadores de revistas em quadrinhos. Oriente também foi o espaço preposto do estudante Herick, que veio de Ibititá. “Queria permanecer mais lá pra ver tudo porque eu estava gostando do papo dos autores, de uma vez que eles fazem pra ortografar o livro e ver a originalidade deles”, falou.
Origens
Foi na Vila Literária que encontramos o estudante de ciências contábeis Ícaro Ferrer, 22 anos, frequentador da Flipelô há alguns anos. “Essa é uma sarau muito linda pra gente poder perpetuar as nossas origens e ou por outra, trazer novas pessoas pra literatura, perpetuar essa teoria linda que é o livro a as histórias que a gente governanta ler”, contou.
Ferrer estava na Vila Literária por culpa dos autores de quadrinhos e blogueiros quadrinistas: “a literatura em si já é um pouco para nos inspirar estar cá. E uma vez que a Flipelô faz esse festival incrível, não tem uma vez que não estar cá”.
Já a atriz, artista e educadora Mariana Freire dos Santos, 46 anos, esteve no espaço do Sesc-Senac para ver um show infantil. “Estou cá no segundo espetáculo teatral. Eu tenho uma filha de 11 anos e a gente veio ver as Aventuras do Maluco Venustidade, que aconteceu na quinta-feira. No sábado vim ver esse show músico de Deco Simões e Karina de Faria.”
Para ela, a sarau é um evento necessário: “a Flipelô é um evento necessário para a cidade porque dialoga com a literatura de uma maneira tão lúdica, com várias plataformas, com música, com teatro, com a dança, e faz uma submersão para todas as idades. E isso dentro do núcleo histórico, o que é muito importante porque dialoga com a nossa cultura afro-ameríndia. É um evento diverso, plural e é uma delícia participar”.
Mariana acredita que a valia da Flipelô ultrapassa a literatura.
“A gente precisa ter eventos culturais gratuitos, que todo mundo tem chegada. E cá estou falando de pessoas que, muitas vezes, não têm exigência financeira de poder seguir ou de poder participar. Cá [na Flipelô] tem essa troca artística, os artistas veem os artistas, pessoas que são da plateia e do público estão podendo reputar e saber. Imagino que uma pessoa, por exemplo, que não lê, pode entrar num evento uma vez que esse de discussão com autores e autoras e, de repente, se interessar em ler um livro e ver espetáculos ou reputar uma atividade cultural.”
*A repórter e a fotógrafa Rovena Rosa viajaram a invitação do Instituto CCR, patrocinador da Flipelô.