Fora Do Ar Há 25 Anos, Manchete Deixou Legado E

Fora do ar há 25 anos, Manchete deixou legado e dívida – 10/05/2024 – Televisão

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Aracaju

Em um 10 de maio uma vez que hoje, há 25 anos, os brasileiros viam pela última vez na TV uma letra M dourada com bolinhas nas pontas: era a logomarca da Rede Manchete, a última grande emissora oportunidade que saiu do ar no Brasil, em 1999. Seu legado, para o muito e para o mal, é sentido até hoje.

A Manchete era o mais audacioso investimento do Grupo Bloch, empresa fundada em 1922 e que virou uma das maiores editoras de revistas do Brasil. Foi fundada por Adolpho Bloch (1908-1995), espargido uma vez que Seu Adolpho. Em 1981, junto com Silvio Santos, ele ganhou concessões de canais que haviam sido extintos (Tupi, Excelsior e Continental).

Dois anos depois, em 5 de junho de 1983, Bloch colocou sua TV no ar. Com o slogan “televisão de primeira classe”, a Manchete tentava atrair um público mais qualificado.

Deu espaço para grandes nomes começarem, uma vez que Xuxa Meneghel e Angélica ainda nos 1980, e investiu poderoso no jornalismo. Em 1984, fez história ao produzir a primeira transmissão dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro no Sambódromo da Marquês de Sapucaí, com exclusividade. Também faziam sucesso na estação as coberturas de bailes carnavalescos, que reuniam celebridades e foliões anônimos em clubes uma vez que Metropolitan, Scala e Monte Líbano.

Elogiada, mas com altos gastos e sem tanto retorno financeiro, a emissora deu uma viradela popular a partir de 1988. O período coincide com a chegada de um jovem diretor que tinha ideias muito arrojadas: Jayme Monjardim, que trabalhou por lá até 1993.

AUGE PANTANEIRO

“A Manchete foi um sonho na minha vida. Pela ousadia, por tudo que a gente viveu. Fui a invitação de Nilton Travesso, que perguntou ao Boni se eu poderia transpor da Mundo para assumir a direção artística da Manchete. Eu fiz uma grande amizade com seu Adolpho, que me tratava uma vez que um rebento”, diz Monjardim em conversa com o F5.

Uma das prozas que Monjardim conseguiu foi viabilizar a produção de “Kananga do Japão” (1989), romance que contava a história do Rio de Janeiro nos anos 1930, um libido idoso do seu Adolpho. “Ele tinha um sonho de colocar no ar a romance ‘Kananga do Japão’, que foi ao ar em 1989. Eu viabilizei, convidei a Tizuka Yamazaki para encaminhar, e foi um sucesso por ter ares de superprodução”, relembra.

De vestuário, a romance foi um vitória para os padrões da Manchete. Mas o grande sucesso viria a seguir. Monjardim conversou com Benedito Ruy Barbosa, que estava insatisfeito na Mundo pela falta de oportunidades no horário transcendente.

“O Benedito me lembrou de uma romance que estava engavetada pela Mundo, e eu tive a sorte de lembrar também, que era ‘Pantanal’. Era sobre uma região que o Brasil ainda não conhecia. E eu adorei a teoria de produzir. Falei para ele: ‘Você vem, Bene, eu faço a romance para você e coloco no ar às 9 da noite’. Até logo, ele só ia ao ar às seis da tarde”, relembra.

Em 27 de março de 1990, esteava “Pantanal”, uma revolução nas novelas, escrita por Benedito e dirigida por Monjardim. Um sucesso que foi líder de audiência e venceu a Mundo nos números, um tanto muito vasqueiro naquela estação.

“Foi um processo mágico, não tinha sege, caminhão, era tudo avião ou embarcação. Foi muito difícil, mas fizemos uma linda romance, ousada, e que eu tenho orgulho. A ousadia continuou depois, com ‘Ana Relâmpago e Zé Trovão’ (1991), que foi uma romance toda feita em externas”, relembra Monjardim.

A QUEDA E O LEGADO

Mas o auge da Manchete durou pouco. Em 1992, muito endividada e com salários atrasados, a Manchete foi vendida para a IBF (Indústria Brasileira de Formulários), de Hamilton Lucas de Oliveira. Monjardim saiu, mas voltou logo em seguida, a invitação do executivo. O término da história, desta vez, foi triste. Hamilton deixou a Manchete totalmente sem moeda e os funcionários entraram em greve.

“Os salários começaram a atrasar, passamos a ter problemas com o sindicato e eu fui obrigado a mudar a cabeça da rede do Rio para São Paulo para seguir no ar”, conta. “Quando voltou para as mãos dos Bloch, em 1993, quem estava lá para entregar o comando de volta aos Bloch? Eu. Fiquei triste por aquele momento da TV que fez as coisas mais lindas da minha vida.”

Na volta dos Bloch, alguns sucessos importantes. Em 1º de setembro de 1994, estreava “Os Cavaleiros do Zodíaco”, anime que mudou a forma uma vez que desenhos japoneses eram vistos no Brasil. Sucesso mercantil e de audiência, a saga de Seiya abriu todo um mercado mercantil no país. Só no Natal de 1995, foram vendidos 500 milénio bonecos oficiais. Foi o brinquedo mais vendido daquele período.

Nas novelas, um outro vitória foi “Xica da Silva” (1996), que alçou Taís Araújo ao estrelato. A atriz foi a primeira negra a protagonizar uma romance. Mas as dificuldades financeiras eram maiores do que nunca.

“Em ‘Tocaia Grande’ (1995), quando eu comecei, uma galera era contratada, mas nunca começavam a gravar porque não tinha moeda para fazer”, relembrou Taís em conversa sobre a romance em 2021. “A romance me trouxe pessoas, né? No meu trabalho, a melhor coisa é a experiência de viver outras vidas e ter pessoas. Tem gente que eu trabalhei junto em Xica da Silva que está na minha vida até hoje.”

Em 1997, a decadência da Manchete já era vista também no jornalismo. Novos talentos iam chegando mesmo assim. É o caso de Claudia Barthel, última âncora do Jornal da Manchete. Ex-Mundo, Barthel chegou para ser repórter em 1997, mas se destacou e assumiu a apresentação logo em um dia histórico: a morte da princesa Diana, em 31 de agosto daquele ano.

“Era muito bom trabalhar lá, porque a equipe era animada e de primeira. Uma mistura de jornalistas experientes com alguns jovens cheios de garra. Havia um zelo muito grande com a edição, com o visual do jornal, com os cenários, a iluminação, o som. A Manchete era, apesar da decadência já percebida, ainda um nome bastante espargido no mercado jornalístico”, lembra Barthel ao F5.

O FIM E A DÍVIDA IMPAGÁVEL

A pá de cal na história da emissora foi a romance “Rédea” (1998), adaptação do livro de Paulo Coelho. Concebida para ser um grande sucesso, a trama foi um fracasso imenso de público, o que prejudicou toda a Manchete. O folhetim foi encerrado sem final e os atores entraram em greve. Até hoje, muitos atores lutam na Justiça para receber pela participação.

“Nos meses finais, era tudo muito confuso por que não sabíamos o que poderia ocorrer. Começaram a tirar programas do ar e a atrasar salários. Havia famílias em que pai e mãe eram funcionários e não conseguiam mais levar comida pra morada”, conta Claudia Barthel.

Em 1999, a Manchete precisava ser vendida para continuar. E foi. Para a logo TV Ômega, de Amilcare Dallevo Jr e Marcelo de Roble, que fundaram a RedeTV! pouco depois. Bathel apresentou o Jornal da Manchete até o fatídico 10 de maio de 1999.

“Quando a Manchete foi vendida, uma pequena turma, em torno de 10 pessoa, foi para São Paulo, inclusive eu, por que o comprador era daqui. Colocamos a programação do ar de lá. O restante ficou sem trabalho”, conclui Barthel, que seguiu na RedeTV! até 2019.

Atualmente, ainda há oito CNPJs registrados ou ligados à TV Manchete Ltda., antiga razão social da emissora. Somadas as dívidas de cada um, o passivo da empresa está na morada de R$ 1,324 bilhão, segundo dados da PGFN (Procuradoria-Universal da Herdade Pátrio). O órgão é responsável por cobranças fiscais e regulariza débitos de empresas que devem em todo o Brasil.

O grosso da dívida da Manchete está relacionado a compromissos trabalhistas. Do totalidade do débito, R$ 593,7 milhões são de pagamentos de salários, 13º e férias que não foram depositados à estação.

Mesmo fora do ar há 25 anos, o legado que a Manchete deixou continua vivo. Empresários interessados no pilha da emissora arremataram um lote de 25 milénio fitas por R$ 500 milénio, além de ficarem com a marca Manchete. O valor foi usado para pagamento de dívidas. Procurados pelo F5, os atuais donos não quiseram se pronunciar.

Folha

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