A fotojornalista Elza Fiúza morreu na madrugada desta quarta-feira (10) em Brasília aos 74 anos, posteriormente sete anos de luta contra um cancro. A informação foi confirmada pela família.
Elza trabalhou na Filial Brasil por mais de três décadas. Iniciou na extinta Radiobras, em 1986, e seguiu na Empresa Brasil de Notícia (EBC) até 2018, quando deixou o fotojornalismo por meio de um programa de destituição voluntária (PDV). À quadra, a saúde já dava sinais de fragilidade. Ela também foi fotógrafa do Correio Braziliense.
Em 2018, Elzinha – porquê era conhecida na redação – foi homenageada no livro Um olhar sobre o Brasil, que reúne 125 imagens do cotidiano brasílico, capturadas pela lente de fotógrafos da Filial Brasil. “Cá passei os melhores anos da minha vida”, resumiu Elza, emocionada, durante a cerimônia de lançamento da publicação.
Ela participou de coberturas emblemáticas para a política vernáculo porquê a campanha das Diretas Já, a promulgação da Constituição de 1988, o impeachment do ex-presidente Fernando Collor e o oração de despedida da ex-presidente Dilma Rousseff.
Dentre algumas fotos consagradas pela fotojornalista está a do logo presidente da Parlamento Vernáculo Constituinte, Ulysses Guimarães, com a Constituição de 1988 nas mãos, ao ser promulgada.
Biografia
Elza Maria Praia Fiúza Dias Pinto nasceu em 19 de agosto de 1949, em Manaus. Morou segmento da vida na capital carioca, onde estudou na Escola de Belas Artes da Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ).
Em seguida, mudou-se para São Paulo e, depois, para Brasília. Em um de seus perfis nas redes sociais, ela se descreve porquê “fotojornalista apaixonada pela profissão”.
Foi casada por mais de 50 anos com o jornalista Chico Dias, com quem teve quatro filhos: Joana, Pedro, Vânia e Marina. Elza deixa ainda cinco netos: Mulato, Mariah, Helena, Heitor e João.
Anualmente, o par recebia jornalistas de toda a cidade em sua mansão, no final do bairro Asa Setentrião, onde ocorria uma tradicional sarau junina.
“Minha vovó se foi. Com ela, todo o meu coração. Obrigada por tanto, vovó. Pra sempre vou te amar e te carregar todos os dias dentro de mim. Bença”, postou a neta Helena Praia.
Depoimentos
O companheiro e colega de fotojornalismo da Filial Brasil, José Cruz, lamentou a morte de Elza. “Já tínhamos perdido dois colegas muito especiais: o Roosewelt Pinho [falecido em março de 2021, aos 76 anos] e o Gervásio Baptista [falecido em abril de 2019, aos 95 anos]. Agora foi ela. Onde eles chegavam, traziam alegria”.
“Foi um privilégio ter sido companheiro dela desde os tempos do Correio Braziliense, em 1978 ou 1979. Ela fazia um trabalho criterioso, sem deixar de ser brincalhona. Andava sempre com um bloquinho na mão. Além de inscrever o nome dos personagens de suas fotos, ela os desenhava”, lembrou Cruz.
“Era uma mãezona e acabava cuidando de todos na redação. Trazia comida, organizava tudo. Tínhamos sempre muito saudação. Quando ela falava, estava determinado. No fotojornalismo, há muita gente privativo, mas que nem ela não existe mais”, destacou. “Não se silenciava diante de injustiças. Na ditadura, batia o pé contra tudo.”
O também companheiro e editor da Filial Brasil Fernando Penedo lembrou com carinho de quando se conheceram. “Em 1978, meu primeiro ocupação foi no Jornal de Brasília. Editoria de Cidade era o rumo de todo ‘foca’ [jornalista iniciante]. Elzinha já era fotógrafa do Correio Braziliense, o concorrente. Nos víamos nas pautas, nos bares e no Clube da Prelo e nos tornamos amigos, assim porquê de seu companheiro Chico Dias”.
“No ano seguinte, fui contratado pelo Correio. Nossa amizade se consolidou. Muitas pautas, festas, bares e almoços. Éramos e ainda somos uma família. Uma turma. Hoje, de velhos jornalistas. Desde logo, sempre nos víamos. Elza fará muita falta na nossa vida. Que olhe por nós de onde estiver.”
O gerente executivo de Imagens da Filial Brasil, Juca Varella, trabalhou com Elza à quadra da Radiobras.
“Fizemos algumas viagens juntos. Nos anos 1990, era vasqueiro mulheres fotógrafas nas redações. Ela era pequena e valente. Uma mulher de opiniões firmes que criticava e se posicionava contra injustiças”.
“Basta ver as imagens feitas por ela para se ter uma teoria de seus posicionamentos. Ela sempre se pautava contra injustiças. Sempre preocupada com a instrução no país, com as causas das mulheres e dos povos indígenas”, completou Varella.
Em uma de suas últimas entrevistas, em 2022, à neta Mariah Praia, Elza contou detalhes do que viveu no período da ditadura no Brasil. Um irmão e uma cunhada chegaram a ser presos e torturados à quadra, enquanto ela dava abrigo a militantes e denunciava o que via. “Muitos jornalistas foram presos só por denunciar”, contou.
“À medida que aumentava a resistência da população ao regime ditatorial, aumentava a violência deles. Tive um irmão, Cleto, e minha cunhada Janda, que ficaram presos. Foram presos e torturados. Ficaram mais de um ano presos. Minha família sofreu muito com a ditadura”, lembrou Elza.
A fotógrafa será velada amanhã na Capela 6 do Cemitério Campo da Esperança, no bairro Asa Sul, das 11h às 13h. Seu corpo será cremado às 16h, em Valparaíso.
Material ampliada às 12h23 para incluir horário do velório, no último parágrafo. Material alterada às 12h48, no segundo parágrafo, para emendar o ano em que Elza deixou a Filial Brasil (2018 e não 2016, porquê publicado inicialmente)