Frans Krajcberg, ícone Da Arte Ecológica, Ganha Biografia 14/02/2025

Frans Krajcberg, ícone da arte ecológica, ganha biografia – 14/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Frans Krajcberg gostava de mato. Nos anos 1980, o artista se embrenhou repetidas vezes por um trecho da floresta amazônica na região do rio Juruena, em Mato Grosso, em procura de seu material de trabalho. De lá, saía com troncos carbonizados pelo queimada ou carcomidos por cupins, galhos chamuscados, cipós retorcidos e cascas de árvore puídas.

Depois deste material da devastação ser transportado para seu sítio e ateliê em Novidade Viçosa, no sul da Bahia, o artista o dispunha no pavimento e analisava os veios dos cipós, para pensar na forma de uma estátua, ou portanto colocava lado a lado as raízes da palmeira paxiúba, que mais parecem pequenos troncos, até inferir o escorço de uma obra.

O profundo contato com os biomas do Brasil era o cerne do processo criativo de Krajcberg, nome único no quadro das artes no país na segunda metade do século 20 e nas primeiras duas décadas dos anos 2000 —ele morreu em 2017— por fazer obras de estética impactante que denunciavam o extermínio do patrimônio procedente para as queimadas e a exploração do varão.

Agora, os quase século anos de vida do artista e ativista são resgatados em uma biografia de 350 páginas recém-publicada pelas edições Sesc e Edusp, “Frans Krajcberg – a Natureza porquê Cultura”, escrita pelo ambientalista João Meirelles, um companheiro de décadas de Krajcberg a quem o estatuário havia encomendado que escrevesse a sua história.

O livro —com lançamento no Sesc Pinheiros, em São Paulo, dia 13 de março— retrata em minúcias a jornada deste judeu polonês que, depois de sobreviver ao trabalho servo ao qual foi submetido em um campo de concentração no seu país natal, aportou no Brasil e se tornou figura medial das artes plásticas no país e na França, sua segunda morada, onde passava três ou quatro meses todos os anos.

A narrativa, baseada em entrevistas com Krajcberg, com seus amigos e em pesquisas em acervos públicos, é entrecortada por fotos de momentos marcantes da vida do artista. Ao final, um caderno de imagens de algumas de suas esculturas, pinturas e fotografias registram a multiplicidade de sua obra.

Um dos desafios de ortografar sobre a vida do artista, conta o biógrafo, é que “ele era um ficcionista”, isto é, inventava histórias quando lhe convinha. Isto deu ao responsável a tarefa de checar repetidas vezes os episódios narrados por seu personagem. Krajcberg, por exemplo, disse que, depois de chegar ao Rio de Janeiro, nos anos 1940, passou míngua e foi obrigado a dormir na praia, mas na verdade ele foi amparado pela família de um tipo que deu a ele morada e um lugar para pintar.

Meirelles diz encarar porquê “uma resguardo plenamente tolerável” o vestuário de Krajcberg produzir histórias para si diante dos fortes traumas pelos quais ele passou na Segunda Guerra e pelas mudanças forçadas de país. Porquê um judeu errante, no sentido de alguém que procura seu lugar no mundo, o artista viveu um tempo num campo de refugiados em Stuttgart, na Alemanha, antes de partir para o Brasil, país que dizia amar enquanto renegava com veemência sua Polônia natal.

Aquém da traço do Equador, o europeu naturalizado brasílico não tinha dúvidas de qual era seu lugar. “Sabor mais de árvores que de pessoas”, dizia Krajcberg, com seu espírito turrão e português enrolado, depois de ter visto, durante o Sacrifício, os horrores que o varão infligia ao próprio varão —quase toda a sua família morreu na perseguição aos judeus deflagrada pelos nazistas. “Ele não se importava com mosquito, pernilogo, calor. Virava um moleque, um menino brincando [na natureza]”, conta o biógrafo.

Quando chegou ao Brasil, Krajcberg ficou alguns meses no Rio de Janeiro antes de se mudar para São Paulo e, em poucos anos, se integrar na vida cultural da cidade, um feito para um estrangeiro recém-instalado no país. Sua obra na era era basicamente pintura figurativa, a exemplo da série de telas a óleo sobre samambaias. Mas seu talento já despontava —naquela dez de 1950, ele participou de quatro bienais de São Paulo, tendo ganhado o prêmio de melhor pintor na quarta.

Também naqueles anos, o artista trabalhou porquê engenheiro numa fábrica de celulose no interno do Paraná, onde viu pela primeira vez as queimadas nas florestas que tanto influenciariam a sua obra dali em diante. Décadas mais tarde, quando viajava à porção de Amazônia em Juruena, Krajcberg não buscava só materiais para as suas esculturas, mas também registrar em imagens a devastação que presenciava e que o abalava profundamente.

“Aquelas queimadas, ele se sentia no meio da [Segunda] guerra. Ele estava armado com uma máquina fotográfica, e o jeito dele se tutorar era com a retrato. Ele gritava, falava, esbravejava. Foi muito corporal essa luta”, afirma Meirelles. No livro, o responsável associa à paisagem da devastação dos biomas brasileiros às cidades polonesas bombardeadas pelo nazismo, cenários que, embora distintos, ressoavam com o artista.

Na dez de 1960, Krajcberg começou a fazer grandes esculturas, tanto com a madeira que sobrava da indústria de celulose do sul da Bahia, próximo a seu sítio em Novidade Viçosa, quanto com a madeira residual de queimadas. Suas peças eram pintadas em cores fortes, porquê o vermelho e o preto, ou deixadas com paisagem procedente, porquê se tivessem completo de transpor da mata. O biógrafo destaca porquê o trabalho do artista demandava força, porque ele derrubava palmeiras para tirar troncos e dobrava cipós, por exemplo, mesmo quando já havia pretérito dos 60 anos. “Ele fazia arte com o corpo, também.”

Embora Krajcberg tenha entrado para a história porquê representante da arte ecológica e voz internacional contra o desmatamento, no livro o leitor descobre que a sua viradela para o ativismo foi tardia, só a partir dos anos 1980. Durante décadas, Krajcberg “não era um ambientalista, era só um artista com recursos da natureza”, afirma o biógrafo, acrescentando que ele também não ligava para política nem se importava com a precariedade da situação de vida dos indígenas vizinhos seus em Novidade Viçosa.

Independente disso, Krajcberg conseguia atingir, com a sua arte, tanto o público universal quanto o especializado, argumenta o responsável. “Ninguém ficava impune depois de visitar uma obra dele.”

Folha

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