Em visitante a Damasco no término de março, o presidente da Percentagem de Questionário das Nações Unidas (ONU) sobre a Síria, o brasiliano Paulo Sérgio Pinho, relata que encontrou uma cidade com liberdades políticas ausentes por 60 anos, período do regime liderado pelo partido Baatah, do ex-presidente Bashad al-Assad.
Em entrevista à Filial Brasil, Pinho destacou que a situação socioeconômica do país é desesperadora e que o horizonte da Síria depende do término das sanções econômicas impostas pelas potencias ocidentais, em peculiar, os Estados Unidos (EUA).
Apesar de permanecer surpreso com Damasco praticamente preservada em seguida mais de 13 anos de guerra, outras cidades e regiões do país estão devastadas e 90% da população síria vive aquém da risco da pobreza, com 2 dólares por dia.
O representante da ONU avalia, por outro lado, que não é provável esperar que a Síria se torne uma democracia liberal e secular, ou seja, que separa Estado e religião, nos moldes dos regimes ocidentais.
Aliás, destaca que é preciso monitorar o trabalho do comitê criado pelo governo para investigar os massacres contra 1 milénio civis do grupo étnico-religioso alauísta na costa leste do país, no início do mês pretérito, o que manchou a imagem da novidade gestão síria.
Leia a entrevista completa aquém:
Filial Brasil: Qual foi o cenário encontrado nas cidades e bairros sírios visitados?
Paulo Sérgio: O fantástico é que a capital, Damasco, não parece que sofreu uma guerra de 14 anos. Há bairros tipo Higienópolis, em São Paulo, com arquitetura dos anos 70, árvores, cafés, restaurantes. É uma vida normal.
O envolvente era, mais ou menos, uma vez que quando fui a Lisboa depois da Revolução dos Cravos [1974]. Ainda que eu não tenha passeado muito pelas ruas, todos os contatos que tive era de uma sensação de conforto. Por fim, foi uma ditadura de quase 60 anos, ininterrupta.
Agora, na periferia de Damasco, na Damasco rústico, são prédios bombardeados, tudo destruído, a população morando em habitações muito precárias, uma vez que nas cidades de Harasta, Douma, Zabadani e Daraya, que foram visitadas por mim ou minha equipe.
De 22 milhões de sírios, sete milhões estão refugiados em outros países e seis milhões estão deslocados internamente. É um misto de ruína por justificação da guerra e da situação econômica desesperadora.
Filial Brasil: Quais as expectativas de recuperação econômica da Síria?
Paulo Sérgio: Não há recursos econômicos e essa situação foi agravada pelas sanções das potências ocidentais. A União Europeia (EU) aliviou algumas sanções em seguida queda de Assad.
Porém, o problema maior são as sanções dos EUA ao sistema bancário que impedem a Síria de fazer secção do mecanismo Swift, que é o sistema mundial de notícia bancária. As pessoas querem penetrar um negócio, ou trazer empresas, fazer investimentos, mas não conseguem por justificação das sanções econômicas dos EUA.
O governo americano disse que, se o governo sírio respondesse a preocupações com grupos radicais jihadistas [fundamentalistas islâmicos que pregam a “guerra santa”], eles eram capazes de amenizar as sanções.
Mas levantar as sanções é o vital. Se o mundo ocidental não for capaz de convencer a gestão americana de suprimir essas sanções, vai ser um sinistro na Síria. Não adianta toda essa boa vontade ocidental, que não vai dar.
Filial Brasil: Alguns analistas acreditam que os massacres de civis alauístas, no início do último mês, contaram com a vista grossa da atual gestão.
Paulo Sérgio: Não houve vista grossa. Acredito que o governo subestimou, no início, a sisudez da situação e demorou a reagir e esses que foram lutar contra os rebeldes militares é que resolveram também guerrear a comunidade alauísta.
Houve uma decisão do governo, que acho equivocada, de desmanchar todas as Forças Armadas do governo anterior, criando grupos de soldados militares que perderam a curso. E um interino que se supõe desse grupo resolveu guerrear forças regulares do atual governo.
Em retaliação, houve esse extermínio de alauítas, inclusive sobrando um pouco para os sunitas que apoiavam o governo. O problema é que há muitos grupos estrangeiros, chechenos, turcomenos, outros jihadistas, aliados ao governo. Foi portanto estabelecida uma situação de terror em que 20 milénio alauítas fugiram para o Líbano.
Filial Brasil: Qual avaliação a Percentagem da ONU faz do comitê formado pelo governo sírio para investigar esse massacre de alauístas?
Paulo Sérgio: Eu li o currículo deles, são juízes e advogados. Eu conversei com cinco deles. Não são gente do atual governo, não é gente disfarçada. Acho que é uma boa elaboração. Na conversa de duas horas que eu tive, eles deram vestígios que querem fazer uma coisa séria, independente, e que vão propor pessoas a serem processadas sem elevação.
Agora, percentagem independente só prova que é independente depois de publicar o relatório. E o que o governo vai fazer a reverência, também não posso imaginar.
Filial Brasil: Qual avaliação que as organizações civis e de direitos humanos que vocês conversaram fazem da novidade gestão da Síria?
Paulo Sérgio: O primeiro ponto positivo é que eles estão operando em liberdade. Não tem espião vendo o que estão fazendo. Muitas entidades e ONGs voltaram a atuar na Síria.
Todas elas, as que apoiam ou não o governo, avaliam que não há projecto B. Esse governo tem que dar claro. Não existe projecto B para a comunidade internacional, nem para a Síria, nem para a sociedade social.
Ainda é impossível fazer uma estudo fechada sobre a Síria. É um processo. O governo tem ido na direção de que a Percentagem espera. Ao contrário do governo anterior, é um governo que podemos dialogar.
Filial Brasil: O novo governo promete fazer eleições em 5 anos. Qual a expectativa do país se tornar democrático?
Paulo Sérgio: É precisa levar em conta que o governo tem mal quatro meses. Eles não controlam o território inteiro e contam com fortes focos de oposição.
Mas não se tenha nenhuma ilusão que vai ser uma democracia ocidental e secular. Isso é bobagem e falei a todos os embaixadores ocidentais. O término da ditadura não é necessariamente o princípio da democracia. Agora, o líder do governo tem oferecido vestígios de querer colaborar.
A maior secção das transições são aos trancos e barrancos. Ainda mais que teve 60 anos de ditadura, que torturou, enterrou em covas comuns, fez prisões arbitrárias. Essa prática foi suspensa. Por hora, não tem ditadura. Não há nenhum sinal que queiram implantar uma ditadura. Agora, não temos esfera de cristal.
Aliás, não dá para fazer eleição agora. Tem 6 milhões que não moram nas suas casas e 7 milhões de refugiados. Os registros da cidadania estão todos destruídos. Uma vez que você vai fazer uma eleição?
Filial Brasil: A origem jihadista da Al-Qaeda do atual presidente Ahmed al-Sharaa (al-Jolani) não dificulta essa transição?
Paulo Sérgio: O mundo, a comunidade internacional, tem que monitorar, ver o que eles estão fazendo. O atual presidente ficou cinco anos recluso no Iraque réu de terrorismo. Ele passou pela Al-Qaeda, depois apoiou o Estado Islâmico, aquele que decapitava pessoas.
Ai esse senhor – que tem esse currículo estranhíssimo – passa por uma reconfiguração ideológica e adota um exposição pró-liberdades ocidentais. Não digo democracia, mas de liberdade, liberdade de sentença e tudo isso.
Em Damasco, ele fez um diálogo pátrio de um dia, é pouco, mas para 800 participantes. O transmitido final foi positivo, falou de direitos humanos, liberdades fundamentais. Depois disso, houve uma enunciação constitucional onde reconhece, o que me interessa, todos os tratados internacionais de direitos humanos. Não é pouca coisa.
No novo gabinete anunciado na última semana, com 23 membros, há 13 que são do grupo dele e 10 de outros grupos, há uma mulher. Portanto, é um claro estabilidade. Hoje, a tendência é ter qualquer secularismo. Ou seja, não é um regime teocrático, uma vez que o Irã.
Ele tem conversado com as comunidades cristãs. Mas, pela experiência passada com as lutas da jihad islâmica, a comunidade cristã ainda está meio temerosa em relação ao novo governo.
Filial Brasil: E uma vez que está a relação com Israel que segue atacando o país?
Paulo Sérgio: A comunidade internacional precisa fazer alguma coisa em relação à Israel. Israel fez ataques preventivos destruindo o Tropa, a Força Aérea e a Marinha só porque não gosta do governo de origem jihadista.
Eles continuam atacando, bombardearam lá essa semana. Se apoderaram das Colinas de Golã e ocupam três cidades no sul. Não existe uma termo na normativa internacional que permita a um país bombardear o outro só porque não está de contrato. Isso tem que parar.