Uma imensa imagem aérea do rio Preto abre a mostra de George Love no Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM. A floresta amazônica era uma das obsessões do fotógrafo —ele dizia gostar de registrar a imensidão virente a partir de um avião que planava grave, sentindo o vento no rosto.
Durante a vida, Love, um americano que fez curso no Brasil, visitou o bioma diversas vezes. Suas expedições resultaram em reportagens fotográficas, livros e exposições. Agora, uma segmento extensa deste material será exibida ao público na mostra “George Love: Além do Tempo”, em edital a partir desta sexta-feira (1º) no MAM.
Organizada pelo seu companheiro próximo e galerista Zé De Boni, que herdou o ror de milhares de itens do fotógrafo, esta é a primeira grande exposição sobre o trabalho de Love desde sua morte, em 1995.
Na maior sala expositiva do museu estão mais de 500 fotografias —entre originais de idade e reproduções recentes feitas em laboratório a partir dos negativos do artista—, dezenas de documentos —uma vez que convites de exposições e cartas— e revistas com as reportagens fotográficas assinadas por Love. Há também uma entrevista de 40 minutos com ele, gravada em vídeo em 1993 e só agora exibida, na qual ouvimos o sotaque do fotógrafo, que lembra o português de Portugal.
Uma vez que era de se esperar, a ênfase da exposição é o trabalho de Love com a Amazônia —são vários núcleos sobre o tema. Ele chegou no Brasil no final dos anos 1960 a invitação de Claudia Andujar, com quem foi casado e se embrenhou na floresta. A dupla funcionava uma vez que yin e yang —ele registrava mais as paisagens, e ela, os indígenas. O trabalho dos dois gerou “Amazônia”, um dos principais livros de retrato publicados no país.
Ainda assim, os retratos que Love fez dos indígenas xikrin e, mais tarde, dos yanomamis, são algumas das imagens mais impressionantes da mostra, por exemplificarem sua estética de cores carregadas e muito contraste. Numa das fotos finais da exposição, vemos um indígena dentro de um rio azul sidéreo sob uma árvore de folhas vermelhas, uma vez que se ardesse.
Organizador da mostra, Boni diz que Love “tinha a consciência de que a Amazônia estava em transformação e em vias de se perder”, mas que ele não via seu trabalho uma vez que panfletário nem uma vez que documentação. “Ele era um ativista da percepção visual, da retrato.”
Boni usa a frase “delírio visual” para descrever as imagens da floresta, mas leste qualificador se aplica a praticamente toda a curso do artista. Love levava a retrato analógica ao limite, fotografando com diferentes câmeras e vários tipos de negativo e cromo, uma película que mostra as cores reais e, por isso, é usada uma vez que slide em projeções.
Na hora da revelação, Love pedia ao laboratorista que alterasse a exposição do filme à luz ou os processos químicos tradicionais para obter tons de cor saturadíssimos ou, ao contrário, um preto e branco fantasmagórico, que lembra uma imagem de raio-x, uma vez que por exemplo nos registros de encanamentos industriais que estão na exposição.
“Ele queria quebrar a teoria que a retrato era uma mera representação do ponto”, afirma Boni, acrescentando que não gosta de invocar de experimental o trabalho do artista. “Era mais experiência do que experimento. Ele sabia o que ia trespassar, não estava arriscando.”
George Leary Love nasceu em Charlotte, na Carolina do Setentrião, em 1937. Embora fosse preto e tenha se envolvido com uma organização de estudantes que protestava contra a segregação étnico-racial nos Estados Unidos, questões de raça apareceram pouquíssimo em seu trabalho. A exposição mostra dois destes momentos —retratos que ele fez do Harlem, em Novidade York, logo depois de desenredar sua paixão pela retrato, e um tela de fotos dos ativistas dos Panteras Negras.
Foi em São Paulo, porém, onde morou entre as décadas de 1960 e 1980, que Love executou o grosso de sua obra. Ele registrou de tudo, com uma curiosidade insaciável pelo mundo —jogos da seleção brasileira, desfiles da Paco Rabanne, a hidrelétrica de Itaipu, eventos corporativos da máquina de redigir Olivetti, o cotidiano paulistano—, enquanto trabalhava para revistas e fotografava para empresas. Em paralelo, coordenou o setor de retrato no Masp, o Museu de Arte de São Paulo.
A retrospectiva no MAM, fruto de um trabalho que começou antes da pandemia e incluiu o restauro de imagens do artista, dá um quadro cronológico detalhado da curso deste pioneiro da retrato contemporânea no Brasil. Mas os 20 núcleos da mostra e suas mais de 500 fotos são um pouco repetitivos, e, a partir de patente ponto do trajectória expositivo, as pirações visuais parecem interessar mais aos amantes da linguagem fotográfica.
Uma mostra mais enxuta não prejudicaria o entendimento da obra do artista e já daria conta do impacto visual de sua obra e abrangência de assuntos.
Afora isso, a expografia de Pedro Mendes da Rocha merece um observação. Ele organizou as vitrines e painéis expositivos uma vez que um grande eixo, de uma ponta a outra do museu, com aberturas nas laterais, uma vez que se fossem portas, que deixam prever o restaurante do MAM e o parque Ibirapuera através das vidraças. Não é uma mostra do tipo caixa fechada.
No núcleo do eixo, pendentes do teto, quatro lâminas de acetato nas cores ciano, magenta, amarelo e preto formam o rosto de Love, que muda de tonalidade dependendo de onde o visitante o observa. A presença do homenageado paira sobre a exposição.