Gilberto gil, com turnê de despedida, quer desacelerar 14/03/2025

Gilberto Gil, com turnê de despedida, quer desacelerar – 14/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Em 1980, Gilberto Gil pensava em largar a música. Uma vez que despedida, escreveu “Palco”, hoje um de seus sucessos. “Era fastio. Tive um impulso de paralisar a curso e buscar outra profissão. Alguns artistas, porquê eu, estão sujeitos a momentos de náusea em relação ao trabalho”, ele diz. “Mas agora não. É vetustez mesmo.”

Em seu apartamento no Galeria da Vitória, em Salvador, o tropicalista de 82 anos se refere à última turnê, “Tempo Rei”, que estreia no estádio Natividade Novidade, neste sábado (15), em sua cidade natal. Em meio a ensaios, fisioterapia e entrevistas, ele diz que não se trata de uma despedida definitiva dos palcos, e nem da música, mas da estrada e dos grandes shows.

Gil quer voltar à dimensão originária do seu trabalho —se apresentar em espaços de pequeno e médio porte, para públicos modestos, enquanto sua saúde permitir. “Venho de uma estação em que essa dimensão atual [de show] não era nem imaginada. Não havia condições técnicas ou de logística, nem expectativa dos criadores e dos consumidores de um pouco nesses moldes.”

No início desses quase 60 anos de curso, nem mesmo a guitarra elétrica era um pouco generalidade na música brasileira. Em 1967, no Festival da MPB, na Record, ele e os Mutantes botaram o instrumento para cuincar na histórica performance de “Domingo no Parque”. A plateia era pequena, mas Gil teve pânico de encará-la.

“Ali era a dificuldade do enfrentamento, aquela situação novidade”, diz, lembrando que teve de ser resgatado no hotel para subir ao palco, de tão nervoso que estava.

A inserção da guitarra na música brasileira foi a primeira guerra estética que Gil e seus amigos, entre eles Caetano Veloso e Gal Costa, travaram. Para ele, a influência do tropicalismo, que veio de um ímpeto de modernizar a tradição músico brasileira, à luz da bossa novidade, continua nítida.

“Quase toda a música atual é inserida nesse campo das novas tecnologias. São elementos transformadores da própria requisito artística”, diz. Movimentos porquê o tecnobrega paraense, o piseiro de João Gomes, o funk e “boa segmento do que se convencionou a invocar de pop”, ele afirma, têm “a dimensão tecnológica porquê fator importante”.

No caso da tropicália, os conceitos estéticos estavam em diálogo com a transformação na notícia, que passou a atingir as massas —em próprio com a TV, mas também a expansão do rádio e o maior entrada aos discos. “A tropicália teve um papel na introdução desse novo contexto, no concepção de cultura pop”, afirma.

Aquelas experiências desembocaram, nos anos 1970, numa produção fonográfica hoje tida porquê uma usina de clássicos. Na visão de Gil, isso não tem a ver unicamente com o talento daquela geração —de Novos Baianos a Jorge Ben Jor, de Tim Maia a Milton Promanação—, mas com a confluência entre sensibilidade artística e momento histórico.

“O aproveitamento do nosso talento se deu em função da expansão dos nossos interesses porquê artistas, representantes de uma voz social. Eles se ampliaram muito naquela estação. Essas questões que estamos levantando passaram a expor saudação à nossa geração, o que não tinha ocorrido com gerações anteriores. É nesse sentido que o tropicalismo foi original, deflagrador de novas configurações. O talento sozinho não podia fazer zero —ele daria margem a que se repetisse o que foi feito anteriormente.”

O enfrentamento dos tropicalistas foi estético, mas também político. Gil se lembra que teve reações distintas à prisão e ao exílio, impostos pela ditadura militar, em relação a Caetano. Foi na ergástulo que ele compôs “Cérebro Eletrônico”, sentença do seu interesse pelas novidades tecnológicas. “Sou canceriano, mais resignado com o sofrimento”, diz. “Enquanto ele se recolhia, eu ganhava uma novidade expansividade.”

Gil também compôs e gravou “Aquele Amplexo”, que traz no nome uma sentença que ele ouvia dos militares na ergástulo, às vésperas do exílio em Londres. Em 1970, já na Europa, escreveu um texto no Pasquim recusando o prêmio Golfinho de Ouro, que havia ganhado pela música. Para ele, hoje e naquela estação, “Aquele Amplexo” recebeu “interpretações parciais”.

“A música era muita coisa ao mesmo tempo. Muita coisa boa, porquê resposta positiva ao que acontecia na minha vida, mas também respostas negativas. Negação daquilo que me estava sendo recusado, a liberdade”, diz. “Tinha a dimensão redentora, mas tinha a dimensão existencial nossa, os que tinham sofrido e, em casos mais radicais, os que foram mortos. Ela tinha, necessariamente, que estancar interpretações mais variadas.”

No texto, Gil afirma que “‘Aquele Amplexo’ não significa que eu tenha me ‘regenerado’, que eu tenha me tornado ‘bom crioulo puxador de samba’ porquê eles querem que sejam todos os negros que realmente ‘sabem qual é o seu lugar’”. Uma vez que escreveu o jornalista Claudio Leal nesta Folha, o item no Pasquim inaugurou de maneira mais firme a certeza da identidade racial do baiano.

“A tomada de consciência da minha requisito de preto foi aflorando ao longo do tempo e culminou com um momento de sagacidade quando fui recluso e expulso do país. Ficou mais evidente. Ali, aproveito para mostrar que essa questão do racismo tinha se tornado uma coisa mais ‘escura’, para usar um contraste do evidente. Esse texto representa essa ‘novidade negrume’.”

A negritude e a ancestralidade africana ficaram mais presentes na obra de Gil a partir dos anos 1970, e a teoria de originalidade do Brasil a partir da mestiçagem está em praticamente toda a sua produção. Ele crê que “uma questão racial radicalizada no Brasil tem que considerar porquê término de traço a mestiçagem —é o que pode ser cá, uma região formada por pelo menos três raças”.

“É um país mestiço por natureza, que nesse sentido é vanguarda de uma requisito mundial. O planeta se mistura. É um fenômeno mundial com a globalização, e já antes com a colonização”, diz. “A radicalização da questão racial é a mestiçagem. É inescapável.”

Ao longo dos anos, Gil trabalhou para institucionalizar sua vanguarda. Foi vereador e secretário da Cultura em Salvador, além de ministro da Cultura de Lula. Usa hoje o fardão da Ateneu Brasileira de Letras que parodiou em seu disco de 1968.

Apesar de frequentar essas instâncias de poder, nunca abandonou certos aspectos de contracultura. Recluso em 1976 por porte de maconha, ele reitera sua posição em obséquio da descriminalização das drogas.

“A descriminalização favorece um melhor tratamento da saúde, do afronta da droga. E também da criminalidade. Acaba com a premência de reprovar e confinar uma quantidade enorme de pessoas por motivo do tráfico —quando comparada ao número de pessoas hospitalizadas por afronta, é uma coisa imensa.”

Ainda que hoje não use mais nenhuma delas, Gil diz que as substâncias de expansão de consciência foram “instigadoras na procura de uma novidade requisito psíquica”.

“Tive uma atitude seletiva sobre quais eu quis usar. A heroína, nunca provei, e ela foi muito difundida na minha geração de criadores. Cocaína eu experimentei, não gostei. A maconha usei durante muitos anos. Dessas todas era a que me parecia mais benigna no sentido de proporcionar expansão mental e sentimental adequada para a manipulação de elementos estéticos.”

Espargido pela postura serena, Gil observa com certa naturalidade um planeta que enfrenta crises climáticas e vê a subida de líderes autoritários da extrema-direita, caso de Donald Trump. Acredita que “as transformações permanecem jogando o ser humano para vários lados, e o obrigando a se defrontar e se posicionar em relação a elas o tempo todo.”

E ainda que tenha trabalhado para levar a música brasileira em direção ao horizonte, através também da tecnologia, ele hoje torce o nariz para magnatas das big techs porquê Elon Musk e conceitos porquê o aceleracionismo.

Gil quer para o mundo o mesmo que para sua curso —desacelerar. “A teoria do propagação econômico, que envolve o imperialismo internacional através do colonialismo, com as grandes dificuldades ambientais e sociais, de distribuição de riqueza, vêm chamando a atenção para o indumento de que está na hora de desacelerar. É hora de pensar em decrescer, ter menos propagação econômico —ou, pelo menos, um propagação mais monitorado a partir de uma visão de políticas coletivas e públicas. Sou dessa turma.”

Datas da turnê ‘Tempo Rei’

  • 15 de março de 2025 – Salvador – Morada de Apostas Estádio Natividade Novidade
  • 29 e 30 de março e 5 e 6 de abril de 2025 – Rio de Janeiro – Farmasi Estádio
  • 11, 12, 25 e 26 de abril de 2025 – São Paulo – Allianz Parque
  • 31 de maio e 1º de junho – Rio de Janeiro – Marina da Glória
  • 7 de junho de 2025 – Brasília – Estádio BRB
  • 14 de junho de 2025 – Belo Horizonte – Estádio MRV
  • 5 de julho de 2025 – Curitiba – Ligga Estádio
  • 9 de agosto de 2025 – Belém – Estádio Mangueirão
  • 6 de setembro – Porto Satisfeito – Estádio Borda Rio
  • 15 de novembro de 2025 – Fortaleza – Núcleo de Formação Olímpica
  • 22 de novembro de 2025 – Recife – Classic Hall

O jornalista viajou a invitação da produtora da turnê

Folha

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