Gilberto Gil Dá Adeus Aos Palcos Em Turnê E Estreia

Gilberto Gil dá adeus aos palcos em turnê e estreia ópera – 06/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O tempo vai reger a turnê de despedida de Gilberto Gil por nove capitais brasileiras no próximo ano. Do álbum “Raça Humana”, de 1984, a melodia “Tempo Rei” nomeia a série de shows que marcará seu adeus à rotina de viagens e shows alongados, uma vez que faz há quase 60 anos. Sorridente na chamada de vídeo, o compositor diz que não se angustia com a redução do ímpeto de palco.

“Não creio que seja tão difícil, porque a vida é corpo. O multíplice vivente já indica que isso é razoável, porque estou mais velho, não tenho tanto élan, tanta sede, tanta voluptuosidade uma vez que antes. Já tenho um marchar para perceber que vai dar para permanecer mais quieto”, diz. “Minha inserção no mercado já é mais branda, portanto tenho que pensar que não preciso açodar mais. Concluímos que é bom dar esse ‘bye-bye’.”

De março a novembro de 2025, Gil vai percorrer arenas e estádios de Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Belém, Fortaleza e Recife. Em breve serão anunciadas ainda datas nos Estados Unidos e Europa. A pré-venda de ingressos para clientes Banco do Brasil se inicia a partir das 10h de 19 de agosto, no site da Eventim, e no dia 22, às 12h, será oportunidade a venda para o público universal.

Realizada pela 30e e Gege Produções, a turnê estreará na Manadeira Novidade, em Salvador, onde o artista baiano fez uma apresentação histórica com o jamaicano Jimmy Cliff, em 1980. “Eu e a minha ancestralidade com relação a mim mesmo”, diz Gil, sobre a buraco na Bahia.

“Tempo Rei” vai virar “um leitmotiv” do show com direção músico dos filhos Muito e José Gil. A escolha corteja um tema médio na obra do tropicalista. Em suas canções reflexivas, o mundo sobrevive à morte individual, o finito estende-se infinito, o paixão vai além do término do paixão e a vida erótico esboça a perpetuidade.

A música responde à “Reza ao Tempo” de Caetano Veloso, seu irmão artístico, mais existencialista do que Gil ao professar que, ao transpor do círculo do tempo, “não serei nem terás sido”. O tempo segundo Gil transforma “as velhas formas do viver”.

A despedida não o afastará de shows pontuais e do ritual de conceber e gravar. No Rio ou Salvador, o violão sempre permanece em seu campo visual. Gil embaralha lazer, reflexão e trabalho nos exercícios instrumentais, e o rigor granjeiro pouco difere daquele externado nas minuciosas passagens de som e no hábito de ensaiar outra vez o repertório no camarim, perto de ser chamado ao palco.

“Tocar em vivenda e especular sobre as canções e os caminhos musicais, esse xodó e esse afeto com o instrumento, permanecem. Aliás, uma das razões é tentar lucrar mais tempo para essa dimensão doméstica da musicalidade. Uma música mais tranquila, mais meditativa, mais divagante.”

Aos 82 anos, o olhar realista sobre a finitude o ajudou a anunciar a última turnê. “As relações corpo, psique, mente, perceptibilidade, respiração, pulmonaridade, força muscular, todas essas coisas convergem para uma aquietação maior”, diz o compositor.

Na filarmónica, a presença de filhos e netos o cobre de afeto familiar. Uma das vozes da trupe, a cantora Flor Gil, sua neta, lança agora o single “Pranto Rosa”, uma prévia de seu álbum de estreia, previsto para outubro. “Ouvi quando ela estava começando a conceber. A gente estava na Austrália e na Novidade Zelândia, na última excursão. Ela tinha alguns momentos musicais registrados”, diz Gil.

Nos diálogos dele com filhos e netos, é perceptível o gesto de isenção ao transmitir saberes musicais e fazer ponderações críticas. “Não catequizei nenhum fruto para que fossem torcedores dos meus times. Na música também faço isso. Evidente que tem a minha presença permanente ali tocando, cantando, ouvindo coisas. Há uma saturação de música no envolvente, o que leva naturalmente à percepção dos talentos por segmento deles. Mas catequese eu não exerço.”

O repertório será discutido com sua equipe, mas Gil pensa em acomodar sugestões de fãs e amigos. Ele antecipa a teoria de homenagear seus mestres Dorival Caymmi e Luiz Gonzaga. Em vivenda, vem tocando com frequência “Marina”, de Caymmi, desconstruída em “Realce”, de 1979. Com “Toda Moça Baiana” e “Não Chore Mais” —versão de “No Woman, No Cry”, de B. Vincent—, além da canção-título, o álbum estimulou sua robustez de palco e o mergulho na extroversão.

“Nunca perdi o palato por esse disco. Sempre acreditei que era um disco de mergulho legítima nas inovações do campo pop. Eu já era muito afeiçoado a essa coisa no tempo do tropicalismo e na período londrina, onde ganhou novos ares com as experiências em Londres e na Europa. E depois, na volta para cá, com o ‘Expresso 2222’ e tudo que veio logo em seguida, culminando com ‘Realce’.”

A alegria com que fala da despedida e a intensidade dos novos projetos não indicam um final de curso. Antes, um queimação de recomeço. De 29 a 31 de agosto, na Sala São Paulo, Gil e o maestro italiano Aldo Brizzi apresentam a ópera “Paixão Azul”, com a Orquestra Jovem do Estado de São Paulo e o Coro Acadêmico da Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo.

O designer tropicalista Rogério Duarte, morto em 2016, esteve na origem do projeto. “Rogério tinha feito o ‘Bhagavad Gita’, uma versão da obra clássica da cultura religiosa indiana. Depois fez uma tradução do ‘Guita Govinda’, do poema do Jayadeva, submeteu ao Aldo e a mim e me sugeriu que nós tratássemos esse texto uma vez que uma ópera. Acabamos fazendo isso com o André Vallias.”

Gil afirma que a ópera não exigiu mudanças em suas explorações habituais de ritmo e simetria. “A proposta foi trazer o concepção operístico para o campo da música popular. Aldo é mais clássico, mais música de concerto, mas eu estou completamente afeito ao campo da música popular”, diz o compositor, que recorre ao seu quina oriundo. “A tarefa era trabalhar com aquilo que no mundo da obra clássica se labareda de árias”.

As gravações em voz e violão podem crescer depois do giro de despedida. “Gil Luminoso”, de 2006, produzido por Bené Fonteles e reeditado em LP duplo pela Rocinante/Três Selos, demonstra seu poder significativo em registros essencializados.

“Uma das situações domésticas do violão é o cultivo particularizado da música, com releituras e releituras, basicamente a partir da voz e do violão. Logo, acredito que mais adiante haja muito de revisitas, releituras, rearranjos”, diz ele.

O gosto do ser político e pensador do mundo tecnológico também não sofreu mudanças. Gil segue de olho. “O ciberespaço, as redes, a internet, acrescentaram elementos novos à relação entre a sociedade e os indivíduos, as sociedades e suas dinâmicas, seus governos e sistemas. Parece consensualmente aceita a teoria de que houve uma exacerbação na polarização, com aquilo que já nem se pode mais invocar de esquerda e direita, mas de um lado e outro, sempre, e ali adiante o mesmo lado do outro lado”, afirma Gil, que já foi ministro da Cultura de Lula e agora é membro da Liceu Brasileira de Letras.

O compositor diz crer que a regulação do envolvente do dedo aguarda decisões planetárias. “Aparece em mim cada vez um sentimento maior da urgência do governo mundial. Era utopia há 20 anos e agora precisa se configurar uma vez que verdade. Cada país fazer a sua pequena legislação não vai dar conta dos processos mundiais.”

O arauto das tecnologias sorri quando lembrado de que não parece ser o mesmo varão de uso comedido de laptop e celular. “Caetano me diz: você é um apologista da internet, mas não responde aos meus emails.”


Datas da turnê ‘Tempo Rei’

  • 15 de março de 2025 – Salvador – Moradia de Apostas Redondel Manadeira Novidade
  • 29 de março de 2025 – Rio de Janeiro – Farmasi Redondel
  • 30 de março de 2025 – Rio de Janeiro – Farmasi Redondel
  • 11 de abril de 2025 – São Paulo – Allianz Parque
  • 12 de abril de 2025 – São Paulo – Allianz Parque
  • 7 de junho de 2025 – Brasília – Redondel BRB
  • 14 de junho de 2025 – Belo Horizonte – Redondel MRV
  • 5 de julho de 2025 – Curitiba – Ligga Redondel
  • 9 de agosto de 2025 – Belém – Estádio Mangueirão
  • 15 de novembro de 2025 – Fortaleza – Núcleo de Formação Olímpica
  • 22 de novembro de 2025 – Recife – Classic Hall

Folha

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