Pretérito o furor da vitória em melhor atriz de filme de drama no Mundo de Ouro, Fernanda Torres terá mais trabalho do que nunca adiante da campanha de “Ainda Estou Cá” rumo ao Oscar. O prêmio aumenta consideravelmente suas chances, mas o caminho é longo e sinuoso.
Oriente é o momento para ela, e o resto da equipe, lotarem suas agendas com eventos, debates e sessões especiais, já que o interesse pelo filme em Los Angeles, provavelmente, nunca foi tão grande. A exposição de agora é uma munição importante, e deve ser aproveitada ao supremo por meio desses compromissos sociais, que servem de networking.
Até porque ainda temos quase dois meses até a cerimônia do Oscar, marcada para 2 de março, e o duelo principal será manter “Ainda Estou Cá” no boca a boca e na mente dos quase 10 milénio votantes da Liceu de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, em privativo na dos indecisos.
É importante ressaltar que a vitória no Mundo de Ouro diz pouco sobre uma indicação e eventual vitória no Oscar. O prêmio serve de publicidade, mas os votos que consagraram Torres não serão convertidos em votos na outra premiação –o corpo de votantes deles é totalmente dissemelhante.
Votam no Mundo de Ouro 334 jornalistas estrangeiros que cobrem cinema e televisão americanos, de 85 nacionalidades diferentes. No Oscar, os 10 milénio membros são nomes da indústria cinematográfica, divididos em grupos que seguem as categorias da premiação.
Há, por exemplo, o ramo dos atores, o dos diretores, o dos técnicos de som e por aí vai. A eles se somam executivos de estúdios e profissionais de marketing e relações públicas. Alguns, inclusive, são brasileiros, uma vez que Walter Salles, diretor de “Ainda Estou Cá”, e Fernanda Montenegro, colega de elenco e mãe de Torres.
A votação para os indicados ao Oscar abre nesta quarta-feira (8), e a proximidade com o Mundo de Ouro será ótima para os brasileiros. Em meio ao clima de surpresa em relação à vitória de Torres, muitos que antes deram pouca atenção verão valor em seu trabalho, mormente com as reações de choque e alegria de suas colegas indicadas, medalhões uma vez que Tilda Swinton e Nicole Kidman.
Em 12 de janeiro, a Liceu encerra o período de votação, para anunciar seus indicados no dia 17. Na data, as chances de vermos “Ainda Estou Cá” indicado a melhor filme internacional e Fernanda Torres em melhor atriz são grandes. As do filme sempre foram, as dela, nem tanto.
Agora com o Mundo de Ouro em mãos, a história muda –poucas atrizes que venceram o prêmio em drama não figuraram posteriormente na lista do Oscar, uma vez que foi o caso de Kate Winslet, vitoriosa em 2009 por “Foi Unicamente um Sonho”, mas esnobada entre as indicadas ao homenzinho dourado.
Na estrada até o Oscar, haverá ainda outras premiações que poderão beneficiar Torres, dando-lhe holofotes, e que servem de termômetros mais corretos. É o caso dos prêmios de sindicatos, em que segmento dos votantes se repetem. Por má sorte, o SAG, oferecido por e para atores, encerrou sua votação neste domingo, sem a influência do Mundo de Ouro.
A ele se soma o Bafta, equivalente britânico do Oscar, que anuncia indicados no dia 15 deste mês e fará sua cerimônia em 16 de fevereiro. Já a sarau do SAG acontece em 23 do mesmo mês.
Neles todos, a grande adversária de Torres será Demi Moore, a outra premiada da noite de Mundo de Ouro, na flanco de filme de comédia ou músico. Seu trabalho em “A Substância” vem sendo elogiado, e Moore se encaixa numa narrativa que Hollywood adora, a do artista que cai em desgraça e volta com tudo.
Ela mesma ressaltou isso em seu exposição de vitória, afirmando que um produtor lhe disse que ela não passava de uma “atriz pipoca”, mas que agora vê que tem talento e é merecedora. É uma narrativa que serve uma vez que marketing poderoso, e que pode ofuscar a jornada do herói de Torres, a brasileira feliz só por concorrer, mas que venceu os gigantes de Hollywood.
Torres também terá que derrotar outras atrizes elogiadas que não concorriam com ela no Mundo de Ouro –leste indica 12 atuações, divididas entre drama e comédia ou músico, enquanto o Oscar junta todos os gêneros numa lista de somente cinco nomes.
Cynthia Erivo é uma delas, por “Wicked”, muito uma vez que Mikey Madison, de “Anora”. A boa notícia é que o primeiro filme só levou um Mundo de Ouro de consolação, de melhor blockbuster, e o segundo saiu de mãos abanando, enfraquecendo suas campanhas. Já Karla Sofía Gascón segue potente depois de “Emilia Pérez” ter levado quatro troféus para mansão.
O músico gaulês é a grande pedra no sapato de “Ainda Estou Cá” em filme internacional. Apesar da força, porém, a exposição que a obra ganhou pode ser ruim, dando espaço também para as várias polêmicas atreladas ao filme e construindo um clima de repudiação.
Mais importante do que qualquer coisa, porém, é a disposição da Sony Pictures Classics, que secretária a campanha do filme lá fora, em injetar mais rios de quantia em Torres e “Ainda Estou Cá”. A julgar pela emoção que tomou a mesa da distribuidora no Mundo de Ouro, porém, não falta comprometimento com a cruzada brasileira.