A Mundo fez uma festança para comemorar seus 60 anos. Reuniu dezenas de artistas e celebridades na Farmasi Redondel, no Rio de Janeiro, onde ocorreram shows e homenagens à emissora na noite desta segunda-feira, um dia em seguida a data do natalício. O evento foi exibido na TV, simples, depois de “Vale Tudo”.
Estavam lá os atores da romance, aliás, que não comentaram as fofocas dos bastidores com a prelo. Mas a polêmica foi lembrada pela própria Mundo em uma piada esperta de Tata Werneck, que subiu ao palco vestida de Praga, um dos personagens mais engraçados do programa Xou da Xuxa, exibido nos anos 1990.
Foi essa mistureba que tornou o evento da Mundo mais jocoso, menos burocrático. O meio tirou sarro dos seus problemas, se rendeu aos memes da internet, e brincou com o concepção de multiverso para falar das suas criações sem tanger institucional.
Logo no prelúdios, por exemplo, as vilãs mais emblemáticas das novelas se encontraram numa esquete. Começam enfezadas umas com as outras, mas percebem que só prosperariam juntas —aí formam uma coligação, espécie de Vingadores às avessas. “Estão tentando nos substituir por influenciadores”, diz a asquerosa Carminha, reencarnada por Adriana Esteves, fazendo perdão com uma das críticas que a Mundo mais recebe nos últimos anos. A plateia deu risada.
Outro momento também estapafúrdio e jocoso ocorreu durante uma homenagem aos ícones do humor da Mundo, setor desvanecido na grade do meio desde que Marcius Melhem, ex-diretor do núcleo, foi denunciado de assédio sexual.
Numa simulação de chamada de vídeo, se reuniram personagens de programas porquê Casseta e Planeta, Sai de Grave, e até da Turma do Didi —Renato Aragão, que atuou na farra, sorria na plateia. No ano pretérito ele afirmou à Folha estar chateado com a emissora por não ter sido convidado ao Moço Esperança de 2023. Mas são águas passadas.
Quem também fez as pazes com a Mundo foi a atriz Regina Duarte. Ela gravou uma encenação de “Tele Tema”, música da romance “Véu de Prometida” que lançou em 1969. A atriz, que tinha virado persona non grata entre a classe artística por ter trabalhado ao lado de Jair Bolsonaro, que desmanchou o Ministério da Cultura, não aparecia mais na Mundo até recentemente. Mas as histórias das duas estão intrinsecamente ligadas, e o relacionamento entre atriz e meio voltou a esquentar há uma semana, quando ela deu entrevista a Pedro Bial para relembrar “Roque Santeiro”.
Novelas foram ostensivamente homenageadas durante o show, com a aparição de muitos atores, no palco e na plateia, referências a personagens memoráveis em figurinos e também nas piadas. Um momento que empolgou o público foi o devotado a “Vamp”, folhetim em que Ney Latorraca interpretou Conde Vlad, dos seus personagens mais lembrados. Dançarinos vestidos de morcegos esvoaçavam pelo palco.
Foi depois disso que Ivete Sangalo cantou “Relva Venenosa”, de Rita Lee, vestida toda de preto. Além dela, se apresentaram cantores porquê Roberto Carlos, que abriu a noite com a clássica “Emoções”, Fábio Jr., que apresentou “Psique Gêmea”, da romance homônima, e Negra Li, que cantou o tema de “Vai na Fé”, sucesso da dramaturga Rosane Svartman.
Foi destaque também a presença Sandy e Junior, em uma união rara, para cantarem “Eu Acho que Pirei”, da série que fizeram na Mundo em 1999. Em seguida, Angélica cantou vestida de Fada Bela, e Xuxa concluiu o momento nostálgico com seu megahit “Ilariê”. Toda a plateia ficou de pé para ver a apresentadora saindo de uma réplica da nave que ela usava em seus programas.
Teve ainda sertanejo, com uma reunião das Amigas, grupo formado por Simone Mendes, Ana Castela, Lauana Prado e as irmãs Maiara e Maraisa. Pagode apareceu na voz de Zeca Pagodinho e de Péricles. Da MPB, teve Gilberto Gil, que viaja pelo país com sua última turnê.
Poucos destes momentos empolgaram tanto o público quanto a coreografia feita pelas ginastas Daiane dos Santos, Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, que dançaram juntas “Run the World (Girls)”, um hino feminista de Beyoncé. Elas introduziram uma porção de atletas, que apareceram no palco sob aplausos.
A Mundo homenageou também seus jornalistas. Renata Lo Prete, apresentadora do Jornal da Mundo, lembrou que Roberto Marítimo fora jornalista antes de ser pai da Mundo. Sua colega Poliana Abritta, do Fantástico, defendeu o ofício, e fez reverência a seus colegas. Teve até Sandra Annenberg fazendo piada com seu meme sobre falta de elegância.
Aliás, não faltou glamour. Era fácil notar o tamanho do investimento no show, que teve efeitos visuais competentes, sincronia, um balé lotado e, simples, a presença dos maiores artistas do país. A Mundo chegou à terceira idade com sua sarau mais badalada.
O jornalista viajou a invitação da Mundo