À primeira vista, a construção erguida às margens das montanhas de mata atlântica que dominam a paisagem dos Estúdios Mundo, no Rio de Janeiro, pode fazer o testemunha confiar que está diante de mais uma edição do Big Brother Brasil. Mas a piscina, elemento medial do reality show, onde os brothers e as sisters expõem seus corpos para o delícia do público, logo mostra que não se trata do mesmo programa.
O comprimento da piscina foi reduzido quase pela metade, porque no Estrela da Morada, que estreia nesta terça-feira, os 14 cantores anônimos que ficarão confinados naquela vivenda meio lar, meio estúdio não terão muito tempo livre. Vão inventar, gravar, fazer dancinhas, planejar shows, debater estratégias de marketing e tudo o que uma estrela da música faz, em procura de renome, um contrato com a gravadora Universal Music e uma turnê, além do prêmio de R$ 500 milénio.
Mas não são só os participantes que terão de se provar durante os 50 dias de confinamento. Por trás dos muitos espelhos da vivenda, há uma equipe de quase 800 pessoas, comandada por José Bonifácio Brasil de Oliveira, o Boninho, e Rodrigo Dourado, o diretor artístico do programa.
É que, nos últimos anos, a audiência do BBB acendeu um sinal de alerta para a Mundo. Depois restabelecer o fôlego e ver os números crescerem em suas edições pandêmicas —ao espelhar os conflitos do próprio público, também confinado—, a média registrada pelo programa na Grande São Paulo, o mercado mais importante do país, caiu cinco pontos em 2022 e outros quatro em 2023. Neste ano, recuperou um ponto e meio. Os dados são do instituto Kantar Ibope.
Ainda que segmento do público hoje assista à televisão nas plataformas de streaming porquê o Globoplay —e essa audiência não seja contabilizada, porque os dados nem sequer são públicos—, há uma queda que se acentua anualmente e leva o programa para cada vez mais longe dos números do pretérito —para se ter teoria, em seu vértice, em 2006, o BBB registrou uma média de 47,2 pontos de audiência na Grande São Paulo, e neste ano ficou com 20 pontos.
Em entrevista por email, Dourado, o diretor artístico, nega que haja uma crise e afirma que “o BBB vai além da audiência da TV”, por estar “presente em múltiplas plataformas”. “O Estrela da Morada nasce com a vantagem de ter um time que faz isso há décadas, mas vai trilhar seu próprio caminho. Não dá para confrontar alguma coisa que está começando agora com alguma coisa que está há quase 25 anos no ar.”
“O programa segue relevante, mesmo com as transformações na forma de consumo e as mudanças da sociedade. Múltiplas gerações não só assistem na TV, porquê se engajam e repercutem o dia todo pelo Globoplay e pelas redes sociais”, acrescenta Boninho.
Para embasar suas afirmações, a Mundo cita uma pesquisa de 2021 do Kantar Ibope, segundo a qual 93% das publicações sobre TV e streaming feitas no X, o velho Twitter, dizem reverência ao programa. A emissora diz ainda que, numa estudo feita neste ano também no X em dias de grandes movimentações no BBB, 70% dos termos mais comentados da rede são sobre a emissora.
Segundo o diretor da TV Mundo, Amauri Soares, o engajamento do dedo atrai patrocinadores independentemente da audiência na TV. “As redes retroalimentam o programa, portanto pensamos em ativar esse ecossistema no segundo semestre”, ele afirmou, em entrevista sobre os planos da emissora para comemorar os 60 anos no ar no ano que vem.
No primeiro trimestre deste ano, o faturamento com publicidade da Mundo cresceu 18% em relação ao mesmo período do ano pretérito e se tornou o melhor em uma dezena. Dos R$ 2,33 bilhões arrecadados, R$ 1 bilhão veio do BBB.
Agora, a emissora terá 13 patrocinadores para o Estrela da Morada. Juntos, eles vão desembolsar quase R$ 300 milhões para exporem seus produtos não só nos comerciais do programa, mas nas redes sociais, nas festas e provas do reality.
Às quintas, há a “Prova da Estrela”. O ganhador fica imune e indica dois participantes para a “Guerra”, uma espécie de “paredão” do BBB. Às quartas, cada participante lança uma música nos serviços de streaming e quem tiver a fita mais ouvida até domingo se torna o “Hitmaker”, garantindo uma vaga para trovar para o público. Aos sábados, é a vez da prova que elege o “Possuidor do Palco”. Ele também ganha isenção e indica um colega para a eliminatória. É uma dinâmica toda inspirada pelo BBB, mas reembalada para o mundo da música.
O jornalista viajou a invitação da TV Mundo