DJ PV conta ao g1 que enfrenta resistência no mercado. ‘Tive referências seculares em vista técnico, de curso, de show, de apresentação, de experiência, até de gestão’, ele explica. Os vários ritmos da música gospel
Milhares de jovens reunidos em um mesmo evento e vibrando ao som da música eletrônica. A descrição poderia ser de uma rave ou de um show do Alok, mas também define as apresentações comandadas pelo DJ PV.
O artista goiano de 34 anos soma mais de 1 milhão de inscritos no YouTube, ultrapassa os 800 milénio ouvintes mensais no Spotify, é escoltado por 566 milénio seguidores no Instagram e tem seu trabalho voltado para a música cristã.
E, embora receba críticas de um público mais conservador, PV prova que música gospel vai muito além do louvor de veneração.
Nesta semana, o g1 apresenta artistas de vários estilos da música gospel, mostrando que o gênero vai além do louvor de veneração e se mistura com todos os ritmos e batidas.
Quem é DJ PV?
DJ PV
Reprodução/Instagram
DJ PV é Pedro Victor. O produtor e compositor nasceu em Goiânia e se mudou para São Paulo em 2019. Na capital paulista, vive com a mulher, Liége, e o fruto, Yan, de 10 meses.
Pedro trabalha com música desde os 15 anos. Nascido em lar cristão, teve seu início na arte dentro da igreja.
“Tem gente até que pensa que por eu ser DJ, talvez eu tenha maduro o que chamam de ‘mundo’, que eu tenha aprendido isso no mundo, no meio secular, mas não. Tudo eu aprendi na igreja, servindo a minha igreja lugar, trabalhando com dança, com hip hop, com teatro, com edições de vídeo, de áudio”, afirma em entrevista ao g1.
Suas referências vieram de dentro e de fora do segmento gospel. E isso não envolve unicamente a segmento músico.
“Existiram alguns DJs cristãos antes de mim. Infelizmente eles não tiveram a visibilidade que eu tive. Eu gostaria que houvesse muito mais representantes desse gênero. Eu pude ter umas referências mais clubbers, mais segmentadas. E também tive referências seculares em vista técnico, de curso, de show, de apresentação, de experiência, até de gestão, e que me trouxeram uma direção para os próximos passos.”
PV conta que 80% dos eventos em que se apresenta são conferências de jovens organizadas pelas igrejas. Diferentemente do que acontece com outras festas eletrônica, estas não contam com bebida alcóolica ou drogas.
DJ PV
Reprodução/Instagram
“A gente nem precisa falar de proibição: ‘Ah, não pode fumar, não pode ter pegação, não pode ter álcool’… As próprias pessoas já têm um perceptível bom tino em relação a isso. E as igrejas, uma vez que estão organizando essa dinâmica, já deixam muito norteado o envolvente para que isso não fique sem um padrão”, explica Pedro. “As pessoas estão ali realmente num momento de amizade, de alegria, de irmandade, de instituição.”
O artista também já tocou em alguns eventos cristão. Em um deles, teve a presença de Alok (o próprio PV já foi chamado de “Alok do Gospel”).
“E um vestuário interessante: o Alok já regravou música minha. Ele falou: ‘Rostro, eu sou um rosto muito conectado à espiritualidade e quero colocar isso no meu estilo de vida músico’… E aí ele regravou uma música minha juntamente com o Padre Manzotti [‘Vou Para O Alvo’]. Fiquei extremamente honrado com essa situação.”
“Isso parece um show terreno”
Em sua página no Instagram, DJ PV costuma receber várias críticas citando que seus eventos “parecem um show terreno”, “que Deus não se agrada com isso” ou que ele prega um “falso evangelho”.
“Acham que estão me ofendendo, mas pra mim, é mais um reforço de que estou engajado no propósito que fui chamado, executar o ‘Ide por todo o mundo e pregai o evangelho'”, responde ele na própria rede social.
Ainda assim, Pedro acredita ser importante cada um examinar sua própria história para entender se as apresentações serão benéficas ou não para a pessoa.
“Eu entendo muito muito alguns seguidores meus e até eventuais haters que falam: ‘Ah, isso aí vai distanciar as pessoas do caminho de Deus’.”
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@victordealmeidafotos
“Se você um dia esteve numa rave e foi muito usuário de drogas e essa música te faz lembrar coisas do seu pretérito que você não quer viver mais, realmente não é o melhor que você escute as minhas músicas eletrônicas.”
“Agora, também tem esse rosto que apesar de viver um tempo de drogas, de rave, de balada, já conseguiu ressignificar isso e se vê gostando da música eletrônica, ouvindo uma música com boas mensagens, cristã, saudável. E que vai inclusive fortalecer esse novo tempo na vida dele.”
Jovens querem relacionamento com Deus, mas não querem religiosidade
PV afirma que seu público nos shows não é formado exclusivamente por evangélicos. “Muitos, sequer são cristãos de prática, de ir à igreja, mas estão consumindo esse teor para se conectar com respostas”, acredita PV.
“Os jovens, principalmente, querem um relacionamento com Deus. O que eles não querem é a religiosidade. E o que que eu chamo de religiosidade? Esse formato às vezes muito sacro e que cria-se um ritual com muitas regras e pouca aplicabilidade real do Evangelho.”
“Quando você vê esses fenômenos uma vez que a música cristã eletrônica, rock, pagode, hip hop… fenômenos também fora da música, uma vez que Deive Leonardo, que fala com milhões de pessoas fora da bolha religiosa, você vê que trata-se um pouco dessa conexão de menos embalagem e mais veras. Menos sacro e mais um Deus de relacionamento real praticável no meu dia a dia.”
Parcerias orgânicas
PV tem parcerias com diversos artistas da música gospel, uma vez que Fernandinho, Gabriela Rocha, André e Felipe, Alex Campos, Redimi2, Leonardo Gonçalves e Preto no Branco.
Até por isso, diz não ver problemas de rixas dentro do cenário gospel, uma vez que costumam intercorrer no mercado de alguns gêneros musicais.
Alok e DJ PV
Reprodução/Instagram
“Da minha segmento, eu não posso reclamar, porque a minha música depende sempre de um feat. Eu não quina, logo eu sempre fui muito ajudado de maneira extremamente generosa por cantores de diversos subgêneros.”
“Eu sempre fui muito protegido por eles e sei que esse guarida pode até custar para eles uma certa repudiação pelo público mais tradicional que tem dificuldade com o meu gênero músico. Portanto eu posso manifestar que por onde eu ando, eu vejo muita unidade, sim.”
Apesar disso, PV é contra aqueles feats que são feitos unicamente porque os artistas fazem segmento do mesmo gênero músico.
“Tem pessoas que confundem a unidade com uma pseudo união, que ela muitas vezes não vai ser tão orgânica. ‘Ah, você tem que me ajudar porque a gente professa a mesma fé’. Cada um tem que ocupar seu espaço. Não pode ser uma obrigação com essa premissa de que ‘só porque a gente tem a mesma fé, você tem que gravar comigo, você precisa postar a minha música’.”
Fonte G1
