Aracaju
Reinaldo Gottino tem um oração dissemelhante do geralmente propagado por apresentadores de programas policiais na TV brasileira. Para ele, violência não se resolve com mais violência.
“Eu não posso usar o espaço que eu tenho na televisão para estimular mais violência num país violento, onde mulheres são mortas todos os dias, onde minorias são massacradas”, diz em entrevista à poste, sua primeira porquê titular do telejornal popular mais importante da Record.
Na emissora desde 2005 (com uma breve passagem pela CNN Brasil em 2019), Gottino assumiu o Cidade Alerta em janeiro, posteriormente a saída de Luiz Bacci da emissora. Conseguiu não só manter os bons índices que o predecessor alcançava, ele ampliou os resultados.
Na última quarta-feira (12), por exemplo, o Cidade Alerta chegou a vencer a Mundo por quase uma hora, contra a transmissão de futebol feminino, com picos de até 11 pontos na Grande São Paulo, graças a informações sobre o polêmico caso da jovem Vitória Maria, morta em Cajamar (SP).
Na entrevista, Gottino também fala do jeito “quietão” longe das câmeras, comenta as mudanças que tem feito no programa e a poderoso concorrência de programas policiais na TV nos fins de tarde. “Tem demanda, mas o Cidade Alerta é um programa tradicional”, afirma. Leia inferior os principais trechos.
Porquê você assumiu o Cidade Alerta?
Foi uma surpresa pra mim. Eu estava voltando de férias, ia assumir o Balanço Universal na segunda-feira. Na sexta-feira à noite, a Record me convidou pra assumir o Cidade Alerta, e me perguntaram se eu toparia iniciar na segunda-feira. Respondi que estaria à disposição. Para mim, ia ser difícil transpor do Balanço Universal, foi um programa que eu sempre adorei fazer. Mas eles disseram que eu tinha o perfil necessário para substituir o Bacci. E eu topei.
O que mudou na sua rotina?
Mudou totalmente minha vida. Eu acordava 6 da manhã, fazia treino e ia para a Record pouco depois das 7h. Participava da produção do Balanço Universal, apresentava o programa, 15h30 eu ia embora. Agora, eu entro 13h. Uma coisa que é interessante: meu fruto foi pra faculdade e ele entre 13h. Eu o levo de carruagem todo o dia agora. Isso tem sido bacana.
Você tem ido para a rua fazer reportagens, um tanto incomum para apresentadores do gênero. Por quê?
Eu sempre gostei de transpor pra rua pra fazer reportagem. Mas, no Balanço, eu não conseguia por justificação do horário. Porquê eu tinha gravações de chamadas pra fazer, eu tinha que estar no estúdio 11h. Qualquer lugar de São Paulo era no mínimo meia hora pra ir, meia hora pra voltar e no mínimo meia hora pra fazer a material. Agora, no Cidade, não mais. Eu consigo transpor e quero transpor mais.
Hoje, das quatro maiores TVs do país, três tem programas policiais no horário. Não é demais?
O Cidade Alerta é um programa tradicional. Temos 30 anos no horário. Eu acho que a concorrência é saudável, porque o telespectador escolhe onde ele vai presenciar, o que ele quer presenciar. Tem várias vertentes nesse tema, mas eu coloco o meu jeito. Mostro para o telespectador que vou estar mesmo em cima da notícia. Tem coisa acontecendo no Rio? Vou mostrar na hora. A gente monitora chuva, caso do delator do PCC, tudo. É logo que tento me diferenciar.
Você já disse que não é em prol de “bandido bom é bandido morto” e que defende ressocialização de criminosos anos detrás. Ainda mantém essa opinião?
Sim. Eu não mudo em zero. Eu não posso usar o espaço que eu tenho na televisão para estimular mais violência num país violento, onde mulheres são mortas todos os dias e minorias são massacradas diariamente, embora eu seja um protector de leis mais duras para quem comete crimes. Eu acredito em investimento na ensino, porque senão a gente vai permanecer num ciclo vicioso de violência e punição. A gente está vendo essa garotada crescendo sem extensão de lazer, sem incentivo na escola, sem tarefa, sem profissão. É um problema muito mais multíplice. Eu acho que a gente tem que ter leis severas, tem que ter punição, mas a gente tem que ter investimento em áreas importantes para mudar essa veras.
Você é mentor do Palmeiras? Me fala da sua vida fora da TV…
Sim, ainda sou mentor do Palmeiras. Eu sabor de fazer o que as pessoas curtem fazer. Sou um faceta muito geral. Bom você perguntar isso: fora do ar, eu sou um faceta muito tímido, introvertido. Às vezes, as pessoas acham que eu vou transfixar falar com elas porquê abro o programa. Outro dia, uma pessoa me encontrou e disse: “Nossa, você é quietão, né?”. E eu sou mesmo. As pessoas me estranham um pouco por que sou na minha.
Com 20 anos de Record, você tem qualquer libido na TV ainda?
Eu sabor de fazer jornalismo, eu sabor de fazer jornal, de fazer reportagem, de ir detrás da notícia. Eu sabor de trabalhar todo dia, de ter um compromisso. Programa de auditório? Não. Eu sabor de fazer jornalismo. É isso que eu sei fazer.