O governo federalista instalou, nesta sexta-feira (14), uma sala de situação preventiva para tratar sobre a seca e o combate a incêndios no país, mormente no Pantanal e na Amazônia. De concordância com a ministra do Meio Envolvente e Mudança do Clima, Marina Silva, há um agravamento dos problemas de natureza climática e as consequências chegarão mais cedo levante ano, com repercussão ambiental “muito grave”.
“Em função disso, já estamos agindo na lógica da gestão do risco e não exclusivamente do sinistro”, disse Marina, em seguida reunião da Percentagem Interministerial Permanente de Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas, no Palácio do Planalto. “Estamos agindo dentro de um cronograma para que tenhamos uma ação preventiva, por entendermos que o dispêndio de prevenir é sempre menor do que aquele de remediar”, acrescentou.
O Pantanal já vive uma estiagem severa, com escassez hídrica em toda a bacia. Historicamente, a escalada de incêndios acontece em agosto, mas já há, agora, pelo menos, 15 focos identificados.
Segundo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, o Pantanal nunca teve queimação no primeiro semestre do ano. “No primeiro semestre do ano, o Pantanal sempre esteve embaixo da chuva. Pela primeira vez a gente está com o Pantanal completamente sedento no primeiro semestre […]. A crise está começando agora, o Ibama já contratou mais de 2 milénio brigadistas para atuar em todo o Brasil com o foco no Pantanal e na Amazônia e nós vamos fazer aquilo que for necessário”.
Agostinho relatou que o Ibama está combatendo incêndios no entorno de Corumbá [MS], onde a situação é mais grave, na Transpantaneira e a oeste do Rio Paraguai. “São os focos hoje que despertam a maior segmento da atenção e esse trabalho está sendo feito junto com os estados”.
A reunião extraordinária da percentagem foi coordenada pelo presidente em treino, Geraldo Alckmin. O órgão é formado por 19 ministérios do governo. Já a sala de situação para seca e queimadas será coordenada pela Moradia Social da Presidência, com coordenação-executiva do Ministério do Meio Envolvente, e participação dos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, da Resguardo e da Justiça e Segurança Pública.
“É uma sala de situação, com certeza, prolongada e que agrega, no porvir, também o Ministério da Saúde porque, no caso dos incêndios, um dos problemas graves que a gente enfrenta é o problema de saúde, principalmente de pessoas idosas e de crianças”, explicou Marina.
Questões legais
A primeira reunião ocorre na segunda-feira (17), quando os integrantes tratarão questões legais, uma vez que processos de simplificação de contratação de equipes de brigadista, equipamentos e aeronaves, muito uma vez que a possibilidade de buscar recursos extraordinários.
“No caso do Pantanal, nós temos uma combinação de incêndios provocados pelo varão e incêndios naturais que dificultam muito a ação porque temos áreas de difícil aproximação. Por isso a urgência, inclusive, da mudança de normas para que, se tivermos que pedir esteio a parceiros internacionais, podemos ter essas aeronaves operando em território brasiliano”, explicou Marina.
“Tudo isso são planejamentos preventivos, para que a gente possa fazer frente ao que sabemos, em função da estiagem severa, em função da grande quantidade de material orgânica no ponto de esbraseamento, e ao mesmo tempo do Pantanal não ter atingido a quinhão de enxurrada e de que na Amazônia os rios também não atingiram a quinhão de enxurrada. Vamos precisar ter um planejamento que já vem sendo feito de forma antecipada”, acrescentou.
No caso da Amazônia, o Ministério do Transporte já está a se antecipando com obras de dragagem e provisão das comunidades. “É preciso nos anteciparmos ainda mais com suprimentos de combustível, de oxigênio, de víveres, enquanto os rios ainda não baixaram”, disse.
Marina explicou que, apesar de tratar de Pantanal e Amazônia nesse primeiro momento, a sala de situação será dinâmica. “Nós estamos com enxurrada no Rio Grande do Sul, mas daqui a pouco teremos seca, nós já temos situações de seca no Nordeste. Logo, vai tratar dos vários assuntos, para os vários biomas. O foco no Pantanal e na Amazônia é porque o período de estiagem já está posto, nós já temos ele identificado e é preciso agir dentro de um cronograma para poder fazer frente”, destacou.
A ministra reforçou ainda que há um esforço de agir de forma previdente não exclusivamente do governo federalista, mas de governos estaduais, alguns municípios, a sociedade social e uma segmento da iniciativa privada, “que trabalha também em colaboração quando se trata do Pantanal”.
No início do mês, o governo federalista e os governos do Pará, Acre, de Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia e Mato Grosso assinaram um pacto para planejamento e implementação de ações colaborativas para prevenção e combate aos incêndios florestais e ruína de vegetações nativas no Pantanal e Amazônia.
Orçamento
Segundo Marina Silva, as ações emergenciais já estão sendo praticadas desde outubro do ano pretérito, com operações em campo do Ibama e ICMBio, junto com os governos estaduais. Mas ainda não há razão para estatuir situação de emergência.
Nesse primeiro momento, os recursos utilizados para prevenção são do orçamento de cada ministério envolvido na ação, mas o governo já avalia as possibilidades, em caso de urgência de recursos extraordinários. A ministra enfatizou, entretanto, que o objetivo da prevenção é, justamente, evitar um gasto de recursos mais volumoso.
“Vai ser anunciado no tempo evidente, houve um pedido, uma demanda que foi feita e a junta orçamentária está fazendo a sua avaliação. Ontem conversei com o ministro [da Fazenda] Fernando Haddad, já tinha conversado com a ministra [do Planejamento] Simone Tebet, com a ministra Esther [Dweck, da Gestão] e todos eles, junto com a Moradia Social, estão conscientes da ligeireza do processo e da viabilização desses recursos”, disse Marina.
A ministra comentou ainda que é preciso que todos os Poderes estejam envolvidos nas ações e que, no caso do Congresso Pátrio, há parlamentares “trabalhando para que a gente consiga fazer frente às necessidades reais do país”.
“A gente não pode generalizar o Legislativo. O Congresso Pátrio é a mansão da sociedade e se tem atitudes de instrumentalização de temas que são altamente complexos, delicados para a sociedade brasileira, para as mulheres brasileiras que precisam ser respeitadas, uma outra segmento do congresso não pensa assim”, disse, em referência à tramitação acelerada do Projeto de Lei 1.904/2024, que equipara monstruosidade a homicídio e, em eventual aprovação, pode impedir que meninas vítimas de estupro e que vivem em situações de vulnerabilidade social consigam interromper a gravidez indesejada.
