A história que a escola de samba Acadêmicos do Grande Rio vai mostrar leste ano, na Marquês de Sapucaí, foi transmitida de geração a geração nos terreiros de tambor de Mina da Amazônia paraense. Tudo começa com a chegada de três princesas turcas à Amazônia, em procura de tratamento.
“É uma história de matriz verbal que narra a saga de três princesas turcas que se encantaram em tá mar, atravessaram o espelho do encante, não experienciaram a morte e se tornaram entidades encantadas. Elas aportam em território brasílico e se ‘ajuremam‘ no coração da floresta, ou seja, experienciam os ritos da Jurema Sagrada [religião que mistura elementos afros e indígenas], transformando-se em animais de poder”, disse o carnavalesco Leonardo Bora, em entrevista à Escritório Brasil,.
Junto com Gabriel Haddad, mais uma vez adiante da escola verdejante, branco e vermelho, de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, Bora falou sobre a prestígio das princesas no enredo Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós, tema da escola neste ano.
“As princesas são as protagonistas da Mina paraense. São as entidades mais queridas do Tambor de Mina do Pará e celebradas, reverenciadas pelos carimbós.São as protagonistas da Mina paraense. as entidades mais queridas do Tambor de Mina do Pará, celebradas e reverenciadas pelos carimbós. Por mestres uma vez que Dona Onete, cuja música Quatro Contas é a espinha do enredo, o que conduz poeticamente a nossa narrativa, já que nessa formação, Dona Onete saúda as três belas turcas uma vez que suas protetoras e também a cabocla Jurema”, completou.
Uma vez que nos últimos anos, a escola apresenta um tema de importante discussão, mas nem tão divulgado. “O carnaval carioca sempre teve esse compromisso, a tradição de apresentar ao grande público e ao mundo histórias do nosso povo, da pluralidade brasileira, da inconstância socio cultural brasileira. Eu e o Gabriel entendemos que estamos nessa trajetória. Sempre que escolhemos um enredo, procuramos um enfoque diferenciado, um recorte específico, entendendo à potência disso e à prestígio do enredo, a reverberação que ele pode ter e o chegada a diferentes públicos , explicou.
Bora acrescentou que o processo de construção do enredo para 2025 – Pororocas Parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós – segue um pouco essa teoria.
“É uma história ainda não contada no Grupo Peculiar do Rio de Janeiro. Uma história muito presente nos terreiros da Mina Paraense, que é um multíplice religioso fascinante, uma mistura de religiões de matriz africana com religiões dos povos originários brasileiros, indígenas. Portanto, é um enredo de muita mistura. A própria teoria de pororoca já é isso. A pororoca é o encontro das águas dos rios da Amazônia com as águas salgadas do oceano. O enredo todo é fundamentado nessa teoria de mistura, de hibridação e é isso, com esse espírito que a Grande Rio vai velejar bastante na Sapucaí.”
Enredo
O enredo é dividido em cinco setores. O primeiro, que é a preâmbulo do desfile, começa em meia viagem, já no oceano.
“É o processo de encantamento das princesas, o atravessamento do espelho do encante. A travessia encantada uma vez que o samba de enredo canta. O segundo setor é a chegada da vigor ao Brasil. A gente canta a teoria de barreira do mar, uma vez que a própria Dona Onete menciona em Quatro Contas, que é o encontro das águas da Amazônia com as águas oceânicas.”
As princesas são saudadas uma vez que as pororocas, porque elas protegem a floresta. As pororocas são as ondas gigantes que quebravam as embarcações dos invasores. “Neste setor, a gente mostra o encontro dessa vigor com a vigor das civilizações extraordinárias que habitaram o solo parawara, uma vez que a cultura marajoara. A força que vem do barro e brota da greda que também é chuva. O samba canta Quem é de barro, no igapó, é Caruana. É isso que o segundo setor mostra”, comentou.
Ao entrar no coração da floresta, o terceiro setor vai mostrar a aproximação das princesas com a cultura da Jurema Sagrada e a conexão delas com outros seres encantados e fantásticos que habitam o imaginário ribeirinho das matas da Amazônia. “É o setor do boto, boiuna, entidades que também são saudadas no nosso samba de enredo e na transformação das princesas em animais de poder: a arara cantadeira, a onça, a jiboia e a mariposa azul.
No quarto setor, a escola vai mostrar a formação da Mina Paraense, um multíplice religioso, segundo o carnavalesco, que une influências religiosas muito diversas. “É o setor que a gente saúda no refrão de cabeça do samba: É força de Mestiço, Vodun e Orixá. A gente utilizou bastante para a concepção os diálogos do tambor de Mina Dois Irmãos, que é o mais idoso do Pará, localizado em Belém”, afirmou.
A Grande Rio vai fechar o desfile mostrando uma vez que a história se transforma em carimbó. “Contamos o sorte das princesas, celebramos os curimbós, que são os tambores que dão ritmo ao carimbó. No nosso entendimento, eles são a voz dos encantados guiados pela melodia de Quatro Contas., essa mistura de teoria de santo com o carimbó da dona Onete. Vamos mostrar uma vez que mestres e mestras saúdam esse imaginário com uma grande sarau, um banho de cheiro, um grande carnaval sobre as águas da Amazônia, águas de Nazaré uma vez que Dona Onete canta”, concluiu.
Princesas turcas
Bora afirma que, para a dupla de carnavalescos, é muito importante que psique e espírito do enredo sejam entendidos. Por isso, comemorou o envolvimento de pessoas que conhecem e defendem essa cultura.
“É um enredo em de quem processo a gente conseguiu casar os atores sociais profundamente envolvidos com esse imaginário e talvez não seja um imaginário tão divulgado do público do carnaval carioca. As religiões de matrizes africanas da Amazônia foram pouquíssimas vezes mencionadas pelas escolas de samba. É um imaginário distante da gente, no entanto, é o cotidiano das populações ribeirinhas, de todo mundo que admira essas histórias, essas narrativas da Mina em um estado tão múltiplo uma vez que o Pará”, disse.
Entre as pessoas que ajudaram, estão as artistas que vão simbolizar as três princesas turcas na avenida. “Procurmos casar ao supremo atores sociais, ao longo dos processo de pesquisa, muito baseados na escuta. Pessoas uma vez que a Fafá de Belém, a Dira Paes e a cantora Naieme são artistas que cantam os imaginários amazônicos, que levam isso para o mundo todo, que trabalham com essas narrativas de diferentes formas. A Rafa Bqueer, pesquisadora também convidada, nos auxiliou bastante durante o processo de construção de narrativa deste enredo. Ela é uma artista paraense que, de saída, conhece muito muito esse vocabulário, que não é só de palavras, mas de sentidos de vivência muito expresso no samba”, destacou.
Princesas
No desfile da Grande Rio, cantora Fafá de Belém vai simbolizar a princesa Mariana, a mais velha das três princesas, que se apresenta na figura da arara cantadeira. A princesa Herondina, que é a do meio, e simboliza a onça, terá na avenida a atuação da atriz Dira Paes. A terceira, mais novidade, Jarina, representada pela jibóia e pela mariposa, será a cantora Naieme.
Fafá, que sempre divulga e defende a cultura paraense, adorou o invitação. “Recebi com muita alegria, porque é uma mito que nos acompanha desde a puerícia”, disse a cantora à Escritório Brasil.
Ela afirmou que é geral, no seu estado, as mulheres se identificarem com as princesas. “Todas nós mulheres paraenses temos uma confederação muito poderoso com as três princesas. É uma coisa dos nossos tambores, porque é desse povo da encantaria; não é nem macumba, nem candomblé”, explicou.
A satisfação com o invitação foi maior quando soube que representaria Mariana. “Fiquei muito feliz, ainda mais, de vir uma vez que a cabocla Mariana, que é uma referência muito poderoso na minha vida, assim uma vez que todas as outras entidades femininas com as quais me identifico. A cabocla Mariana é tipo minha parceiraça”, disse sorrindo.
Samba
Para narrar a história, Leonardo Bora está esperançoso no samba escolhido para leste ano. “É um samba muito privativo, formado por uma parceria ligada a uma escola de samba de Belém, a Deixa Falar. Entre os compositores tem um rabino de carimbó, o Rabino Damaceno. Achei muito bonito a Fafá estar encantada com o processo, que é a termo que a gente mais usa. A gente quer que seja um desfile seduzido, estamos falando de encantaria. O que esperamos é que a Grande Rio encante a avenida, que todo mundo mergulhe nessas águas encantadas, assim uma vez que a Fafá já mergulhou.”
O carnavalsco destacou que Dona Onete é uma artista que também canta muito esses imaginários, assim uma vez que o rabino Verequete, outro nome fundamental quando se pensa no multíplice cultural do carimbó. “Cantou esse imaginário, o nome dele é o nome de um vodum, é quem reúne a cantaria segundo a tradição do tambor de mina”, relatou.
Se tudo isso vai levar à conquista de mais um título uma vez que o de 2022 com o enredo Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu, a depender do esforço que foi feito no barracão essa possibilidade é poderoso.
“Sempre trabalhamos esperando o melhor, e nenhum artista vai falar que não deseja que sua escola, que seu trabalho seja vencedor. Finalmente, é uma competição, e nós trabalhamos para isso. Esperamos magnífico resultado, mais do que tudo ,fazer desfiles definitivos, que marquem de alguma forma a memória desse coro coletivo, que representa uma cidade inteira, tão apaixonada, tão aguerrida, que é a cidade de Duque de Caxias. A comunidade da tricolor, que está sedenta por esta vitória, deseja muito perceber a segunda estrela, a primeira foi conquistada em 2022, que saudou Exu, essa vigor tão múltipla, a força que arrebatou a avenida.”
COP
O indumento da escola fazer um desfile com leste enredo, justamente no ano da realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, no Pará, faz sentido para o carnavalesco.
“É importante para a gente pensar nas questões planetárias, isso passa pela valorização das comunidades tradicionais, dos saberes de matriz verbal e, no caso específico do nosso trabalho, meu e do Gabriel, é uma continuada. A gente felizmente vem conseguindo dar perenidade a um pensamento maior, a uma risca de raciocínio que vem se desdobrando os enredos que sempre olham para diferentes territórios.”
A cantora Naieme, que será uma das princesas no enredo, e ficou extremamente feliz de ver sua cultura ser valorizada, destacou a prestígio do enredo em ano de Cop 30, em Belém, quando os olhos do mundo se voltam para a Amazônia.
“Trazer essa narrativa mágica para o carnaval do Rio de Janeiro, de forma lúdica e riquíssima, para a Marques de Sapucaí, a mensagem que fica de prelecção é: ‘Sim, nós podemos! Sim, que essa mensagem de preservação, valorização da floresta em pé, da manutenção da cultura e da vida de mestres e mestras, da valorização e perpetuação dos saberes ancestrais sejam mantidos por gerações, que possamos, através desse enredo, ensinar educar, informar ao nosso povo brasílico a prestígio de conhecermos e valorizarmos as manifestações culturais do nosso país”, disse à Escritório Brasil.
“A Amazônia não é só um grande véu verdejante. Embaixo do verdejante há pessoas, suas histórias, suas mazelas, suas tradições. A Amazônia é uma mulher que pariu seus filhos e filhas, suas crenças, histórias, vivências, que tem a sua própria espiritualidade, seu jeito de fazer cultura, música, dança, comida, tudo isso é muito importante de ser esparso. Estou feliz da vida de poder ver e viver esse momento”, disse.
Naieme recordou que a cultura paraense já foi mostrada por outras escolas em desfiles muito sucedidos. “Nossa cultura já esteve na avenida outras vezes sendo campeã, temos tudo para eriçar a Sapucaí e mostrar a força da nossa encantaria. Uma vez que dizem em Caxias, podemos.”
Força da Grande Rio
Bora lembrou enredos que marcaram a risca adotada por ele e por Gabriel Haddad. “ A gente olhou para Gomeia [Joãozinho da Gomeia, que era negro, nordestino, gay, espírita, dançarino e sofreu perseguição política e religiosa], para os subúrbios cariocas com o Zeca Pagodinho, olhou para a presença tupinambá nesse Brasil, que é a terreno indígena, e agora, mais profundamente, para Amazônia paraense, para a greda do solo, avito marajoara e para os terreiros de tambor de mina que também são giras, rodas de carimbó”, afirmou.