Um dos mais conhecidos cartões-postais do Rio Grande do Sul, o Guaíba é tema de discussão quando o ponto é a sua classificação. Alguns chamam de rio, outros de lago, mas não há consenso. O debate é velho, mas por conta das chuvas que atingem o estado desde o término de abril, o tema voltou à tona já que as águas do Guaíba invadiram o núcleo da capital Porto Satisfeito e obrigaram centenas de pessoas a deixarem suas casas.
Até os anos de 1990, o Guaíba foi considerado rio. A partir daí, passou a ser definido uma vez que lago. Oficialmente, a prefeitura de Porto Satisfeito assumiu recentemente o Guaíba uma vez que lago. O executivo municipal criou, inclusive, o Comitê da Bacia do Lago Guaíba.
Na avaliação do professor Joel Avruch Goldenfum, diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federalista do Rio Grande do Sul (UFGRS), não existe consenso científico em torno da definição do Guaíba uma vez que rio ou lago, porque o corpo hídrico tem comportamento dual. “As margens se comportam muito uma vez que lago, principalmente envolvendo questões de recirculação, baixa profundidade, sendo basicamente bidimensional, ou seja, não existe direção preponderante. O rio tem uma direção uma vez que se fosse uma risca. No lago, a chuva fica girando”, afirmou em entrevista à Sucursal Brasil.
De entendimento com Goldenfum, no meio do Guaíba passa um meio grande, de onde vêm águas do Rio Jacuí, que drena 80 milénio quilômetros quadrados, ou um terço das águas do estado. “É muita chuva; logo, tem uma manante importante. Por isso, pessoas argumentam que um lago pode ter um rio passando por ali. Só que, muitas vezes, o comportamento é preponderante uma vez que rio e, outras vezes, pode ser preponderante uma vez que um lago.”
Para o professor, em termos de modelagem, de variação de níveis, de uma vez que o Guaíba enche ou esvazia, pouco importa se vão chamá-lo de lago ou de rio. O que importa é modelar os processos. “Porque, na verdade, eu vou modelar o sistema considerando todas as influências que ele tem, considerando o que acontece quando ele sobe, onde ele recircula etc.” Goldenfum ressaltou, todavia, que existem outras questões envolvidas que são mais de questão lícito e que mudam o problema.
Interpretações
De entendimento com a legislação, se o Guaíba for um rio, tem que ter um recuo não edificado muito grande que, dependendo do sítio, pode variar de 100 a 500 metros. Ninguém tiraria o que já existe, mas não poderia edificar novas construções. Se for considerado lago, a dimensão não edificada varia entre 10 e 30 metros, dependendo das interpretações. “Existem interpretações distintas sob o ponto de vista científico, sem se preocupar com a questão lícito, e pessoas que dizem que o Guaíba se comporta predominantemente uma vez que rio, ou predominantemente uma vez que lago. “Quem chega primeiro dá o nome”, afirma o professor.
Goldenfum lembrou que o nome dos biomas aquáticos é oferecido pela população. “A população sempre chamou de Rrio Guaíba. De repente, houve essa movimentação, que pode ter tido motivação técnica, no sentido de que o Guaíba seria predominantemente lago, ou pode ter outras motivações”. O consenso não existe, porque o Guaíba tem comportamento dual, reafirmou o professor. Por outro lado, existe um movimento lícito, capitaneado pela Associação Gaúcha de Proteção ao Envolvente Procedente e o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais, para que o Guaíba tenha uma fita de proteção permanente. Há também uma ação social pública questionando a definição do Guaíba uma vez que lago. “Quem vai resolver isso, no final das contas, vai ser a Justiça, e não a ciência”, disse Goldenfum.
Ciência
O coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Satisfeito e também da UFRGS, Rualdo Menegat, disse à Sucursal Brasil que a polêmica geográfica em torno do Rio ou Lago Guaíba e da Lagoa ou Laguna dos Patos não se justifica. Menegat afirmou que, do ponto de vista da ciência, o correto é Lago Guaíba. “Não temos incerteza sobre isso. Mas há também o nome mais popular, que é Rio Guaíba.”
Segundo o geólogo, nos últimos 20 anos, o nome Lago Guaíba tem sido mais usado porque as pessoas foram se convencendo que ele, na verdade, funciona uma vez que um lago. “Também é importante que as pessoas se conscientizem pelo nome correto, porque aquilo que a gente joga em um lago fica ali. Aquilo que se joga no rio, as pessoas pensam que é um problema do vizinho de ordinário.”
Por isso, insistiu que do ponto de vista da gestão ambiental, é importante que se usem conceitos corretos porque estes são os que os professores vão ensinar na sala de lição. O Guaíba é definido uma vez que um lago desobstruído que recebe chuva da rede fluvial, formada por quatro rios (Jacuí, dos Sinos, Caí e Gravataí) que afluem para o Lago Guaíba, que, por sua vez, também escoa essa chuva para a Laguna dos Patos. “Está conectado com ela.”
Atlântico
A Laguna dos Patos está conectada com o Oceano Atlântico. “Por esta razão, por estar conectada com o Atlântico, é uma laguna, e não uma lagoa. Isso se explica porque tanto escoa chuva para o Oceano Atlântico, uma vez que também recebe chuva de lá. Existe uma interconexão. A chuva sai, mas também a chuva salgada entra e saliniza as águas na região sul da laguna.”
O professor Rualdo Menegat informou que, na região costeira do Rio Grande do Sul, há um multíplice sistema de lagos e lagunas, que tem quatro lagoas interconectadas: o Lago Guaíba, a Lagoa do Consórcio, a Laguna dos Patos e a Lagoa Mirim. Esse sistema de vasos comunicantes é interconectado, por sua vez, com o Oceano Atlântico, por meio da Laguna dos Patos.
“Isso quer expor que as lagoas estão no nível do mar. Isso é importante porque, na medida em que o nível do mar sobe, impede a saída de chuva da laguna. Já, na medida em que o nível do mar desce, permite a saída de águas da laguna e, por conseguinte, de todo o sistema interconectado, que nós chamamos mar de dentro, pela sua grandeza”.
Nascente é o maior sistema do tipo na América do Sul e um dos maiores do mundo, destaca Menegat.
Confirmação
O professor Jaime Federici Gomes, do curso engenharia social da Escola Politécnica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, explicou que laguna é um espaço que está em contato com o mar. Daí, Laguna dos Patos. Lagoa é uma coisa isolada, de chuva gulosice. “Já laguna, não, tem contato direto com o mar”, enfatizou, em entrevista à Sucursal Brasil.
Ao definir o que é um lago, Gomes disse que é quando levante tem características que não são totalmente unidimensionais. “Eu prefiro falar Lago Guaíba. Ele tem uma zona médio, que parece um rio, mas dos lados, no corpo dele, apresenta escoamento bidimensional, com áreas de recirculação do fluxo e zonas mais paradas.”
Segundo o professor, Rio Guaíba não é uma concepção adequada, porque ele tem mais características de lago do que de rio, com escoamento que tem circulação, aglomeração e retenção de chuva.