Na movimentada esquina da Rua dos Pinheiros com a Avenida Pedroso de Morais, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, duas imagens passaram a conviver nos últimos dias. Na primeira há uma dançarina com o corpo levemente predisposto para um dos lados e mãos delicadamente para o cocuruto. Ela parece estabelecer um diálogo com a parede ao lado, onde está pintada a imagem de um vaso azul e amarelo sendo remendado e reconstruído pelas mãos de duas pessoas.
Cada uma dessas duas imagens que foram pintadas na parede de um mesmo prédio residencial localizado na Avenida Pedroso de Morais, número 144, expressa estilo e linguagens diferentes. Mas elas foram feitas por meio de um trabalho colaborativo e estão lado a lado para lembrar os dois anos da guerra entre a Ucrânia e a Rússia e tutorar proteção ambiental. Chamado de The Exchange (o intercâmbio, em português), o mural está sendo inaugurado hoje (5) e é uma iniciativa do Instituto Ucraniano no Brasil.
A primeira imagem, a de uma dançarina imitando o movimento de borboletas, foi feita pelo famoso artista ucraniano Sasha Korban, em sua primeira visitante ao Brasil. Para vir ao país, ele precisou pedir permissão peculiar do governo ucraniano. “Eu não estava participando diretamente do campo de guerra, mas uma vez que na Ucrânia está tendo guerra, os homens não podem terçar fronteira [sem autorização]”, disse ele à Filial Brasil.
Korban ficou mundialmente divulgado por sua obra Milana, um mural pintado em setembro de 2018 em um prédio da cidade ucraniana de Mariupol. A pintura, uma rapariga de três anos abraçada a um urso de pelúcia, homenageou a pequena Milana Abdurashytova, que teve a mãe morta por um ataque de míssil russo enquanto tentava protegê-la. A pintura acabou se tornando um símbolo de resistência no país.
A obra ao lado, que mostra borboletas emergindo de um vaso tradicional ucraniano rachado, é do artista brasílico divulgado no país e no mundo: Eduardo Kobra. Muitas de suas obras, uma vez que o mural que pintou para a Organização das Nações Unidas, em Novidade York – e que mostra um pai entregando o planeta para sua filha – têm uma vez que tema a preservação do meio envolvente e a construção da silêncio.
“Palato de tratar de temas que falam de silêncio, de tolerância, de união dos povos, de reverência, de simultaneidade. Já venho há muitos anos trabalhando os murais com essas temáticas”, disse o artista brasílico. “[Achei a ideia do mural conjunto] fabuloso justamente para que possamos, juntos, por meio dos nossos pincéis e das nossas tintas – que são as nossas armas – passarmos essa mensagem pedindo o término dessa guerra, que é um contraditório”.
“Acho que qualquer pessoa percebe o quão contraditório é qualquer tipo de guerra e eu acho que o mundo tem que se movimentar para que esse tipo de conflito cesse o mais rápido provável”, ressaltou Kobra.
União pelo mural
O primeiro encontro de Kobra e Korban no Brasil ocorreu em Itu, no interno de São Paulo, onde o artista brasílico recentemente inaugurou seu ateliê. Foi ali que eles pensaram no gravura que estamparia as duas paredes do prédio. O trabalho de pintura teve início na última terça-feira (27).
“[No meu ateliê] pudemos discutir detalhes técnicos de proporção, de tamanho, de estética e de logística, e em uma vez que a gente iria fazer para organizar essa pintura”, disse Kobra. “Não é fácil [uma pintura como essa]. A gente pegou agora uma semana, ainda muito que não choveu, mas teve calor intenso, portanto é um trabalho realmente duro, mas, uma vez que costumo proferir, o mais importante não é a pintura em si, mas a mensagem, o argumento”, acrescentou.
Cada um com seu traço e suas cores, eles foram construindo esse mural conjuntamente, lado a lado. As borboletas de Kobra vão de encontro à bailarina de Korban e simbolizam o voo de liberdade que os ucranianos desejam erigir. Já o gesto das mãos, que se destaca em ambos os trabalhos, mostra a reconstrução de um país que foi destruído pela guerra. Com isso, o mural acaba se transformando em um tratado sobre união e silêncio e um manifesto pela proteção do meio envolvente.
“Quero fazer isso, traçar um pouco que dê esperança ao nosso país e aos nossos povos, para que ainda possamos ser uma vez que vivíamos antes. Evidente, a guerra teve sua influência em todo o povo ucraniano e para mim também. Eu sempre estava desenhando um pouco que dava esperança, que mostrava a vida e a vontade de viver. Mas depois que a guerra começou, minha arte começou a refletir mais essas ideias de esperança, de libido de vida e a teoria de que vamos conseguir resistir e termos uma vida normal”, disse Korban. “Meus desenhos não são diretamente sobre guerra, mas mostram a humanidade na requisito dessa guerra”.
A dançarina, descreveu o artista ucraniano, é um símbolo dessa luta. “A minha secção do gravura é uma moça que está dançando, mas na verdade essa dança é uma luta, uma guerra. Em conjunto com a secção do mural do Kobra, ele demonstra a luta e toda a tentativa de preservar a natureza, porque eu sei que cá no Brasil vocês também têm esse campo de guerra que é a preservação da natureza. O gravura mostra a tentativa de preservar a integridade da Ucrânia, de salvar a Ucrânia e, ao mesmo tempo, de salvar toda a natureza”, falou Korban.
Projeto
Unir Kobra e Korban no projeto de um mural no Brasil para comemorar a silêncio e a preservação do meio envolvente foi teoria do Instituto Ucraniano, uma instituição governamental que tem a missão de promover a cultura ucraniana. “Nascente é o nosso primeiro projeto no Brasil e inclui dois artistas, um ucraniano e um brasílico, porque por meio da arte nós conseguimos falar não somente sobre os problemas que temos em generalidade, mas também das oportunidades e poderes que temos em generalidade”, disse Alim Aliev, diretor-adjunto do Instituto Ucraniano, em entrevista à Filial Brasil.
“Além de destruir muitos artigos de arte, muitas vidas e os destinos do povo, a guerra também está destruindo a ecologia e o meio envolvente. Hoje, a Ucrânia é considerada um dos territórios mais poluentes do mundo. Entendemos que se não nos mobilizarmos com essa tema hoje, juntos e com todo o mundo democrático, portanto amanhã nos espera um porvir muito difícil”, acrescentou Aliev, que também obteve permissão do governo ucraniano para vir ao Brasil.
Segundo o emissário da Ucrânia no Brasil, Andrii Melnyk, a guerra transformou milhões de hectares da Ucrânia em campos minados, repletos de projéteis e substâncias químicas tóxicas, e causou uma ruína ambiental generalizada. Ou por outra, ela tem privado milhares de ucranianos do entrada à chuva potável. “Dois anos depois a invasão em grande graduação da Ucrânia pela Rússia, os danos ambientais deliberados causados pela guerra trouxeram consequências devastadoras para infraestruturas essenciais, recursos naturais, ecossistemas críticos e a saúde, meios de subsistência e segurança das pessoas”, disse ele em nota.
Aliev conhece muito essa veras. “A Ucrânia, em universal, está em guerra. E por isso cada um faz alguma coisa que pode ajudar a fabricar a silêncio. Nós estamos perdendo nossas pessoas, perdendo nossos melhores conterrâneos. Eu, por exemplo, tenho amigos que agora estão no campo de guerra. Também tenho amigos e parentes que moram no território ocupado, porque eu sou da Crimeia, portanto eles estão sofrendo lá com essa situação de ocupação. Eu tenho muitos amigos que foram forçados a transmigrar para outros países. E por isso é muito importante conseguir saber essa silêncio, para que todo o povo que agora está espalhado pelos outros países possa voltar [para a Ucrânia]”, disse ele.
Para o diretor do Instituto Ucraniano, a arte pode ser importante instrumento nesse caminho de construção para a silêncio. “O artista é muito importante porque qualquer povo, qualquer país, sempre se une ao volta dos valores. A arte é muito importante porque podemos nos unir com base na crédito. E o que é essa crédito? Crédito é quando você conhece outro, quando você conhece suas tradições, quando você conhece suas culturas e seus costumes. E é somente por meio da arte que poderemos ocupar essa crédito um no outro”.