Hayao Miyazaki Passa A Vida A Limpo Em O Menino

Hayao Miyazaki passa a vida a limpo em O Menino e a Garça – 19/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Uma vez que vocês vivem?” A pergunta parece ser feita por uma muchacho, mas vem do nipónico Hayao Miyazaki, de 83 anos, proprietário dos maiores sucessos do Studio Ghibli, uma vez que “A Viagem de Chihiro”, vencedor do Oscar, e “Meu Vizinho Totoro”.

Mas essa questão, que dá nome ao novo filme do diretor —o primeiro em dez anos, desde que anunciou sua aposentadoria posteriormente “Vidas ao Vento”—, chega ao Brasil nesta quinta-feira uma vez que “O Menino e a Garça”.

A tradução não é enganosa. Há, de roupa, um menino e uma garça, e o enredo é a típica fábula onírica do responsável que tanto influenciou nomes uma vez que Steven Spielberg e James Cameron. Mas, traduzido para o paladar médio do Oeste, o título não dá a dimensão autobiográfica da novidade obra, a mais pessoal de todas, segundo o diretor.

Quando estreou no festival de San Sebastián, na Espanha, em setembro, “O Menino e a Garça” estava envolvido em mistério. Só com um pôster e uma sinopse vaga, especulavam sobre a relação com o livro homônimo “Uma vez que Vocês Vivem?”, de Genzaburo Yoshino, best-seller de 1937 nunca publicado no Brasil.

Miyazaki tem o livro uma vez que setentrião, mas não adapta literalmente essa história sobre um garoto que acabou de perder o pai e aprende uma vez que superar as adversidades da juventude com conselhos de um tio.

No filme, seguimos Mahito, um menino que se muda de Tóquio para o campo depois da morte da mãe num incêndio durante a guerra. Ele acompanha o pai, Shoici, um industrial do ramo de aviação, assim uma vez que o pai de Miyazaki, recém-casado com sua cunhada, Natsuko. A mulher é idêntica à mãe do garoto e está prenha.

Quando ela some posteriormente adentrar um mata, o jovem será guiado por uma garça falante a um mundo paralelo para resgatar Natsuko e saber um misterioso tio-bisavô, que deixou a veras para se tornar o demiurgo dessa dimensão que desafia o tempo e a morte.

A ingresso fica numa torre abandonada, dos quais umbral traz, não por contingência, uma letreiro do “Inferno” de Dante. Para além desse portal se desdobra um reino de seres de outros tempos, mas que espelham a veras de Mahito. Curiosamente, cá, as aves são sempre hostis, com pelicanos que se alimentam de almas e periquitos gigantes comedores de humanos.

Tão mágicas quanto o restante de suas criações, essas metáforas ajudam Miyazaki a passar sua vida e curso a limpo, expiando as angústias posteriormente a morte de Isao Takahata, em 2018, seu rabi e rival no Studio Ghibli.

“Miyazaki é Mahito, Takahata é o tio, e eu sou a garça”, disse Toshio Suzuki, produtor do longa, numa entrevista na ocasião da estreia nos Estados Unidos. O tio é representado uma vez que um ancião recluso, com fartos bigodes e cabelos brancos, lembrando a introspecção do responsável de “O Túmulo dos Vagalumes”. Já a garça é atrapalhada e malandra, um jeito bonachão de Miyazaki simbolizar o produtor que o atazana desde os anos 1980, quando juntos fundaram o Ghibli.

Hoje presidente do estúdio, o varão de negócios administra a empresa que, mesmo liderando as bilheterias no Japão a cada lançamento —”O Menino e a Garça” foi o terceiro filme mais visto no país no ano pretérito—, sobrevive pelo merchandising e abriu, em 2022, um parque temático.

Por fim, apesar de comparações com a Disney, o estúdio se opõe à indústria ocidental, preservando animações contemplativas, complexas e feitas à mão. No caso de “O Menino e a Garça” foram sete anos de produção, com diversas mudanças de rumo. Mahito, por exemplo, teria mais interações com o tio na história, mas a morte de Takahata obrigou o diretor a simbolizar sua pouquidade.

Em perspectiva, esse 12º longa é um dos pontos altos da sua obra. Poeta dos ventos, dos voos e da venustidade do invisível, Miyazaki chega à maturidade lembrando que é preciso saber viver, mas sem perder o idealismo.

“O Menino e a Garça” complementa seu filme anterior, “Vidas ao Vento”, cuja título era um verso de Paul Valéry —”o vento se ergue, devemos tentar viver”.

O trabalho, anunciado em 2013 uma vez que seu último longa antes da aposentadoria, parecia mesmo um testamento de tão melancólico. Uma vez que um “Oppenheimer” nipónico, Miyazaki, pacifista militante, animou a biografia do engenheiro aeronáutico Jiro Horikoshi, cujos caças foram adotados pelos kamikazes.

Repleto de referências à sua puerícia e a seu pai, “Vidas ao Vento” foi um adeus de Miyazaki uma vez que varão. Já “O Menino e a Garça”, na sua relação com a figura materna, a vetustez e o luto, dá o tom da despedida de um artista.

Se a repetição era sinônimo de estilo para Hitchcock, não é à toa que nascente filme lembre os melhores momentos do cineasta. Há crianças presas em um mundo fantástico e hostil, referto de espíritos e criaturas sábias e de aparências enganosas —uma vez que em “A Viagem de Chihiro”—, além de torres e castelos vivos e fartamente decorados —uma vez que em “O Fortaleza Entusiasmado”.

A morte e a doença rondam as personagens uma vez que em “Meu Vizinho Totoro”, mas sempre com o contraponto da filosofia xintoísta, do folclore nipónico e do estabilidade homem-natureza, qual “Princesa Mononoke” e “Nausicaä do Vale do Vento”.

Mas Mahito tem alguma coisa de original. Sua valentia se confunde com orgulho, e, ao longo da jornada, ele se recusa a ver o mundo por uma novidade perspectiva. É paradoxal para um alter ego do próprio Miyazaki, cujos personagens sempre encontram libertação nos céus.

Eles voam para crescer, voam em direção às utopias e à pureza da puerícia, para longe das guerras, voam para a morte para furar asas à vida. Pé no pavimento, Mahito encontra o tio-bisavô numa torre inacessível, onde vive uma vez que um deus daquela dimensão.

“Estou velho e procuro um sucessor”, diz ele a Mahito. “Você vai continuar meu trabalho? Meu sucessor deve vir da minha linhagem.” Sem entrar em spoilers, a resposta do jovem resume a relação do cineasta com Takahata, que o revelou uma vez que talento ainda nos anos 1970.

Dessa vez, uma vez que já confirmou Suzuki, o produtor, Miyazaki não fala mais em aposentadoria, mas tampouco há um novo projeto em vista ou um sucessor. Outros talentos da mansão saíram para fundar seus próprios estúdios ou morreram.

O novo filme também recupera a turbulenta relação do diretor com seu fruto, Goro Miyazaki, responsável de dois filmes do estúdio, mas que nunca teve grande sucesso nem reconhecimento do pai. Ele ficou célebre por reconhecer sua falta de experiência e falar publicamente de Miyazaki uma vez que um pai ausente e um artista exigente demais. Arquiteto de formação, Goro Miyazaki hoje prefere cuidar do legado do pai tocando o parque do Ghibli que projetou em Nagoya, sobre 300 quilômetros de Tóquio.

Esse impasse do estúdio, entre a nostalgia e um orientação incerto, mansão muito com o final tanto declivoso uma vez que positivo de “O Menino e a Garça”. Uma vez que em todos os filmes de Miyazaki, há sempre um vazio que nos pega de assalto e preenche de saudade —nunca se sabe muito do quê.

Folha

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