Com segmento dos vocais gravados no sótão de sua lar e uma letra carregada de simbolismos, o irlandês Andrew Hozier-Byrne emplacou seu primeiro sucesso em 2013. “Take Me To Church” fala de um paixão erótico, sentenciado pela religião —a voz melodiosa canta, em tradução, que “não existe inocência mais pura do que nosso gulodice vício”.
Mas o que destacou Hozier no cenário da música opção global foi o videoclipe da música, que, hoje, acumula mais de meio bilhão de visualizações. Em preto e branco, ele acompanha um parelha gay na Rússia, que, posteriormente cenas apaixonadas, é perseguido por um grupo de rapazes.
Uma dezena depois, Hozier lançou seu terceiro álbum de estúdio, “Unreal Unearth”, que ele traz em show nesta sexta-feira (30), no Espaço Unimed, na zona oeste de São Paulo. Em entrevista à Folha, o cantor discutiu suas referências e inspirações, pouco mais de um ano posteriormente sua primeira passagem pelo país, quando cantou no Lollapalooza.
Nesse meio-tempo, também teve outros sucessos nas paradas musicais, uma vez que “Too Sweet” e “Work Song”. Por cá, sua “Nobody’s Soldier” atualmente está na trilha do remake de “Vale Tudo”. O imaginário mitológico e as questões sociais permaneceram, de lá para cá, constantes na sua obra.
Considerado por ele uma vez que seu “álbum pandêmico”, “Unreal Unearth” narra o termo de um relacionamento por meio de referências à “Divina Comédia”, de Dante Alighieri –mais especificamente, os nove círculos do inferno. São menções sutis, acenos a certos cantos ou trechos da obra, ele explica.
No caso de “Francesca”, Hozier trata da história da personagem que, no livro, é castigada no segundo círculo do inferno por ter sido adúltera. Na letra, ele fala que, apesar de saber que seu coração seria quebrado, ele faria tudo novamente.
Já “Swan Upon Leda”, da versão estendida do álbum, troca o paixão romântico pelo protesto, relembrando o mito heleno em que Zeus se transforma em um cisne e seduz a rainha de Esparta, Leda, para criticar a perda de inocência e a perseguição aos direitos reprodutivos femininos.
Antes de lançar a música, de sonoridade etérea, ele disse que a obra prestava solidariedade às mulheres americanas, do qual aproximação ao monstro permitido foi ameaçado posteriormente uma decisão da Suprema Galanteio dos Estados Unidos em 2022. Ele também lembra que foi inspirado por uma fala da jornalista egípcia Mona Eltahawy, para quem o controle às mulheres é uma das formas mais antigas de ocupar o mundo.
“Vejo as coisas que escrevi no meu primeiro disco e penso que, desde jovem, temi que iríamos em direção à política que vemos agora. Usando uma vez que cabrão expiatório as minorias, os pobres, os elementos mais fracos da sociedade”, diz o cantor sobre a guinada conservadora.
Já em “De Selby”, partes 1 e 2, que abrem “Unreal Unearth”, Hozier transporta o ouvinte para o mundo de Dante Alighieri, levando-o pela mão à descida ao submundo. Na primeira segmento, ele canta versos na língua irlandesa, o gaélico.
O linguagem, proibido pela diadema britânica no século 17, enfrentou dura e violenta repressão até meados do século 20. De forma semelhante, em “Butchered Tongue”, ele se refere ao apagamento da cultura celta pelo Reino Uno. “Uma língua massacrada ainda canta cá supra do solo”, entoa.
Hozier se mostrou entusiasmado pela renovação do gaélico por meio da música –outros artistas, uma vez que o grupo de rap Kneecap, que ele diz estar na vanguarda deste movimento, também cantam no linguagem.
“Isso está ocorrendo em paralelo com os irlandeses reavaliando sua relação com os legados imperiais, tanto do Reino Uno uma vez que dos Estados Unidos”, afirma, “e reinvestindo em um tanto que, na Irlanda, remonta há milhares de anos”.
Hozier se sente atraído pelo samba brasílio pelo mesmo motivo –em sua última vinda ao Brasil, ele inclusive participou de uma roda. “Eu senhor músicas de tradições populares e as histórias que elas contam. São histórias do povo, cheias de narrativa, mesmo que eu não entenda o linguagem”, afirma.
No show de São Paulo, na sexta-feira, o músico deve tocar músicas de vários momentos de sua curso, desde os maiores hits, “Too Sweet” e “Take Me To Church”, às músicas do primeiro disco, uma vez que “From Eden” a suas últimas composições do último disco, “De Selby” e “Francesca”.
Depois, a turnê “Unreal Unearth” vai ao Rio de Janeiro, onde Hozier se apresenta neste domingo (1º).