Não importa que o cantor e compositor canadense Abel Tesfaye, sob o pseudônimo The Weeknd, tenha faturado zilhões de dólares em álbuns e turnês que repercutiram mundialmente nos últimos anos. Alguém precisa avisar ao rapaz que seus supostos problemas psicológicos trazidos pela reputação não são interessantes a ponto de serem transformados em um filme. O resultado, “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes”, é de uma mediocridade imperdoável.
Dirigido pelo novato e aparentemente zero reluzente Trey Edward Shults, o filme se concentra em mostrar Tesfaye interpretando o personagem que o acompanha desde seu início na música pop. Desta vez, no entanto, The Weeknd aparece fragilizado, incapaz de se restaurar por ter sido ignorado pela namorada e à cercadura de um ataque de nervos durante uma turnê. Seu único “esteio” vem do empresário, que a cada noite precisa de muita conversa e bastante cocaína para fazer seu pupilo entrar no palco.
Numa narrativa paralela, o testemunha acompanha outra personagem perturbada. Anima é uma pequena muito jovem que começa o filme colocando incêndio na mansão de alguém, provavelmente um namorado que aprontou para cima dela. É totalmente previsível que Anima e The Weekend devam se encontrar mais adiante na trama. Quem sabe até ele mesmo seja o objeto da fúria da pequena.
Até esse encontro, a primeira metade do filme é um insuportável desfile de closes de The Weeknd na versão “tenso”, suando em bicas e cheirando pó a cada relação no celular que a ex não responde. E os shows seguem, e aí o filme demonstra uma penúria injustificável. Não foram usadas filmagens de shows verdadeiros do cantor, e tudo fica capenga e terrivelmente rente.
Numa opção que parece medida para segurar custos, não há a reprodução visual de um show. A opção foi filmar The Weeknd num estúdio, porquê se estivesse no palco, mas registrado unicamente em closes intermináveis. Para quem assiste, é muito frustrante permanecer olhando a face do cantor estourada na tela e unicamente imaginar que ele esteja num estádio com dezenas de milhares de fãs.
Depois de quase uma hora sem propriamente uma história sendo contada, Anima e The Weeknd cruzam seus caminhos. Isso acontece numa noite de romance de diálogos frouxos, culminando numa breve cena de coito infestada de filtros e outros efeitos visuais que a transformam numa sequência aborrecida e descartável. A partir daí, resta ao testemunha testemunhar até o final para desvendar qual dos dois é o mais maluco, enquanto o roteiro deriva para cenas violentas.
Em suas duas metades muito distintas, a autoexposição do suposto inferno psicológico do cantor e a absurda relação com a pequena, o filme não escapa de uma chatice abissal. O testemunha é praticamente desafiado a permanecer na sala de exibição até o final.
Quando lançou o álbum “Hurry Up Tomorrow”, no início do ano, The Weeknd já tinha demonstrado que era o ponto mais ordinário de sua discografia. É um trabalho voltado para o próprio umbigo, com letras que são uma espécie de pedido de desculpas de um artista que se sente destruído por um implacável mundo do entretenimento. É um disco extenso demais, com poucas faixas boas e muitas canções fracas.
Se o relato do que é visto na tela em “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” já é uma pena inapelável a um filme sem motivos para ter sido produzido, há o agravante de que The Weeknd recorrer a trechos de suas letras porquê secção do roteiro. Embora seja um artista pop competente e faça canções pegajosas, seus versos são de uma pretensão proporcional a sua mediocridade. Utilizá-los porquê uma instrumento de narrativa é um erro brutal.
Para colocar o último prego no caixão do filme, os atores têm uma performance constrangedora. Barry Keoghan, famoso posteriormente dançar pelado no superestimado “Saltburn”, exagera na caracterização do empresário libertinagem e faz uma caricatura. Jenny Ortega, a graciosa Wandinha do streaming, não tem muito o que fazer porquê Anima, além de caras e bocas de uma moça cada vez mais maluquinha. E The Weeknd é simplesmente péssimo. Não é um ator, nem chega perto disso.
Provavelmente a reputação do artista irá trazer alguma bilheteria para essa tentativa cinematográfica. Vale lembrar que a sátira já foi bastante condescendente com a minissérie “The Idol”, que ele criou para o Max em 2023, também fingindo ser ator. Curioso é que ali a trama trazia Lily-Rose Depp porquê uma cantora que sofre um breakdown durante sua turnê. Parece ser uma preocupação obsessiva de The Weeknd. Talvez fosse melhor ele procurar ajuda médica.
