Ibram X. Kendi é, sem incerteza, uma das maiores referências na luta antirracista contemporânea.
Seu trabalho tem gerado um impacto profundo nas discussões globais sobre raça, justiça e paridade, reverberando não exclusivamente nos Estados Unidos mas também em outras partes do mundo. Seu livro “Uma vez que Ser Antirracista”, publicado no Brasil pela editora Subida Cult, foi um marco na literatura antirracista nos Estados Unidos, permanecendo por meses na lista dos mais vendidos do The New York Times, e já foi traduzido para uma série de idiomas.
Embora seja seu livro mais sabido, ele é responsável de mais de uma dezena de obras, sendo que cinco delas alcançaram o topo da lista de best-sellers. Ou por outra, Kendi foi a pessoa mais jovem a receber o National Book Award, o prêmio literário mais prestigiado dos Estados Unidos.
Sua obra, mormente seu compromisso com o antirracismo ativo, ressoa profundamente com o trabalho que desenvolvo. Foi a partir de “Uma vez que Ser Antirracista” que encontrei inspiração para grafar o “Pequeno Manual Antirracista”.
Por isso, foi com grande alegria que, na última semana, pude recebê-lo em Novidade York, no início da turnê de lançamento do meu livro em inglês, “Where We Stand” (tradução de “Lugar de Fala”, pela Yale University Press), quando tivemos a oportunidade de dialogar sobre nossos trabalhos e as semelhanças das lutas antirracistas nos Estados Unidos e no Brasil.
Ibram apresenta porquê teoria meão que não há neutralidade no antirracismo. Ou estamos combatendo ativamente as injustiças ou estamos perpetuando o problema. Mas, ao contrário de boa secção de seus colegas, Ibram não entende que o ato racista essencializa a pessoa porquê racista. Para ele, uma pessoa pode ser racista e antirracista ao mesmo tempo, sendo necessário um permanente trabalho de conscientização e responsabilidade para desistir as ideias racistas cada vez mais por completo.
Outro ponto de destaque de sua abordagem é seu uso do termo “políticas racistas” para se referir àquilo que, no Brasil, chamamos comumente de racismo estrutural ou institucional. Para Ibram, políticas racistas são sistemas e práticas que mantêm e reforçam as desigualdades raciais. Ele insiste na preço de popularizar esse termo para que se possa combatê-las de maneira prática e eficiente, através do voto e da cobrança de representantes eleitos e eleitas.
Uma de suas contribuições importantes é a explicação de que tais políticas racistas não afetam exclusivamente a população negra, embora esse grupo enfrente os maiores e mais históricos desafios. Uma política racista pode, por exemplo, impactar negativamente outras populações, porquê os homens brancos, em contextos específicos.
Um exemplo fornecido pelo responsável são os crescentes índices de suicídio entre homens brancos nos EUA, que aumentaram concomitantemente à aprovação de leis que facilitam o aproximação a armas de queimada –uma política que, embora voltada para o grupo branco, também tem efeitos devastadores.
Na nossa conversa, ficou evidente que as lutas estão interligadas entre os países. Ibram fala sobre o racismo nos Estados Unidos, mas suas palavras ecoam no Brasil. Essa solidariedade, vale proferir, é um tanto que precisa ser entendido com maior intensidade por intelectuais do Setentrião Global, sobretudo os norte-americanos, que acabam influenciados pelo autocentrismo da política no país.
Ibram, ao romper com essa blindagem, soma à internacionalização da luta antirracista. Ele enfatiza a preço de construirmos solidariedade entre diferentes países, aprendendo uns com os outros e adaptando estratégias aos contextos locais. Não podemos lutar isoladamente. O racismo é um problema global e a resistência a ele precisa ser coletiva.
Uma das ideias poderosas que ecoou na nossa conversa é a preço de olharmos criticamente para a história. Não podemos tratar o racismo porquê um tanto do pretérito. Ele está presente em todas as estruturas sociais, políticas e econômicas, tanto nos Estados Unidos porquê no Brasil. A luta é contínua, e as marcas deixadas pela escravidão em nossas sociedades são profundas. Entender porquê essas marcas se manifestam hoje é crucial para qualquer transformação real.
O evento em Novidade York marcou o início da minha turnê e proporcionou uma troca intelectual valiosa com Ibram. Saí desse encontro com a certeza de que, juntos e juntas, além de unir forças, podemos prosseguir na construção de pontes e entender a preço de uma visão transnacional.
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