Identidade, noção da voga, commodity no mercado político e cultural, tem uma dinâmica voltada ao conflito porque se afirma mais facilmente diante das diferenças que não convivem muito. Refiro-me a identidades coletivas e não psicológicas, ainda que elas se misturem.
O sociólgo espanhol Manuel Castells, no seu clássico “O Poder da Identidade”, secção de sua trilogia sobre a sociedade em rede, lançada no final do século pretérito, vaticinou, uma vez que uma Cassandra maldita, que o século 21 seria obsesso por duas forças em conflito: de um lado, aquilo que na estação se chamava, com um manifesto orgulho típico do fetiche moderno do progresso, a “globalização”, e do outro, a reação das identidades que recusavam ser dissolvidas no mar da identidade globalizada, tecnológica, e, naquele momento, gozando com o suposto “poder democrático” das nascentes redes.
Nos termos do responsável, havia três identidades em jogo: a legitimadora, a normatizadora, àquela profundeza, a globalizante, que emanava da ordem institucional das sociedades. A de projeto, uma vez que o feminismo e o ambientalismo, e a de resistência, com vocação à resguardo das comunidades que recusavam a globalização.
Vejamos uma releitura provável dessa trilogia a partir de 2024. A identidade legitimadora, normativa, “rica”, representada pelos liberais ocidentais, que estavam realizando, e realizaram, a “globalização”, tinha uma vez que “core” da sua dinâmica o capital, simples, ainda que travestido de querubim da liberdade e da paridade.
A segunda, a de projeto, que era exemplificada pelo feminismo e pelo ambientalismo, diria hoje, pelo movimento LGBTQIA+, se caracteriza não uma vez que uma negação da identidade normativa, mas uma vez que um esforço para fazer essa identidade normativa convidá-la para seus círculos de poder.
Basta ver os departamentos de multiplicidade do capitalismo para entender essa teoria em ação. Castells acertou em pleno. Bonito de ver quando uma Cassandra vaticina o horizonte. A identidade de projeto só quer ter um capitalismo para invocar de seu.
Por isso, se adapta muito em Novidade York ou na Califórnia. E ainda chamam isso de esquerda. A terceira, a sombra —no sentido junguiano— do século 21, a identidade de resistência, seria aquela que, dissemelhante da identidade de projeto, teria uma vez que intenção pôr queimação no parquinho do capitalismo globalizado festivo.
De lá para cá, esses inimigos da “sociedade ocasião” embaralharam as cartas e chegaram mesmo a usar conceitos tidos pelo fetiche moderno do progresso uma vez que seus, uma vez que o superior noção de “liberdade”. Liberdade para recusar himeneu gay, monstruosidade, refugiados, imigrantes ilegais, xingar, atirar em bandidos, mentir —uma vez que, aliás, todo mundo na política—, enfim, liberdade para ser “nós mesmos”, com nossos hábitos “ancestrais”, escolhas de vizinhos, parentes agregados, crenças religiosas.
Danem-se quem nos acham reacionários, “agora é a nossa vez”. O ódio também é um recta inalienável do varão —e da mulher, simples. Pensemos no caso da Europa. Se pegarmos uma lupa e colocarmos sobre essas identidades de resistência, veremos que elas se consideram “nativas” por oposição às invasões bárbaras —conhecemos essa frase, não?
O velho mundo não tem saída fácil e é, hoje, um palco evidente dessa dinâmica entre identidade normativa “rica” —a comunidade europeia— e as identidades de resistência que se opõem à “identidade europeia”. O que fazer com os refugiados? O que fazer com a população muçulmana?
Aparentemente, os seculares europeus desistiram do sexo, enquanto os muçulmanos vão muito muito, obrigado nesse quesito. Logo, estes engravidam suas mulheres todo dia. Identidades sem reprodução são condenadas à extinção.
A lucidez pública — um nicho específico dentro da identidade normativa “rica”— xinga esses defensores das identidades de resistência de todos os nomes que você pode imaginar: racista, extrema direita, populista, sexista. O próprio termo da voga, “cordão sanitário” ao volta dessas identidades, para que elas não contaminem as democracias, escancara uma vez que os vemos: uns vermes
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