O Festival de Angoulême, o mais importante evento de histórias em quadrinhos (HQ) do mundo, acontece até o próximo domingo (2) em Angolema, no sudoeste da França. E nesta 52ª edição tem brasiliano na disputa: Luckas Iohanathan, ilustrador e quadrinista oriundo de Mossoró, no Rio Grande do Setentrião, está na competição solene com “Porquê Pedra” e pode levar o prêmio de melhor HQ do ano, o principal do evento.
O ano de 2024 foi privativo para o jovem quadrinista. “Porquê Pedra” (Comix Zone) venceu o prêmio Jabuti de 2024 na categoria melhor HQ do ano. Logo em seguida, foi traduzido e publicado em agosto do ano pretérito na França pela editora iLatina, com o título “Comme une Pierre”, e selecionado para o Festival de Angoulême.
O reconhecimento do talento de Luckas Iohanathan, hoje com 30 anos, foi muito rápido. Em 2018, ele criou o primeiro quadrinho, “O Monstro Debaixo da Minha Leito”, lançado gratuitamente na internet em 2020 e que recebeu prêmios, antes de ser publicado em 2023.
“Não esperava lucrar o Jabuti e muito menos ser indicado a Angoulême. É um sentimento meio estranho, porque é porquê se não fosse real ainda”, contou à RFI antes de embarcar para a França. Ele chega a Angoulême nesta quinta-feira (30) para participar do festival que sonhava em saber.
“Eu sempre tive vontade de saber Angoulême porquê leitor, porquê público, e ir pela primeira vez porquê artista, e ainda mais participando da premiação, já está mais do que suficiente”, disse, completando que prefere não esperar uma eventual premiação.
“Porquê Pedra” está na competição solene que distribui ao todo seis prêmios. Se levar o “Fauve d’Or” de melhor HQ do ano, Iohanathan será o segundo brasiliano a receber a recompensa depois de Marcelo Quintanilha, premiado por “Escuta, Formosa Márcia” em 2022. “Da mesma forma que eu entrei nesse mundo vendo quadrinistas brasileiros sendo reconhecidos, espero que eu também sirva para alguém que quer entrar nos quadrinhos ver que é provável”, torce.
Nordeste brasiliano
“Porquê Pedra” narra a vida de uma família nordestina, que tem uma filha com deficiência. A HQ de Iohanathan aborda questões históricas do nordeste brasiliano: a seca, a miséria, as desigualdades, a injustiça, denunciando a escassez de políticas públicas e o fanatismo religioso. O livro dialoga com toda uma tradição da literatura e do cinema brasileiros, porquê “Vidas Secas”, “O Pagador de Promessa”, “Morte e Vida Severina”, “Os Sertões”.
O ilustrador conta que seu objetivo inicial não era fazer uma narrativa de denúncia ou militante. Inspirado pelo livro “O Mito de Sísifo”, do gálico Albert Camus, ele quis fazer um narrativa filosófico. “Esse livro nasceu de uma incerteza. Eu me perguntando se esse tipo de vida vale a pena, se vale a pena todo esforço, se vale a pena continuar”.
No processo de geração, a narrativa evoluiu, influenciada por questões porquê o aquecimento global, a falta de remédio, a falta de leite e muitos outros elementos da história de vida pessoal do responsável no interno do Rio Grande do Setentrião. A resiliência materna é um tema mediano da obra.
A técnica do estampa de Iohanathan, que confessa “nunca ter gostado de pintar”, também remete a essa secura do Nordeste. Ele usa exclusivamente três cores para retratar o sertão brasiliano: o preto, o branco e o amarelo. “Eu queria que a cor tivesse um sentido na história, fosse uma emoção, gritasse também”, explica.
Para o quadrinista, o “amarelo representa muito esse calor que está grudado na pele dos personagens o tempo todo”, detalha, lembrando que as paisagens do interno nordestino são dominadas por essa cor. “É porquê se você visse exclusivamente o Sol, tomando conta do pavimento”.
Iohanathan acredita que essa história brasileira pode ressoar para leitores de outras culturas, porquê a francesa. “Eu queria que no quadrinho as coisas externas fizessem com que os personagens estivessem naquelas situações. Que aquilo não era culpa deles. Coisas porquê o aquecimento global, qualquer região do mundo está sofrendo com isso, né? Portanto, eu acho que isso conseguiu dialogar com mais espaços e não só com o nordeste brasiliano”, pontua.
O Festival de HQ de Angoulême termina no domingo (2), quando os vencedores desta 52ª edição serão revelados.
