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‘In on It’ volta após 15 anos e pensa o teatro e a vida – 02/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

É vasqueiro o retorno de uma peça, com os mesmos artistas, uma dezena depois. A efemeridade do teatro e a ânsia por novidades vão deixando os repertórios para trás. “In on It”, porém, está de volta.

A estreia em 2009 teve tamanho sucesso de público que o diretor Enrique Diaz e os atores Emílio de Mello e Fernando Eiras fizeram sessões até 2015. Agora, eles reavivam o trabalho, em papeleta no Festival de Curitiba, e vêm a São Paulo no termo do mês.

O retorno testemunha a passagem do tempo. “In on It” esteve no Festival de Curitiba em 2010, mobilizando o público do Guairinha. Àquela profundeza, impressionavam as operações complexas do texto, com uma peça dentro da peça e camadas de memória, chamando os espectadores a erigir sentidos.

Diaz se interessou por esse modo porquê a dramaturgia do canadense Daniel MacIvor engajava o público. “Embora a estrutura seja engenhosa, ela convida a uma relação muito direta e afetiva”, diz.

“In on It” marcou um termo de ciclo na Companhia dos Atores, que ele dirigiu por um quarto de século, e com a qual montou trabalhos emblemáticos porquê “Experimento.Hamlet”, de 2004, propondo a desagregação do clássico e do próprio processo criativo.

Em MacIvor, Diaz encontrou estrutura semelhante num texto pronto. “Ele se utilizava da metalinguagem, o tipo de jogo que a gente fez muito na companhia”, afirma o diretor, que se lançou logo à montagem com novos parceiros, fora do coletivo.

Foram eles, Mello e Eiras, que capitanearam a retomada da peça num contexto de “pós-pandemia e depois de um governo de extrema direita, em que a cultura foi deixada de lado”, conforme diz Mello.

Com dois atores, duas cadeiras, um casaco e o texto multifolhas de MacIvor, leste era um trabalho verosímil em condições de produção mais precárias do que 15 anos antes. E havia o apelo do público em prol, perguntando sobre a volta da peça.

Conseguiram tarifa no Oi Porvir, no Rio, e começaram a ensaiar em São Paulo, onde são vizinhos. A temporada lotou de quarta a domingo, com duas sessões no sábado. “A gente sentiu que esse patrimônio do teatro, o jogo vivo, voltou a ocorrer e de maneira até mais intensa”, afirma Diaz.

Mello e Eiras mantiveram a dupla em muitas das apresentações, porquê as do Festival de Curitiba. Mas o diretor estará em cena ao lado do primeiro na temporada paulista. “Voltei a ser muito mais ator do que eu era”, conta Diaz, a caminho das gravações da romance “Volta por Cima”. “Tenho feito muita televisão, às vezes cinema. Essa peça foi uma volta ao jogo da atuação com o público.”.

Para ele, tem sido “uma façanha” atuar em seguida ter dirigido outro ator no mesmo papel. “A gente vê o trabalho que fez junto, as particularidades dele, seus questionamentos, e tem uma intelecção sensível do que era o campo de indagações do personagem. Tem espaço para questionar: isso cá eu posso fazer dissemelhante. Em outras horas, vou na mesma vaga que ele.”

Com a passagem do tempo, o trio se sente com mais recursos para realizar o que a peça propõe. Nos ensaios, ainda fazem descobertas sobre o texto. “Tem coisas que a gente só vai entender depois, porquê eu entendi hoje ensaiando com o Emílio”, diz Eiras, durante a montagem no Teatro da Reitoria, em Curitiba.

Ele se refere a uma cena-chave com um casaco. “Acho que me toquei da solidão do personagem hoje, ensaiando no quarto de hotel”, diz. “Esse texto tem tantas possibilidades, que você precisa de tempo para preenchê-las. No teatro e na vida, você precisa repetir para iluminar as trevas.”

Nessa dezena e meia passada, o Brasil passou por processos sociais, culturais e políticos intensos. Indagado sobre porquê esses processos impactam a remontagem da peça, Diaz afirma que se faz a mesma pergunta: “porquê será que isso chega nas pessoas com o contexto tão transformado?”

Para Mello, a mudança é visível. “O meu personagem questiona a maneira negativa porquê o dele coloca as mulheres na peça. Mudou a maneira de encarar isso, hoje está mais evidente”, diz. Em resposta, ele se serve da informação direta com os espectadores para “compartilhar o contra-senso que é ter de repetir isso”.

Ao termo, o que aproxima “In on it” do clássico é sua orifício a novos sentidos. Mais do que sobre a perda ou a morte, trata-se de “uma peça sobre teatro”, diz Eiras. A arte porquê lugar de inventar modos de viver. “A gente inventa exatamente para dar sentido às coisas em que não vê sentido”, comenta Mello. “Você precisa transfigurar a veras, senão é insuportável”, completa Eiras.

Folha

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