Isay Weinfeld é um arquiteto de construções silenciosas. Embora tenham diferentes características, suas obras se unem na concisão das linhas puras e na parcimónia dos elementos arquitetônicos. Um bom exemplo disso é o hotel Fasano, na capital paulista, projeto em que a sofisticação não grita, mas fala plebeu, quase aos sussurros.
“Esse projeto foi um divisor de águas para mim. O que a gente fez foi mostrar que luxo não é ostentação. Para ser elegante, não precisa mostrar grana ou se exibir”, diz Weinfeld, em seu escritório, no Sumarezinho, na zona oeste de São Paulo. “É provável ser luxuoso com discrição e quietude.”
São palavras de um dos principais arquitetos em atividade do Brasil. Um profissional que assinou projetos que ajudaram a redefinir o noção de luxo ao mostrar que requinte pode estar mais próximo da simplicidade do que do excesso.
“Os projetos do Isay são muito detalhados e complexos. É porquê se ele fizesse uma espécie de alta-costura arquitetônica”, afirma Rodrigo Cristiano Queiroz, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e de Design da Universidade de São Paulo.
Segundo o profissional, Weinfeld tem um trabalho de difícil classificação por rechaçar fórmulas e não seguir tradições. “Ele tem autonomia em relação a referências historicamente respeitadas, porquê Vilanova Artigas, Oscar Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha.”
Essa independência criativa o ajudou a romper ideias engessadas que circulam no exterior sobre a arquitetura brasileira. “O olhar estrangeiro vê o Brasil porquê um país de projetos com leveza, curvas e elementos vazados”, afirma Queiroz. “Por ter se desvinculado de rótulos, conquistou um trânsito internacional muito maior.”
Prova disso é o traje de ele ter sido o primeiro brasílico a edificar em Novidade York desde os anos 1940, quando Oscar Niemeyer projetou ao lado de Le Corbusier a sede das Nações Unidas. Esse hiato foi interrompido quando Weinfeld idealizou o Prédio Jardim, localizado no badalado bairro de Chelsea.
Outra obra no exterior é o prédio Petite Afrique, situado em Mônaco, principado publicado porquê o oásis dos milionários.
Em razão de empreendimentos porquê esses, ele passou a ser visto porquê um arquiteto do luxo, classificação que considera reducionista. “Luxo é uma vocábulo que não me diz zero e pela qual eu não tenho interesse nenhum”, diz Weinfeld.
O seu portfólio de traje não o deixa mentir. Ele já assinou obras populares, porquê um prédio do programa Minha Lar, Minha Vida, em São Paulo.
“O meu interesse está mesmo nos extremos. As duas coisas que mais palato de manducar na vida são trufa branca e torresmo, comidas absolutamente opostas. Aliás, palato mais de trufa do que de torresmo.”
O palato por aquilo que é democrático se materializa nos projetos por meio da recorrência do vidro, material que rompe o isolamento imposto pelas paredes de concreto. Já a iluminação é sempre quente e indireta, conferindo uma atmosfera aconchegante e intimista às áreas comuns. É porquê se as construções fossem um invitação ao encontro e à permanência.
Não por contingência, o arquiteto defende a chamada frontispício ativa, ou seja, empreendimentos em que o térreo é talhado a fins não residenciais, porquê lojas, bares e livrarias. Esse tipo de ocupação estimula um movimento maior de pessoas e o diálogo entre o público e o privado.
A teoria, porém, vai na contramão da exclusividade propagandeada por construtoras na capital paulista. “Todo dia sai qualquer proclamação falando que está surgindo mais um prédio que se tornará o ícone de São Paulo, mas não existe ícone nenhum. Tudo isso é uma tolice. Prédio tem que ser inclusivo, não individual.”
Esse pressuposto é um dos alicerces de suas construções em São Paulo, porquê os edifícios 360°, Santos Augusta e Mix 422. Embora sejam assinados pela mesma pessoa, são trabalhos com características distintas.
“Tenho orgulho de não ter estilo. A minha marca registrada é justamente não ter uma marca.” De certa forma, é uma proposta que dialoga com a formação multicultural de São Paulo, uma liga de sotaques, estéticas e culturas.
“A cidade é uma bagunça totalidade, o que é ótimo. A força dela está nessa inconstância que acaba indo das pessoas para as obras.”
Weinfeld fala com propriedade sobre esse objecto não só por ter nascido na capital, mas por ter retratado as suas ruas ao longo de dez anos. Nesse período, registrou paisagens e objetos inusitados que encontrava em diferentes regiões da periferia.
“Esse projeto comprovou para mim que a noção de venustidade e feitura de traje não existe. A população mais carente faz coisas absolutamente emocionantes.”
Além de venustidade, encontrou cenários cheios de um humor por vezes fortuito. Em uma das imagens, vemos o proclamação de um douto evangélico em que se lê: “Sex-culto da libertação.” Em português, “sex” é abreviatura da vocábulo “sexta-feira”, mas em inglês significa “sexo”. O título da retrato aumenta a voltagem cômica do trabalho: “Sex-culto: estarei lá”.
Para ele, obras porquê essa são uma forma de encanar a sua verve jocosa. “Na arquitetura, não posso edificar um prédio ridiculamente engraçado. Eu ponho isso nas artes plásticas.”
Galerista de Weinfeld, Tomás Toledo diz que o sarcasmo permeia o fazer artístico do arquiteto. Isso pode ser visto, inclusive, na exposição “Ininteligibilidade”, em edital na galeria Galatea, em Salvador. A mostra lança um olhar cáustico sobre o cotidiano por meio de objetos prosaicos, porquê bonecos de porcelana.
“A ironia atravessa a produção dele. Por isso, a mostra que a gente organizou é toda estruturada justamente por aspectos irônicos e provocativos”, afirma Toledo, acrescentando que Weinfeld é um profissional multidisciplinar que procura inspiração em diferentes áreas, inclusive no audiovisual.
“Tem um oferecido cenográfico muito curioso e muito sofisticado na produção de interiores do Isay. A arquitetura dele é quase porquê uma tomada de cinema.”
Ele de traje tem uma relação de proximidade com a linguagem cinematográfica. Chegou a fazer filmes com câmera Super 8 antes de entrar na faculdade de arquitetura, curso que escolheu por congregar seu interesse por diferentes campos, porquê teatro, artes plásticas e o próprio cinema.
“Na quadra da faculdade, diziam que era preciso tomar arquitetura no moca da manhã, no almoço e no jantar para ser um bom profissional. Era tudo o que eu odiava”, diz ele. “A minha manancial sempre veio de outras áreas.”
Vem da arte o seu libido de despertar emoção por meio da arquitetura. “Eu sei que os projetos podem não deleitar todo mundo, mas quero que as pessoas sintam alguma coisa. Quem gostar vai ser porque sentiu alguma coisa, porque se encantou e se emocionou.”