Isis valverde estreia série sobre maria bonita no disney+

Isis Valverde estreia série sobre Maria Bonita no Disney+ – 08/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Numa cena, mulheres se reúnem ao volta da fogueira para falar sobre filhos e outras angústias de fazer segmento de um grupo de cangaceiros. Já noutras, é provável ver a força delas durante o trabalho de parto no meio do mato, entre sangue, gritos e pranto. Ambas compõem a série “Maria e o Cangaço”, que acaba de estrear no Disney+.

Maria —que só recebeu o sobrenome Formosa posteriormente sua morte, em 1938— é interpretada por Isis Valverde, que aparece repetidamente com os olhos marejados, de raiva, tristeza ou dor. Para a atriz, dar voz às dores dessas mulheres é uma forma de obsequiar a própria história. “A morte e a vida estão de mãos dadas o tempo todo”, diz ela, para quem isso compõe o sagrado feminino, com a mulher no papel da responsável por trazer a vida ao mundo.

Dirigida por Sérgio Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido, a série apresenta uma visão feminina do cangaço a partir da trajetória dessa personagem, mulher de Lampião —interpretado por Júlio Andrade—, com quem se uniu por vontade própria ao fugir de um enlace imperdoável e infeliz. “Faltam espaços para a mulher se expor, racontar suas histórias, suas dores”, diz a atriz.

Em meio a disputas políticas em uma terreno sem lei, onde a sobrevivência do mais potente é o que impera, Maria de Déa, porquê era chamada em vida, tenta seguir sua trajetória porquê mulher e mãe. Ela ousa não se sujeitar aos homens do grupo e sonha com uma vida de conforto e firmeza, mesmo quando já é muito conhecida e procurada ao lado do marido.

A história de Lampião e Maria Formosa, por muito tempo contada sob a perspectiva masculina, serviu de base para a série a partir do livro “Maria Formosa: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, da jornalista Adriana Negreiros. A obra traz um olhar aprofundado sobre as mulheres que se uniram ao grupo, muitas vezes à força.

“A história do cangaço sempre foi retratada de forma romantizada, inclusive pelo cinema”, afirma Negreiros. Segundo a autora, havia sempre um maniqueísmo entre ladrões e mocinhos, no qual as mulheres desapareciam da narrativa.

Durante suas pesquisas, um dos aspectos que mais chamou atenção foi o drama da maternidade, dada a brutalidade das condições em que as mulheres tinham filhos e a dor de entregá-los a terceiros —porquê Maria fez com Expedita. “Ela enfrentava tiros, falta de chuva, escassez de comida. Isso é uma violência extrema”, diz.

A série também aborda a violência das uniões forçadas entre mulheres e cangaceiros, além da dor de testemunhar à morte de familiares. Na cultura popular, Lampião sempre foi retratado com heroísmo, quase porquê uma figura mitológica que se rebelava contra a vexame militar.

Maria Formosa, por sua vez, nem sempre foi envolvida nesse imaginário, alguma coisa que Negreiros desconstruiu em seu livro —e que a série tenta reprisar. Não se pode proferir que lutava pelos direitos das mulheres, uma vez que seguia as normas do grupo. Ainda assim, ela se mostrava potente e transgressora.

Negreiros afirma que seria anacrônico esperar atitudes feministas ou um siso de sororidade de Maria Formosa e das outras cangaceiras. “Seria até indecoroso com elas, pois essas ideias nem existiam na idade. Elas eram sobreviventes, faziam o que podiam para seguir em frente. Mas também eram mulheres do seu tempo, inseridas na moral do sertão, que pregava que a mulher devia submissão ao varão a quem pertencia”, diz, acrescentando que, no entanto, elas desafiavam certas normas.

Desde o início, é evidente que Maria Formosa não tem um sotaque nordestino verídico, apesar da tentativa. Proveniente do interno de Minas Gerais, Ísis Valverde afirma que precisou se preparar para assumir o papel. “A primeira coisa que eu precisava fazer era me desconectar, para que a coisa fluísse”, diz.

Apesar das diferenças geográficas e temporais, a atriz conta ter encontrado pontos em geral com a personagem, principalmente na experiência da maternidade e no libido de viver. O processo foi intenso e emocionalmente reptador, ela conta. “Senti muita saudade do meu fruto durante as gravações. Eu chorava. Foi difícil.”

A abordagem feminina da série também influenciou a versão de Lampião. O cangaceiro, segundo o ator Julio Andrade, se tornou mais humano. “Quando Maria Formosa entra para o cangaço, outros cangaceiros também começam a querer levar mulheres para o grupo. De alguma forma, isso os afetou.”

Grande segmento das gravações ocorreu em Cabaceiras, na Paraíba, região de paisagens áridas e rochosas, ainda fiéis ao cenário da idade. A retrato da série é de Adrian Teijido, que também assinou a de “Ainda Estou Cá”, vencedor do Oscar de melhor filme internacional. Ao recriar os locais por onde o cangaço passou, a série reconta segmento da história do Brasil.

Folha

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