Com cerveja liberada, trens e metrô 24h à disposição, além da presença massiva da cor virente em todos os seus setores, a Neo Química Redondel, em Itaquera, viveu uma noite exótica nesta sexta-feira (6), ao receber o primeiro jogo solene da NFL (National Football League) realizado no Brasil.
O contraste era evidente: o tradicional reduto corintiano, viciado ao preto e branco, se viu envolvido por um cenário moldado pela principal cor de Philadelphia Eagles e Green Bay Packers, os escolhidos pela liga dos Estados Unidos para ajudar na popularização do campeonato de futebol americano por cá.
Mandante no confronto válido pela primeira rodada da temporada 2024/25, o Eagles até tentou “olvidar” o tradicional virente de seu uniforme principal, optando por branco e preto, mas seus torcedores, assim uma vez que o justador, ignoraram qualquer cortesia com os donos do estádio, exibindo a cor do maior rival do clube do Parque São Jorge.
Antes da esfera oval voar, durante a apresentação de ingresso do Eagles, um grupo de torcedores chegou a retirar um grito de “Timão, eô”, mas o coro foi logo roubado por vaias, um pouco inimaginável em Itaquera, onde pela primeira vez em um evento esportivo não se viu a camisa de nenhum clube do futebol brasílico nas arquibancadas —o item fez segmento de uma série de proibições impostas pela NFL por razões de segurança.
Pela empolgação dos torcedores quando o jogo começou, isso não mudou o caráter festivo que os organizadores tentaram imprimir ao evento, e endossado pelo governo do estado de São Paulo, que liberou a venda de bebidas alcoólicas sob a justificativa de a partida ter “características culturais e de entretenimento”.
A venda de bebidas alcoólicas em estádios é proibida em São Paulo desde 1996, quando foi sancionada a lei 9.470, uma vez que consequência de uma peleja entre torcidas de Palmeiras e São Paulo no Pacaembu.
Um dos principais patrocinadores da NFL, porém, é a Ambev, por meio da marca Budweiser, que tem um contrato global com a liga e foi peça fundamental para trazer o evento ao Brasil —foi a marca que também patrocinou o show da cantora Anitta no pausa do confronto. Além dela, Luisa Sonza se apresentou no gramado, cantando o hino vernáculo brasílico.
Quem quis ver o jogo de perto —o público totalidade foi de 47.236 pessoas— pagou dispendioso. Os ingressos custaram de R$ 285 a R$ 2.520. Para manducar e tomar no estádio, porém, o preço foi semelhante a jogos de futebol —os sanduíches custavam de R$ 30 a R$ 55, enquanto espetos de músculos, frango, linguiça, pão de alho e queijo coalho custavam R$ 18. Bebidas eram vendidas por R$ 8 um copo de chuva, R$ 12 um refrigerante e R$ 18 a cerveja, com ou sem álcool.
Já uma memorandum da partida era muito dissemelhante. Uma camisa solene de qualquer um dos clubes da NFL, com personalização com o nome de um jogador, custava R$ 1.199,90. Uma opção mais em conta poderia ser um pequeno cimeira, semelhante ao que os atletas usam para jogar, mas em miniatura, vendidos a R$ 599,90, com a temática do jogo em São Paulo, ou R$ 699,90 o de cada um dos times.
O preço assustou alguns torcedores. “Cá está mais dispendioso do que na loja da Artwalk da Oscar Freire”, disse o médico Roberson Guimarães, 55, que foi ao jogo junto com seu fruto, Henrique, 20. “Só com o ingresso, a gente gastou R$ 2.500. Agora, esses preços cá na loja são abusivos”, reclamou Roberson. “Por ser o dia do jogo, a gente esperava que seria dispendioso, mas não tanto”, completou Henrique.
Mas o evento também atraiu pessoas com elevado poder aquisitivo, uma vez que aqueles que se deslocam a Itaquera de helicóptero. Muro de duas horas antes do jogo, formou-se um “trânsito” de aeronaves, esperando por autorização para pousar no heliponto do estádio. Ao todo, 48 voos foram registrados. Em dias de partidas do Corinthians, a média é de 10, segundo os responsáveis pelo heliponto.
Quem optou pelo transporte público, contou com as linhas da CPTM e do Metrô à disposição durante toda a madrugada. As estações Itaquera e Artur Alvim ficaram abertas por 24h, de sexta para sábado, enquanto as demais também funcionaram neste período, mas exclusivamente para o desembarque de passageiros, um pouco que não ocorre durante qualquer outro evento na estádio de Itaquera —em partidas do Corinthians, as estações mais próximas do estádio fecham às 0h21.
Itaquera também recebeu muitos turistas, principalmente dos EUA. A presença deles na estádio era incerta devido a declarações de jogadores do Eagles, que expressaram preocupações sobre a criminalidade em São Paulo.
“É uma cidade sóbria. Foi tudo muito até agora”, resumiu Trason Snover, 25, torcedor do Packers, sobre sua primeira estadia em São Paulo. Ele e seu camarada Jacob Podturg vão passar cinco dias na cidade antes de retornar para Lincoln, no estado do Nebraska.
Embora também elogie a cidade, Jacob estranhou o clima no estádio. “É muito dissemelhante da NFL nos EUA”, disse ele. “Primeiro, a separação das torcidas. Segundo, ter um jogo em um estádio de soccer [futebol], que é muito menor do que um estádio da NFL. No Nebraska, nós temos um estádio para 90 milénio pessoas. É um estádio muito bonito, mas menor do que estamos acostumados”, afirmou.
A equipe para a qual ele torce parece que também estranhou o campo, já que acabou derrotada pelo Eagles por 34 a 29.