Jack White Alcança Patamar Ousado De Sujeira Em Discaço

Jack White alcança patamar ousado de sujeira em discaço – 02/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“No Name”, sexto álbum solo do cantor e guitarrista americano Jack White, pode até não ter nome, mas tem tudo que seus fãs esperavam: rock vibrante, ao que parece gravado “ao vivo” no estúdio, com batidas que lembram sua primeira filarmónica a fazer sucesso, White Stripes, mas em versão mais crua.

A chegada do disco às plataformas digitais encerra um jogo de segredos iniciado em 19 de julho em lojas da Third Man, gravadora que pertence a White. Nas filiais de Detroit (onde ele nasceu), Nashville (onde ele vive atualmente) e Londres, quem fez uma compra naquele dia ganhou um álbum em vinil que não continha informação alguma sobre seu responsável. Numa envoltório branca, somente o título, “No Name”.

No mesmo dia, algumas pessoas começaram a reproduzir o disco no YouTube e logo as apostas trataram de cogitar ser um disco de Jack White. Fãs mais conhecedores de seu trabalho deduziram que tinha sido gravado em trio, com o baterista Daru Jones e o baixista Dominic Davis, colaboradores de longa data do guitarrista.

Para quem precisa, uma contextualização: em parceria com a baterista Meg White, ele apareceu nos anos 1990 no White Stripes, que trouxe de volta sucesso e relevância ao rock de garagem. Depois de seis álbuns aclamados e lançados até 2007, a dupla se separou e o guitarrista começou curso solo, intercalada com discos gravados por duas bandas criadas por ele que se reuniam de vez em quando, The Raconteurs e Dead Weather.

Sua trajetória é marcada por uma militância na resguardo da preservação do vinil e por alguns lances espertos uma vez que o que fez na turnê do álbum “Blunderbuss”, em 2012. Para esses shows, White montou duas bandas de escora: The Buzzards, só com homens, e The Peacocks, integrada só por mulheres. As duas se alternavam a cada show.

Musicalmente, ele optou por muita experimentação, mesmo fortemente preso ao blues. Em 2022, lançou dois álbuns: “Fear of the Dawn”, com rock depressa, e “Entering Heaven Alive”, um disco de folk rock. Ou, pelo menos, aquilo que um artista tão inovador define uma vez que folk. Levante disco forma com o espetacular “Lazaretto”, de 2014, seus dois trabalhos mais celebrados.

“No Name” não é um álbum experimental. A opção foi reprofundar em alguma coisa que White domina completamente: riffs pesados de guitarra, distorções sonoras, bateria de batida marcial e o pé fundo no acelerador. Não por contingência, muitas faixas poderiam estar em qualquer disco do White Stripes em totalidade simetria com o resto do repertório.

E isso não se traduz em um trabalho nostálgico. Na verdade, ele leva o estilo facilmente reconhecível do White Stripes a um patamar ousado e inédito de sujeira sonora. O melhor atestado disso está em “Bombing Out”, tira que é puro punk rock descontrolado. Pode ser encaixada também nessa categoria “Bless Yourself”, que soa uma vez que o estrondo perfeito que toda filarmónica de garagem anseia conseguir.

A tira que abre o disco, “Old Scratch Blues”, já expõe por completo a estética dominante em “No Name”. O álbum é um punhado de canções furiosas gravadas uma vez que se tudo fosse registrado na primeira tentativa, sem maiores refinamentos. Dá para imaginar White e seus comparsas plugando os instrumentos, mandando ver a música e se dando por satisfeitos com essa versão.

O blues, devidamente depressa, atravessa todo o repertório. Há também espaço para um pouco de rock sulista, aquela música tipo Allman Brothers ou Lynyrd Skynyrd, feita para bebedores de cerveja em botecos empoeirados. Basta conferir “It’s Rough on Rats (If You’re Asking)” para compreender.

Ao escutar o álbum na ordem das faixas, quando o ouvinte chegar a “Archbishop Harold Holmes” provavelmente vai comemorar que White novamente paga um belíssimo tributo ao Led Zeppelin, filarmónica seminal que é, sem incerteza, uma das bases mais encorpadas do som do White Stripes.

Mas é bom esperar até o final, quando chega “Terminal Archenemy Endling”. Esta realmente parece ter sido escrita por Jimmy Page e Robert Plant, o dínamo criativo do Led Zeppelin. É musicalmente complexa, mas, num toque muito anos 1970, começa e termina com som envolvente de uma cachorrada latindo. Uma cantiga inatacável sob qualquer parâmetro que julgue um bom rock and roll.

Nunca se sabe o que Jack White vai fazer em seguida, mas provavelmente será alguma coisa muito bom. “No Name”, que começou uma vez que um brinde para fãs, ultrapassa a classificação de mero item de colecionador. É um discaço, mesmo gravado em clima de recreio com os amigos.

Folha

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