Quando seis homens vestidos de cenoura aparecem nas arquibancadas, nem é preciso olhar para a quadra de tênis para saber quem está jogando: Jannik Sinner. São os “Carota Boys”, amigos italianos que seguem Sinner rotação afora (“carota” é cenoura em italiano).
“Eles são mais conhecidos que eu”, brinca o italiano de 22 anos. A piada até poderia ser plausível antes, mas agora não mais: qualquer que seja o vencedor do Sincero da França, Sinner será, a partir da próxima segunda-feira (10), o novo número um do mundo.
Ao se qualificar para as semifinais, já acumulou pontos suficientes no ranking para assumir o lugar do sérvio Novak Djokovic, 37, que abandonou o torneio na terça-feira (4) devido a uma lesão. Djokovic submeteu-se a uma cirurgia no menisco medial do joelho recta nesta quarta (5), em Paris, e deve permanecer pelo menos três semanas longínquo.
Ao contrário do que muitos imaginam, a fantasia de cenoura dos fãs de Sinner não é uma referência a seu físico –cumeeira (1,88 metro), magro (75 quilos) e ruivo–, e sim a um incidente que ele protagonizou no torneio de Viena, na Áustria, em 2019: trocou a banana, mais popular entre os tenistas na pausa entre games, pela alaranjada. “Foi o que meu treinador levou para mim”, alegou Sinner depois.
Na era, Sinner tinha terminado de entrar no top 100 do ranking mundial. Era exclusivamente mais uma entre as muitas estrelas em subida da chamada NextGen, nome inventado pela associação dos tenistas profissionais (ATP) para promover a “próxima geração”, sucessora do “triopólio” que dominou o tênis masculino por quase duas décadas: Djokovic, Rafael Nadal e o hoje jubilado Roger Federer.
Finalmente dois nomes parecem ter rompido a preponderância dos chamados “Big Three”: o espanhol Carlos Alcaraz, 21, e agora Sinner.
Entre 2019 e o primeiro semestre do ano pretérito, o italiano continuou a subir no ranking, aproximando-se do Top 10, sem nunca, porém, passar das quartas de final nos torneios do Grand Slam.
Na segunda metade de 2023, tudo começou a mudar. Sinner chegou à semifinal de Wimbledon, venceu seu primeiro Masters 1000 (torneio da “segunda prateleira”, logo aquém do Grand Slam), em Toronto, no Canadá, ganhou a Despensa Davis, disputada por equipes nacionais, e foi vice do ATP Finals, que reúne os oito melhores do ano, em Turim, na Itália, derrotado por Djokovic.
Neste ano, ninguém foi melhor que Sinner: 33 vitórias e exclusivamente 2 derrotas, o primeiro Grand Slam conquistado, na Austrália, em janeiro, e outros dois títulos, em Roterdã (Holanda) e Miami (EUA).
A Sinnermania, uma vez que era de esperar, tomou conta da Itália, país que nunca teve um tenista líder do ranking. Pelo menos três biografias dele foram lançadas recentemente em italiano. Contam a puerícia, na fronteira com a Áustria, falando boche (uma vez que o sobrenome indica, os Sinner são de origem germânica); a troca, aos 13 anos, do esqui (em que foi vencedor italiano infantil) pelo tênis; e a origem do sobrenome, “Fox” (raposa), segundo ele vindo dos tempos de escola, por justificação da cor dos cabelos.
Há dois anos, o treinador de Sinner é Darren Cahill, 58, um razoável ex-tenista australiano (chegou a ser 22º do mundo em 1989) que já tinha levado três jogadores ao topo do ranking (o australiano Lleyton Hewitt, o americano Andre Agassi e a romena Simona Halep). “Ele sabe se conciliar a cada jogador. É uma qualidade incrível, não?”, diz o italiano.
Sinner chegou a Roland Garros recuperando-se de uma lesão no quadril, que o obrigou a largar o torneio de Madri, na Espanha, nas quartas de final. Por isso, foi a Paris sem fomentar grandes expectativas, apesar de ser o cabeça-de-chave número dois.
Em cinco partidas, porém, perdeu exclusivamente um set (nas oitavas de final, para o gálico Corentin Moutet). Depois de varar o búlgaro Grigor Dimitrov nas quartas de final, foi informado ainda na quadra da desistência de Djokovic e da conquista da liderança do ranking. Reagiu timidamente. “É o sonho de todo jogador. Cheguei cá com algumas dúvidas, dúvidas físicas. Mas meu corpo parece permanecer mais possante a cada dia.”
Quinze dias detrás, antes da primeira rodada do torneio, a quem lhe indagava sobre suas chances, Sinner dizia: “Todas as perguntas estarão respondidas daqui a um pouco mais de duas semanas.”
Uma delas já está respondida: quem será o líder do ranking mundial na próxima segunda-feira.