Jeff Tweedy, Fã De Tropicália, Volta Ao Brasil Com O

Jeff Tweedy, fã de tropicália, volta ao Brasil com o Wilco – 18/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quando a filarmónica Wilco subiu ao palco do Popload Festival de 2016, em São Paulo, era tão tarde que o vocalista Jeff Tweedy achou que a plateia já estaria vazia. “Acho que foi o show mais tarde que já fizemos”, diz. “Mas ninguém foi embora, e foi incrível tocar para essa plateia brasileira maluca.”

Naquela ocasião, há oito anos, o grupo tocou também no Circo Voante, no Rio de Janeiro, e no Auditório do Ibirapuera —neste caso, em show para somente 800 pessoas. Agora, a filarmónica americana de rock mútuo volta ao país para se apresentar no mesmo parque paulistano, desta vez na extensão externa, porquê uma das atrações do C6 Fest, em maio.

A relação do Wilco com o Brasil vai além das memórias turvas dos shows. A filarmónica tem entre seus integrantes alguns fãs da música feita por cá. “Caetano Veloso, Gilberto Gil… tenho um conhecimento muito sólido de um evidente período, da tropicália”, diz Tweedy. “Mas não posso expor que sou o maior fã dentro da filarmónica. [O guitarrista] Pat [Sansone], [o baterista] Glenn [Kotche] e o [guitarrista] Nels [Cline] são verdadeiros especialistas.”

A produção mais roqueira dos Mutantes, conta Tweedy, foi o que mais o influenciou porquê músico. “A libertação daquele período, a natureza psicodélica daquilo deu numa boa combinação entre música folk e rock —o que tem apelo para mim, porque pegou a música americana e a deixou ainda mais feroz, com um sentido mais moderno. Mas, convenhamos, porquê alguém pode não gostar de música brasileira?”

Para além de ser o líder de uma filarmónica com sucesso sempiterno e saudação da sátira, Tweedy é um enamorado por música. Criado na pequena cidade americana de Belleville, ele chegou a trabalhar porquê vendedor de discos numa loja. Foi o paixão pelos fonogramas, aliás, que o fez desvendar um mundo muito mais interessante do que a vida pacata de sua família.

O cantor conta essa história em “Vamos Nessa (para Podermos Voltar): Memórias de Discos e Discórdias com o Wilco”, autobiografia que saiu no Brasil em 2020 pela editora Terreno Estranho. Ele se derrete ao lembrar porquê ficou fascinado pelo The Clash só de ler a resenha de “London Calling” escrita pelo jornalista americano Lester Bangs, antes até de conseguir ouvir a filarmónica.

Tweedy narra no livro, que nos EUA foi um best-seller, porquê numa cidadezinha do interno ele se sentia tão distante do mundo punk que o Clash representava —talvez porquê um jovem fã do Wilco em qualquer país distante. “Me deparei com isso, nossa obra fazendo sentido para alguém num lugar pequeno do Brasil ou, sei lá, do Japão. Mas eu nunca me sentiria esperançado o suficiente para esperar que isso acontecesse.”

Seja no Wilco, na filarmónica com o fruto Spencer ou na curso solo, Tweedy diz que faz música sem pensar em quem vai ouvi-lá. Compositor prolífico, ele conta que basta pensar em outras pessoas ouvindo o que ele está criando para a inspiração ir embora.

Na dezena de 1990, quando começou, Tweedy tinha uma escrita mais direta. Ele passou a testar mais com a linguagem conforme as gravações também ficaram mais heterodoxas —o disco “Yankee Foxtrot Hotel”, obra-prima do Wilco, de 2004, é a epítome desse movimento, que começa em “Being There”, de 1996.

“Estava tão ávido para ter coisas novas para trovar que tive que desvendar maneiras de fazer as letras. Não é sempre que você tem alguma coisa para expor”, ele diz. “Algumas músicas chegam para mim de um jeito muito direto e autobiográfico, mas há outras que resultam de um processo de invenção —um estilo de escrita mais abstrato em que não sei o que aquilo quer expor, só sinto que parece expor alguma coisa. Senhor poder fazer as duas coisas.”

Essa abordagem, de certa forma, espelha também a produção músico do Wilco. No repertório da filarmónica, repleto de melancolia e introspecção, há desde o pop rock mais convencional, com um pé no country e outro no punk, até um folk-rock torto que se desmonta e remonta a partir de dissonâncias e sons não usuais.

Esses dois tipos de Wilco podem coexistir numa mesma música, mas nos últimos anos eles se alternaram entre os álbuns. “Cousin”, lançado no ano pretérito, e que Tweedy define porquê um “Wilco gelado”, pela produção da cantora galesa Cate Le Bon, pende para o lado experimental —ou, nas palavras do vocalista, “centrado no estúdio”.

“É porquê esculpir alguma coisa, tentar deixar num formato que soe dissemelhante do que já ouvimos antes. É alguma coisa que faz secção dessa filarmónica, passar tempo no estúdio tentando desvendar porquê podemos toar. Quando uma música chega, há um caminho mais óbvio para ela, e podemos mostrá-la assim, mas por que não tentar coisas diferentes?”

Já “Cruel Country”, disco de 2022, é direto, acústico, instintivo e foi todo gravado ao vivo. Também tem uma trouxa política, já que o Wilco reivindica o gênero atrelado à população conservadora do interno dos Estados Unidos —em sua maioria eleitores do atual presidente Donald Trump, que não tem a simpatia da filarmónica.

“Senhor meu país, estúpido e cruel”, Tweedy canta na faixa-título. “Sinto a mesma coisa em relação ao country e aos EUA —não pertence a ninguém e é tão meu quanto é de todo mundo”, ele diz.

“O country sempre foi mais conservador que o mundo do rock, enraizado numa América branca e rústico. Mas Johnny Cash, Willie Nelson, Kris Kristofferson… um monte de gente que fez country, para mim, são bastiões do progressismo.”

Para Tweedy, tanto o gênero músico quanto o país não deveriam ser “entregues a pessoas de mente fechada que não têm um coração grande o suficiente para abraçar as diferenças”. A eleição de Trump, ele diz, é alguma coisa “muito triste e doloroso”.

“Me faz questionar se os EUA são o que sempre acreditei que são, e a resposta provavelmente é não”, ele afirma. “Mas isso não significa que o potencial e a promessa dos EUA não são reais. Não vejo porquê pode ser bom desistir dessa teoria que nunca alcançamos, mas que ainda vale a pena tentar. É um bom ideal. Tenho dificuldades de perder a esperança, e porquê acho que tenho habilidade para isso, é meu responsabilidade continuar esperançoso.”

Se o país vai mal, na visão de Tweedy, o Wilco nunca esteve tão muito. Para uma “filarmónica pop impopular”, porquê ele define, o grupo tem uma curso bastante sólida e goza de plena liberdade criativa, com o próprio estúdio, gravadora, festival e até o equipamento de prensar vinil.

Outrossim, são respeitados porquê ícones do rock mútuo, viajam o mundo para tocar e continuam lançando discos. Até emplacaram diversas músicas na trilha de uma série queridinha, “O Urso”.

No entanto, o vocalista admite, é difícil se manter criativo numa filarmónica por tanto tempo. “Fica mais e mais provocador descobrir um jeito de tocarmos juntos que seja novo e excitante”, ele diz. “Mas acho que fazemos um bom trabalho nisso. É alguma coisa que ainda importa para nós. Portanto continuamos botando tempo e esforço para chegar lá. Com o passar do tempo, isso é o mais importante de se preservar.”

Além do Wilco, O C6 Fest, que acontece entre 22 e 25 de maio, também terá shows de Air, Pretenders, Nile Rodgers & Chic e A.G. Cook, entre outros.

Programação do C6 Fest

Auditório Ibirapuera

Quinta, 22/5

  • Mulatu Astatke
  • Amaro Freitas
  • Septeto
  • Arooj Aftab

Sexta, 23/5

  • Kassa Overall
  • Brian Blade e The Fellowship Band
  • Meshell Ndgegocello

Redondel Heineken e Tenda

Sábado, 24/5

  • Air – “Moon Safari”
  • Pretenders
  • Gossip
  • Perfume Genius
  • Stephen Sanchez
  • A.G. Cook
  • Agnes Nunes
  • Beach Weather
  • Peter Cat Recoring Co.  

Domingo, 25/5

  • Nile Rodgers e Chic
  • Wilco
  • Seu Jorge e convidados no “Dança à La Baiana”
  • The Last Dinner Party
  • English Teacher
  • Cat Burns
  • Maria Esmeralda – Thalin, Cravinhos, iloveyouangelo, Pirlo & VCR Slim
  • SuperJazzClub

Folha

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