João Rock Mostra Que Rock Não Está Tão Morto Quanto

João Rock mostra que rock não está tão morto quanto parece – 09/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Os muitos tons de laranja que tingiram o firmamento ao tombar da noite, espelhando a terreno vermelha que castigava a gorgomilos e o nariz com a secura, lembravam que não estamos num festival de São Paulo ou de outra metrópole. É o João Rock, em Ribeirão Preto, a respeito de 325 quilômetros de intervalo de São Paulo.

A estrutura do evento, que chegou à 22ª edição neste sábado, é parecida com a de um Lollapalooza ou The Town. Durante pouco mais de de 12 horas, quatro palcos receberam shows simultâneos de quase 50 cantores, além de tirolesa, roda-gigante, bungee jump, balão e os atrativos que vão além da música.

A diferença é que todos os artistas são brasileiros e, mesmo assim, o festival conseguiu esgotar os seus 70 milénio ingressos —o mesmo público que costuma ocupar o Autódromo de Interlagos, a vivenda dos maiores festivais paulistanos.

É um feito que tem se tornado vasqueiro, depois de um Lollapalooza com atrações que não empolgaram tanto e não esgotaram as entradas e do cancelamento de duas megaturnês, de Ludmilla e Ivete Sangalo.

A maioria do público, segundo os organizadores, veio da capital paulista, e somente 20% eram de Ribeirão Preto. O que portanto teria levado quem já tem uma oferta ampla e diversa de festivais em São Paulo a uma viagem para o interno?

Talvez aquele que é, ao mesmo tempo, um dos pontos altos e fracos do evento —a escalação de seu line-up, que compreensivelmente pode ser visto porquê um arqueólogo, sem muita preocupação em pescar tendências ou inovar, mas para outros é o que faz o ingresso de R$ 400 mais os custos de uma viagem valerem a pena.

É verdade que nos últimos anos a curadoria do João Rock está arejando a programação, com a geração, por exemplo, de um palco devotado ao rap e ao trap, o Fortalecendo a Cena, onde desta vez tocaram nomes porquê Veigh, Teto, Wiu e Ebony.

Houve ainda nomes inéditos nos palcos do João Rock, embora sejam velhos conhecidos do público, caso do grupo Novos Baianos e de Marina Lima, Ney Matogrosso e Djavan, que reuniu uma das maiores plateias, que no entanto não sabia trovar nem metade das músicas junto.

Marina Sena, por sua vez, liderou o grupo dos novinhos, reprisando a apresentação do ano pretérito com seu último disco, “Vício Inerente”.

Acontece que, por melhores que tenham sido as performances desses artistas, a sentimento é a de que a maior segmento do público estava ali para ver às figurinhas repetidas do João Rock, que se apresentam quase todo ano.

Prova disso foi o show do Paralamas do Sucesso. Não houve quem ficasse parado ou de boca fechada ao som de Bi Ribeiro, João Barone e Herbert Vianna. O trio emendou um hit detrás do outro, todos cantados a plenos pulmões pela plateia de dezenas de milhares de pessoas, das mais alegres, porquê “Óculos”, às mais melancólicas, caso de “Lanterna dos Afogados”.

Situação parecida aconteceu com o CPM 22, que se apresentou em seguida, incendiando a plateia logo ao perfurar o show, com “Um Minuto Para o Término do Mundo”, sob os vocais intactos de Fernando Badauí, que não precisou recorrer a saudações repetitivas à plateia para gerar excitação.

Samuel Rosa, que subiu ao palco sozinho pela primeira vez, depois o término do Skank, que encerrou as atividades no ano pretérito, não deixou de fazer porquê o festival e apostar no que é visível.

Em vez de aproveitar a oportunidade para publicar seu álbum solo, “Rosa”, que deve ser lançado no término do mês, o mineiro cantou somente uma música do novo projeto, a explicativa “Segue o Jogo”, e preferiu montar sua apresentação a partir de sucessos incontornáveis, porquê “Vamos Fugir” e “Jack Tequila”.

Já de madrugada, por volta das 2h, o evento foi encerrado por Emicida e Pitty, que se apresentaram juntos, ora se revezando no palco para trovar alguns de seus sucessos, ora dividindo o microfone para tocar outros. Assim, no João Rock foram as figurinhas repetidas as que mais brilharam, fazendo todo show virar um grande karaokê a firmamento desimpedido.

Em rodas de conversa entre um show e outro, alguns visitantes se lembravam das primeiras edições do festival. Tinham a trilha sonora ideal para isso, enfim. Em 2002, quando aconteceu a primeira edição do João Rock, o CPM 22, criado em 1995, estava no auge. O Skank, ainda que um pouco mais velho, de 1991, soava porquê novidade, numa estação em que os sucessos não eram tão efêmeros porquê hoje, na era das dancinhas do TikTok.

Foi porquê se, ainda que só por algumas horas, os dias mais felizes, de sua mocidade, quando havia menos problemas e boletos, tivessem voltado. E se por um lado o excitação ainda possa ser insuficiente para expressar que o rock está plenamente vivo, por outro é plausível declarar que ele talvez não esteja tão morto quanto parece.

Embora não ocupe mais o topo de nenhuma paragem nas plataformas de streaming, os clássicos do gênero ainda reúnem, entre a ressaca dos grandes festivais e turnês e numa cidade interiorana, 70 milénio pessoas. Não é pouco.

O jornalista viajou a invitação do festival

Folha

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