Ódio Nas Redes é Tema De Livro Finalista Do Prêmio

Jornalista da TV Brasil Luciana Barreto é finalista do Prêmio Jabuti

Brasil

Foi com surpresa e felicidade que a jornalista Luciana Barreto recebeu a notícia de que seu primeiro livro, Discursos de Ódio contra Negros nas Redes Sociais, está entre os cinco finalistas da categoria divulgação científica da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico.

“É a minha dissertação de mestrado. E eu me dediquei muito a ela com um motivo genuíno: eu queria contribuir demais com alguma coisa que, para mim, incomodava demais, que é o aumento do exposição de ódio na rede social”, diz.

Luciana Barreto é rabino em relações étnico-raciais, palestrante, escritora, pesquisadora e apresentadora da TV Brasil. Depois saber, nos Estados Unidos, o projeto Teaching Tolerance, em tradução livre, Ensinando Tolerância, ela voltou para o Brasil com vontade de gerar também por cá uma iniciativa semelhante. O projeto não unicamente oferece esteio a vítimas de exposição de ódio, uma vez que produz materiais de esteio para orientar escolas e a sociedade.

A geração do projeto ainda está no radar, mas antes, Luciana levou a teoria para o mestrado que, no final do ano pretérito, e virou também livro. Na obra, que ela enfatiza, não é voltada unicamente para pessoas negras, mas para toda a sociedade, ela traz, primeiro, uma contextualização histórica brasileira, de construção da sociedade e de uma vez que o racismo é estruturado. Em seguida, analisa publicações com discursos de ódio nas redes sociais.

“Acho que esse é o alerta maior do livro, as pessoas acham que são só garotos nas redes sociais falando. Não. O exposição de hoje está interferindo na sociedade brasileira”, diz.

Segundo ela, são necessárias medidas urgentes, uma vez que a responsabilização e cobrança de medidas por segmento das grandes empresas de tecnologia, as chamadas big techs, responsáveis pelas redes sociais.

“O exposição de ódio mata. E o exposição de ódio faz morrer. Porque as pessoas estão cometendo suicídio por conta de questões nas redes sociais. As pessoas estão viciadas. As pessoas estão com sérios problemas ligados à rede social”, enfatiza a jornalista.

Os finalistas de cada uma das categorias do prêmio foram divulgados nesta quinta-feira (18). O Prêmio Jabuti é o principal reconhecimento literário do Brasil, é idealizado pela Câmara Brasileira do Livro e ocorre desde 1958. Neste ano, para invocar atenção às contribuições significativas à ciência no país, foi lançada uma novidade modalidade, o Prêmio Jabuti Acadêmico, que conta com o esteio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Ateneu Brasileira de Ciências (ABC).

Horas depois de saber o resultado, Barreto conversou com a Escritório Brasil. Confira os principais trechos da entrevista:

Escritório Brasil – Uma vez que você recebe esse resultado, esse reconhecimento?

Luciana Barreto – Primeiro, simples que eu estou muito feliz. Mas muito surpresa, porque às vezes eu acho que a gente trabalha tão intensamente e realmente sem pretensões. Eu não tinha nenhuma pretensão nem disso virar livro. É a minha dissertação de mestrado. E eu me dediquei muito a ela com um motivo genuíno: eu queria contribuir demais com alguma coisa que, para mim, incomodava demais, que é o aumento do exposição de ódio na rede social. Eu realmente via as minhas amigas ligarem chorando. E eu estou falando de pessoas extremamente empoderadas. Pessoas que têm cargos, que têm quantia, que têm reconhecimento e que estavam fragilizadas diante de discursos de ódio.  

Eu já tinha a intenção de estudar isso. Quando fui para os Estados Unidos, conheci esse projeto, que é o Teaching Tolerance, ensinando a tolerância. Era um projeto que dava todo o esteio às vítimas de exposição de ódio, desde esteio jurídico, material a esteio para os professores, para ensinarem esse contradiscurso. Quando eu vi tudo isso, aí eu falei, vamos levar para o Brasil. Mas logo eu tive uma intenção genuína, a minha intenção era apresentar para as pessoas uma proposta de se proteger do exposição de ódio, o que eu chamo de contradiscurso. Perceber que isso virou um livro, ou seja, tem uma distribuição maior entre as pessoas. E depois perceber que esse livro tem um reconhecimento. Para mim, é incrível.

Rio de Janeiro (RJ), 18/07/2024 - A jornalista da TV Brasil Luciana Barreto é uma das 10 semifinalistas da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, com a obra
Rio de Janeiro (RJ), 18/07/2024 - A jornalista da TV Brasil Luciana Barreto é uma das 10 semifinalistas da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico, com a obra

Luciana Barreto é uma das 5 semifinalistas da primeira edição do Prêmio Jabuti Acadêmico – Tânia Rêgo/Escritório Brasil

Escritório Brasil – Conta um pouquinho o que é o livro e uma vez que ele está estruturado.

Luciana Barreto – O livro é um resultado de dissertação de mestrado, só que ele é escrito por uma jornalista. Logo, isso faz toda a diferença. Na primeira lanço do livro – eu falo que esse é um livro voltado não só para pessoas negras, apesar de ser um livro sobre exposição de ódio contra pessoas negras, ele é voltado para que todos leiam – e para isso, eu tenho aí uma primeira segmento do livro ambientando o leitor com termos, ambientando o leitor com a história do movimento preto.

Em um segundo momento, eu entro nessa segmento mais acadêmica. O livro é numa superfície de estudo do exposição. Eu pego expressões de exposição de ódio que são muito recorrentes nas redes socais e faço uma estudo dessas expressões. E aí eu entendo por que o hater [em tradução livre, odiador. É um termo usado na internet para classificar pessoas que postam comentários de ódio] utiliza essa sentença, que tipo de objetivo o hater quer ao utilizar essa sentença. Quando o leitor já chega nessa segmento, ele já entende que existe toda uma questão social e econômica envolvida com a questão racial. Ele percebe, por exemplo, por que se utilizam expressões uma vez que o “mimimi”, por que eles focam mulheres negras, por exemplo, com uma requisito econômica, social um pouco mais vantajosa.

O leitor já está entendendo que a requisito da mulher negra na opinião do hater, e às vezes em segmento significativa do Brasil, infelizmente, é uma requisito em que ela está numa posição do servir. Logo, se ela aparece numa posição de poder, ela sofre exposição de ódio. Se ela aparece numa requisito de formosura que é muito ligada às pessoas brancas, ela sofre exposição de ódio. Logo, o leitor vai entendendo todo esse mecanismo de vexação pelo qual passam as vítimas de exposição de ódio.

Escritório Brasil – Pode nos dar um exemplo?

Luciana Barreto – Um exemplo, a sentença “mimimi”, que eu analiso nesse livro. O “mimimi” é sempre uma dor. Brincam que “mimimi” é a dor que dá no outro. O ponto de partida é expressar que a sua reivindicação é uma reivindicação menor. Essa é a teoria do “mimimi”. O hater quer sempre trazer uma teoria supremacista, eu diria, dizendo que existe um grupo que não reclama, que vive a vida, trabalha. Essa teoria de que tem esse grupo – e a gente sabe esse grupo idealizado qual é – e, por outro lado, tem um grupo que reclama. Logo, a estudo do exposição é para isso. A minha teoria era fazer com que as pessoas entendessem, as minhas amigas também, é mostrar: ele está usando esse termo para te paralisar, para te fazer regredir, voltar, te deixar estática, e isso não vale a pena, porque tem uma teoria supremacista cá envolvida quando ele usa certas expressões com você.

Eu utilizo, inclusive, um estudo do pesquisador Luiz Valério Trindade. Ele quantificou os discursos de ódio no Facebook. Tem uma porcentagem muito grande de mulheres negras uma vez que principal fim. Os haters são normalmente meninos jovens que perseguem essas mulheres negras. E ele traz dez itens em que elas são perseguidas: quando elas estão fazendo uma viagem ao exterior, por exemplo, uma viagem de férias, se ela estiver no Hemisfério Setentrião, se for aos Estados Unidos e Europa; se tiver um conúbio interracial; se utilizar o cabelo black uma vez que um sinal de formosura; se estiver numa posição de profissional liberal, uma vez que advogada, jornalista, apresentadora; se ganha um concurso de formosura. Ele vai elencando alguns tópicos em que essas mulheres, que são o principal fim, aparecem com mais frequência uma vez que fim dos haters.

Eu não faço uma estudo quantitativa, uma vez que eu disse, eu faço uma estudo do exposição. Logo, eu faço estudo das palavras, das expressões e uma vez que elas são colocadas, uma vez que elas aparecem e por qual objetivo.

Escritório Brasil – Qual o papel das redes sociais na disseminação de discursos de ódio e uma vez que é provável combater a disseminação desse tipo de teor?

Luciana Barreto – A discussão de regulação é uma discussão, acho, muito lenta e a gente precisa mesmo de uma cobrança maior às big techs. E é isso que os outros países estão fazendo, estão indo direto nelas. Eu acho que é isso que a gente vai conseguir de mais súbito. Por que eu falo de súbito? Porque, o exposição de ódio mata. E o exposição de ódio mata. E o exposição de ódio faz morrer. Porque as pessoas estão cometendo suicídio por conta de questões nas redes sociais. As pessoas estão viciadas. As pessoas estão com sérios problemas ligados à rede social. Não dá para a gente permanecer esperando anos e anos de discussão sobre isso.

Escritório Brasil – No livro você cita o Teaching Tolerance. Existem iniciativas semelhantes no Brasil?

Luciana Barreto – A gente não tem zero parecido. Eles são um projeto do Alabama, um lugar que tem muito exposição de ódio, que é no origem do movimento dos direitos civis. Ali onde teve ataque contra a população negra, onde teve petardo em igreja, onde teve assassinatos, enforcamentos, e que tem uma ferida ensejo ainda. Eu estava lá no último ano do governo de Barack Obama. Eles já percebiam o aumento do exposição da extrema-direita que acabou levando Donald Trump ao poder logo em seguida. Mas já se percebia um aumento do exposição de ódio. Exposição de ódio contra estrangeiros, aumento da xenofobia, contra os latinos, exposição de ódio contra negros, o exposição meritocrático que muitas vezes passa por exposição de ódio, exposição contra população LGBT. Isso era 2016. Logo, eles estavam tentando alguma coisa, uma plataforma que desse todo o suporte e esteio, não só ao combate ao exposição de ódio, mas também à vítima. Eu achei aquilo incrível. Pensei que precisava voltar e propor alguma coisa cá. Surgiu, logo, a teoria de me matricular no mestrado.  

Escritório Brasil – Em um dos resumos do seu livro me chamou atenção uma frase que diz que o ódio é uma forma de exclusão.

Luciana Barreto – Isso, exato. Acho que esse é o alerta maior do livro, as pessoas acham que são só garotos nas redes sociais falando. Não. O exposição de hoje está interferindo na sociedade brasileira E as grandes plataformas [redes sociais] distribuem esse exposição preferencialmente. Essa é a questão.

Fonte EBC

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