Jornalistas Foram Perseguidos E Torturados Por Resistência à Ditadura

Jornalistas foram perseguidos e torturados por resistência à ditadura

Brasil

Vladimir Herzog é o mais publicado deles, mas há também Djalma Roble Maranhão, Ieda Santos Ténue, Jane Vanini, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, Luiz Inácio Maranhão Fruto, Orlando da Silva Rosa Bonfim Júnior e Wânio José de Mattos. Estes foram jornalistas assassinados pela ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985.

Neste domingo (7), é comemorado o Dia do Jornalista e, no contexto dos 60 anos do golpe militar na democracia do país, a Escritório Brasil lembra a perseguição e repressão sofridas por esses profissionais e os veículos de prelo durante a ditadura militar. Para o vice-presidente da Federação Vernáculo dos Jornalistas (Fenaj), Célio Martins, o trabalho de resistência dos profissionais no período foi fundamental para que o regime militar se encerrasse, a partir da circulação de informações aos movimentos sociais organizados. 

“Na minha visão, o regime militar poderia ter durado um período maior do que durou não fosse uma série de resistências dentro da sociedade social organizada e, nesse contexto, estão os jornalistas”, disse.

“Uma informação que não se veiculava nos veículos de mídia, mas acabava chegando nos movimentos da sociedade social organizada era importantíssima. Essa informação era vital para poder organizar a resistência, para poder tomar medidas, vamos manifestar, contrárias àquele estado de coisa que era repressor, que não permitia a liberdade de prelo e tudo mais que a gente sabe”, explicou Martins.

Da mesma forma, segundo o dirigente da Fenaj, os agentes de exprobação também tinham os seus canais para saber de onde estavam saindo as informações. Neste contexto estão os jornalistas perseguidos e mortos e aqueles que sofreram ameaças.

“No caso do Herzog, ele sofreu uma violência muito grande, logo, é uma situação que tornou-se muito evidente para a sociedade. Mas existem inúmeros outros casos que a sociedade não sabe, em que o jornalista era fichado e sofria aquela prenúncio verbal”, contou.

São Paulo (SP) - Instituto Vladimir Herzog lança campanha para oficializar 25 de outubro como dia nacional da democracia. Foto: Wilson Ribeiro/Acervo Vladimir Herzog
São Paulo (SP) - Instituto Vladimir Herzog lança campanha para oficializar 25 de outubro como dia nacional da democracia. Foto: Wilson Ribeiro/Acervo Vladimir Herzog

Vladimir Herzog foi torturado e morto durante a ditadura militar. Foto: Wilson Ribeiro/Montão Vladimir Herzog

Diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo, Vladimir Herzog morreu no dia 25 de outubro de 1975 em consequência de torturas no Departamento de Operações de Informações – Meio de Operações de Resguardo Interna (DOI-Codi), do Tropa, em São Paulo. Ele se apresentou voluntariamente para prestar esclarecimentos sobre sua atuação política e profissional. Posteriormente o homicídio, foi montada uma farsa para encobrir a motivo real da morte, afirmando que o jornalista se suicidara. 

A esposa do jornalista, Clarice Herzog, denunciou a morte porquê violação e também foi vítima da perseguição dos militares. Na última quarta-feira (3), a também jornalista e publicitária recebeu a anistia política e um pedido de desculpas do Estado brasílio.

Reparação

Os nomes dos jornalistas citados pela reportagem no início desta material são do relatório da Percentagem da Verdade do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, que, em 2017, listou 25 casos de profissionais assassinados durante o período em que o país foi comandado pelo militares. Além deles, centenas foram perseguidos, presos e torturados.

O diretor de Jornalismo da Associação Brasileira de Prensa (ABI), Moacyr Oliveira Fruto, era estudante de economia da Universidade de São Paulo, quando foi recluso e torturado por militares, em 1972. Acabou abandonando o curso pois, segundo ele, a Faculdade de Economia, na quadra, era controlada por pessoas ligadas a Antonio Delfim Netto, que foi ministro da Quinta do regime militar, entre 1969 e 1974. “Indiretamente, a minha prisão me fez virar jornalista”, disse.

“Houve, durante a ditadura, uma perseguição muito importante à prelo. Não só a profissionais, centenas de jornalistas foram presos e torturados, porquê a exprobação aos jornais, aos grandes jornais”, disse.

De negócio com Oliveira Fruto, a perseguição alcançava níveis porquê o veto a credenciais, situação em que não era permitido o credenciamento de profissionais a locais porquê o Palácio do Planalto, em Brasília, sede do governo federalista, e a eventos públicos. “Eu mesmo tive a minha credencial da visitante do Papa cá em Brasília negada”, disse, sobre a visitante de João Paulo II à capital federalista, em 1980.

Por outro lado, atos públicos de resistência também foram registrados, porquê o gesto de ousadia de um grupo de profissionais de imagem que se recusaram a fotografar o logo presidente João Figueiredo, em 1984, na rampa do Palácio do Planalto. O ato ficou publicado porquê “Máquinas ao soalho” .

O diretor da ABI lembrou que, apesar das censuras, os grandes jornais da quadra apoiaram o golpe institucionalmente. Ao longo dos anos, muitos veículos já reconheceram essa participação e, segundo Oliveira Fruto, a grande prelo vem fazendo uma boa cobertura nesse período que marca os 60 anos do golpe. 

Para Célio Martins, da Fenaj, é necessário ainda uma “reavaliação profunda” da traço editorial e medidas adotadas pela grande mídia na quadra. “E, a partir daí, fazer um auto julgamento histórico, para reconhecer os pontos errados, reconhecer isso perante a sociedade, reconhecer publicamente de forma clara, de forma transparente”, disse.

Por outro lado, ele lembrou que alguns veículos ofereceram resistência ao regime militar “depois de um período”. “Depois que eles perceberam que a situação não era o que eles achavam que seria, teve alguma resistência, sim, que contribuiu para início [para o fim do regime]. Mas a início foi proporcionada, majoritariamente, pelos movimentos sociais e políticos”, destacou.

Memória

Para Moacyr Oliveira, da ABI, o Brasil está “muito retardado” na recuperação da memória e verdade do período militar. Segundo ele, das 29 recomendações da Percentagem Vernáculo da Verdade, exclusivamente duas foram cumpridas, seis foram atendidas parcialmente e a maioria delas foi esquecida, porquê a geração de memoriais nos locais que foram centros de tortura. A percentagem investigou violações praticadas pela ditadura militar no país e, durante os trabalhos, de 2012 a 2014, identificou 434 mortos pelos militares e 210 pessoas ainda desaparecidas. 

“Na verdade, a justiça de transição do Brasil praticamente não foi feita. Não temos nenhum caso de agente do Estado punido pelos crimes que cometeu, de torturadores, ao contrário do que aconteceu na Argentina, no Chile, no Uruguai, no Brasil não tem nenhum réprobo”, destacou.

“A memória é fundamental para que isso não se repita e para permanecer de exemplo para as novas gerações. Tem uma frase da neta do Jango, Isabela Goulart, que eu acho que resume essa questão: ‘um país sem memória é um país sem identidade e o país sem identidade é porquê se fosse uma folha em branco; o primeiro que chegar escreve o que quiser nessa folha em branco’”, disse o diretor da ABI.

O vice-presidente da Fenaj corrobora com essa opinião e afirmou que “o incidente lamentoso de 1964” deve ser visto porquê um aprendizagem pela sociedade brasileira, em todas as suas faces, incluindo as entidades de classe, porquê os jornalistas. 

VIOLÊNCIA À IMPRENSA; DITADURA; CENSURA - Reunião de Intelectuais contra a Censura, 1967. Foto: Ruth Toledo/Arquivo Público-SP
VIOLÊNCIA À IMPRENSA; DITADURA; CENSURA - Reunião de Intelectuais contra a Censura, 1967. Foto: Ruth Toledo/Arquivo Público-SP

Reunião de Intelectuais contra a Increpação, 1967. Foto: Ruth Toledo/Registo Público-SP

“Deve servir de aprendizagem para impedir, evitar que se repita a história. É dessa forma que eu vejo que podemos caminhar, de uma forma que avance a democracia cada vez mais no país sem desabar em retrocesso”, disse.

O Dia do Jornalista foi instituído pela Associação Brasileira de Prensa (ABI) em 1931, porquê homenagem a Giovanni Battista Líbero Badaró, médico e jornalista assassinado por inimigos políticos em 1830. Também em um 7 de abril, porém de 1908, o jornalista Gustavo de Lacerda fundou a ABI, para atuar em obséquio dos profissionais da superfície.

Fonte EBC

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