'judô Está Ficando Chato', Diz Bronze Em Atlanta 1996 01/08/2024

‘Judô está ficando chato’, diz bronze em Atlanta-1996 – 01/08/2024 – Esporte

Esporte

As derrotas dos judocas brasileiros Rafael Macedo e Rafaela Silva em Paris-2024, depois punições recebidas dos árbitros, evidenciaram uma novidade tempo atravessada pelo esporte.

No término de 2021, a Federação Internacional de Judô (IJF, na {sigla} em inglês) lançou uma série de novas punições de modo a coibir golpes até logo permitidos que se somou a penalizações tradicionais já existentes, sendo a falta de combatividade e o falso ataque as mais conhecidas.

“O objetivo das regras é proteger os atletas e o esporte uma vez que um todo, buscando tornar o judô mais dinâmico e atrativo para o público”, declarou na ocasião Vladimir Barta, diretor da IJF.

O resultado da iniciativa, no entanto, não tem agradado os esportistas.

Medalha de bronze em Atlanta-1996 (categoria 65 kg), Henrique Guimarães avalia que as regras e as punições não visam unicamente o bem-estar dos atletas de cimalha rendimento, mas também as categorias de base, onde há maior risco de lesões graves em caso de técnicas aplicadas de maneira inadequada.

O medalhista olímpico ressalta, no entanto, que há um excesso de punições por segmento dos árbitros, o que tem até trazido mudanças nas estratégias de luta dos judocas.

“A gente vê que alguns lutadores estão lutando não para dar ippon [golpe perfeito], mas para lucrar por levar o oponente à punição. O judô está ficando rés por razão disso”, afirma Guimarães à Folha.

“Acaba que prevalece o lutador ser mais tático do que técnico. É muito mais fácil aprender a lutar dessa forma mais tática, forçando o oponente à punição, do que erigir a emprego correta de um golpe, que pode levar anos”, acrescenta o judoca.

“Tem muita luta sendo definida por punições, o que acaba retirando de cena quem deveria ser o protagonista, que é o judoca”, afirma Flávio Quina, bronze em Atenas-2004 (categoria 81 kg).

“As lutas estão terminando com muita frequência pelas punições, isso tem que ser revisto”, diz Quina. Ele afirma que as constantes mudanças de regras no esporte prejudicam o desenvolvimento dos atletas, que veem uma técnica praticada por anos proibida pela federação, forçando uma revisão na estratégia de combate adotada.

Guimarães diz ainda que cabe aos juízes utilizar as punições com bom tino. Ele afirma que, nos Jogos de Paris, tem sido generalidade os embates em que os lutadores já têm duas punições cada —a terceira leva à eliminação— ainda restando bastante tempo até o término da luta. “Tem que entender quando dar a punição. A Olimpíada já foi melhor nesse sentido.”

No caso da campeã olímpica na Rio-2016 Rafaela Silva (categoria 57 kg), que começou no esporte no projeto social Instituto Reação de Quina, a desclassificação veio depois a desportista utilizar um golpe contra a japonesa Haruka Funakubo na disputa pelo bronze apoiando a cabeça no solo para completar o movimento.

O escora da cabeça no solo foi uma das novas proibições trazidas pela recente decisão da federação internacional, que entendeu que a técnica representa uma falta grave por colocar em risco a integridade física dos atletas, levando à eliminação direta.

Rafael Macedo (categoria 90 kg) também acabou desclassificado quando lutava pelo bronze contra o francesismo Maxime-Gael Ngayap Hambo, em uma decisão da arbitragem que gerou polêmica, sem que a delegação brasileira entendesse o motivo da punição. Inicialmente a versão foi a de que o brasílico havia sido punido por catrafilar o quimono do oponente por dentro da manga, o que não é permitido.

Posteriormente, a epílogo foi que Macedo usou as pernas para envolver a cabeça do oponente na luta de solo, sem que estivesse segurando os braços do oponente. O movimento é considerado falta pelo risco de lesão.

“Acho que piorou [a aplicação das punições], e não sou só eu. Estava na França esses dias e é uma opinião generalidade. É tradição que, ao término do ciclo olímpico, haja uma revisão das regras e seguramente vão mudar. Tem muita coisa que não está fazendo sentido”, diz Quina, acrescentando que, em alguns casos, as regras confundem não só o público, uma vez que os próprios atletas, caso de Macedo.

Além das punições, Guimarães afirma ainda que a emprego perfeita do golpe para projetar o oponente contra o solo também está prejudicada pelo entendimento adotado pelos árbitros.

Na leva de mudanças promovida em 2021, a IJF determinou que um golpe será pontuado uma vez que waza-ri (segunda maior pontuação do judô, detrás unicamente do ippon) quando o judoca projetar o oponente contra o solo de costas, mesmo que o ombro não chegue a recostar no tatame.

Esse entendimento, diz o medalhista olímpico, faz com que algumas quedas que não deveriam receber uma pontuação subida acabem sendo classificadas dessa forma. “Hoje não precisa ter uma grande queda para ser ippon.”

Novas regras introduzidas pela IJF

  • Estribar a cabeça no solo uma vez que auxílio para completar a técnica de projeção contra um oponente passa a ser considerada falta grave, com eliminação direta do desportista;
  • Arrumar o cabelo e o kimono passa a ser permitido somente uma vez durante a luta por desportista; em caso de reincidência, haverá punição com um shido;
  • O golpe seoi-nage voltado [quando o judoca agarra apenas um dos lados do kimono do adversário com as duas mãos para projetá-lo ao chão] passa a ser punido com um shido;
  • Quando o judoca se desvencilhar da pegada do oponente, mas não buscar fazer a pegada logo na sequência, ele será punido com um shido;
  • Um golpe será pontuado uma vez que waza-ri [segunda maior pontuação do judô, atrás apenas do ippon] quando o judoca projetar o oponente contra o solo de costas, mesmo que o ombro não encoste no tatame;
  • Se o judoca utilizar um golpe, interromper o movimento por um momento e retomar a técnica de ataque na sequência, não haverá pontuação;
  • Se o judoca tentar sofrear um ataque posicionando as duas mãos no solo, ele será punido com um shido;
  • Não haverá pontuação no caso de um contra-ataque quando o oponente que tiver aplicado inicialmente o primeiro golpe ainda estar virado de costas

Folha

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