Foi com a melodia de 2013 “Mirrors”, que parece já ter nascido nostálgica, que o cantor Justin Timberlake começou o show que fechou a edição deste ano do Lollapalooza Brasil neste domingo, 30.
Escoltado da numerosa filarmónica Tennessee Kids, que apareceu vestida com variações das cores da bandeira brasileira e se provaria uma das melhores partes da apresentação, o americano chegou para lembrar a um festival submetido pela rapidez das atrações forjadas no TikTok uma vez que eram os tempos em que ele reinava.
Timberlake viu seu auge num momento em que as canções pop eram mais longas e os refrães se repetiam mais vezes —o que acabou dando outra regularidade para a apresentação, uma vez que se cada hit pudesse ser saboreado uma vez que era na quadra em que foi lançado.
Aos 44 anos, Timberlake obviamente não é o mesmo popstar registrado no cérebro de quem acompanhou sua trajetória nos anos 2000 e 2010. Mas isso não quer manifestar que não seja verosímil encontrar, no palco, o que o levou a leste posto.
Não é que ele tenha oferecido motivos para o contrário. Só nos últimos anos foi recluso por guiar bêbado e teve seu comportamento na relação com Britney Spears —com quem formou um dos casais mais populares dos anos 2000— exposto num documentário. É, de longe, seu pior momento artístico e de reputação.
Mas seu currículo de hits, embora não tenha sido atualizado desde meados de 2016, é invejável. São músicas muito feitas, que ajudam a descrever a história de uma era específica da música pop.
Ao lado de produtores uma vez que Timbaland e a dupla The Neptunes, formada por Pharrell Williams e Chad Hugo, Timberlake emplacou um R&B suingado, com fortes linhas de plebeu, muitos falsetes e batidas perfeitas para a pista de dança.
No palco, isso é traduzido com maestria por sua filarmónica, que sustenta introduções e momentos instrumentais muito encaixados entre as faixas, que deslizam uma na outra sem grandes interrupções.
Aliás, o artista tem uma experiência de performance que começou a ser forjada na boy band ‘N Sync no meio dos anos 1990 e ajudou a definir uma novidade estética de cantores masculinos na música pop.
Envolve coreografias ensaiadas e uma forma de se portar que influenciou cantores das gerações que viriam, de Bruno Mars aos Jonas Brothers, mas que já parece em extinção. Tudo isso faz com que o americano suba com vantagem no palco —quase uma vez que se precisasse se esforçar muito para arruinar a experiência ao vivo.
Ele não faz mais as longas sequências de coreografias, mas ainda dança em trechos das músicas e na companhia de seus dançarinos. Sustenta os falsetes de antes sem grandes obstáculos, e usa espertamente seus backing vocals.
Embora a “The Forget Tomorrow World Tour”, sua primeira turnê em cinco anos, seja apoiada no sexto álbum lançado pelo americano, “Everything I Thought It Was”, de 2024, só três faixas dele apareceram no setlist de hoje. Foi uma escolha acertada para um disco que passou longe de decolar e aprazer ao público e à sátira.
Essas músicas —”No Angels”, “Play” e “Selfish”— ganharam uma recepção fria de um público que certamente não estava interessado no que o Justin de 2024 tem a manifestar. Mesmo na frente do palco, quem via aproveitou os momentos para botar o papo em dia ou dar uma escapadinha para ir ao banheiro ou pegar um bebida.
O show girou mais em torno dos dois primeiros álbuns do artista, “Justified” e “FutureSex/LoveSounds”, lançados em 2002 e 2006, respectivamente. Dessa sua era de ouro apareceram músicas uma vez que “Rock Your Body”, “Sexy Back”, “My Love” e “What Goes Around… Comes Around”, todas celebradas por quem estava no autódromo.
Dos anos seguintes, Timberlake pinçou hits de outros álbuns e colaborações com artistas que dominavam as rádios daquela quadra. Aí apareceram emendadas músicas clássicas de sua trajetória, uma vez que “4 Minutes”, cantada com Madonna —e com os sopros feitos ao vivo por sua filarmónica—, “Give It to Me” sucesso com Timbaland e Nelly Furtado, e “Ayo Technology”, com 50 Cent.
Nesta noite de Lollapalooza, o público se encontrou com um artista a duas décadas de intervalo de seu auge, e é verosímil debater se a escolha dele para o principal posto do lineup faria sentido neste momento de sua trajetória.
Mas o show que fecha a edição de 2025 também trouxe uma ração bem-vinda de nostalgia numa edição marcada por estrelas que explodiram no TikTok e muitos hits que ainda têm vida curta.
Depois de um festival que forçou esta visão de um dos futuros possíveis da música —e encontrou de volta uma edição atipicamente esvaziada, inclusive no show de Timberlake—, não fez zero mal olhar um pouco para trás.