Kevin Spacey: Nova Série é Desserviço E Sensacionalismo 23/05/2024

Kevin Spacey: Nova série é desserviço e sensacionalismo – 23/05/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Não há zero inexacto, em princípio, na realização de um documentário de denúncia. O problema é que precisa ser muito pensado, caso contrário vira um testemunho de resguardo involuntário.

É precisamente o que acontece com a série de dois episódios “Kevin Spacey: A História Não Contada”, de Katherine Haywood, que em alguns momentos parece ter sido encomendada e produzida para colocar a culpa contra o assédio sexual no ridículo.

Levante texto não contempla os aspectos jurídicos do caso, se foi justo ou não o julgamento que inocentou o ator de todas as acusações. Assumimos ignorância nessas questões. É uma estudo da série e de uma vez que sua feitura incide num julgamento superficial das atitudes do ator.

O maior problema é o que determina sua estrutura, baseada no prova de atores que tiveram contato com o planeta no início de suas carreiras e sofreram assédio sexual, mas não foram ouvidos no julgamento.

A série contempla o pânico do que os aconteceria se eles abrissem a boca enfrentando um poderoso de Hollywood. Poderiam ter saído da sombra quando fariam alguma diferença, não para um documentário que transpira sensacionalismo em cada imagem.

Esses assédios remontam ao início da curso de Spacey. O mais vetusto dos entrevistados até imagina que ele deve ter ficado muito pior, se antes de lucrar poder já era assediante. A série vai mostrar que sim, ficou pior.

Os assédios passam, principalmente, pelo elenco e estudantes do teatro londrino The Old Vic, que Spacey dirigiu a partir de 2003, e pelo elenco da série “House of Cards”, onde o ator era majestade entre 2013 e 2017.

É compreensível e humano o pânico. Mas o filme procura exacerbá-lo com uma trilha sonora calcada em obviedades, subindo o tom nos momentos em que deseja nos sensibilizar. Alguma coisa que um diretor de melodramas costuma fazer com maior habilidade.

Vejamos o caso do ator Scott Levy, um dos entrevistados. Em claro momento, ele se levanta, pois aparentemente houve um incisão e ele poderia respirar. Mas esse incisão não aconteceu, logo o vemos se afastando, praguejando uma vez que se estivesse revivendo um traumatismo.

Mesmo descontando que o brasiliano é muito mais do toque e do amplexo que o norte-americano, é meio constrangedor ver um varão tão potente, que já havia sido fuzileiro naval, tratado pela série uma vez que uma vítima indefesa.

Tecnicamente, ele foi uma vítima. Mas nunca indefesa. Era necessário bom tino para deixar isso evidente e não jogar no ralo o trabalho sério de organizações uma vez que o MeToo, entre outras, que trabalham prioritariamente com vítimas de maior dificuldade para serem ouvidas, mulheres que são sempre inferiorizadas nas relações de poder.

O ator teve uma atuação suasivo, não uma reação suasivo. Essa atuação transforma momentaneamente a série num falso documentário. “Eu não quero que isso seja uma coisa de vítima”, o ator fala, supostamente sem saber que essa fala entraria no filme.

Não há acerto verosímil aí. Se ele não sabia, o filme o manipulou, transformando-o em vítima novamente. Se ele sabia, aceitou a farsa e ajudou a manipular o público.

Em outro momento, a série entrevista um ator apresentado uma vez que Daniel, que participou de “House of Cards”. Esse ator recebe a visitante de uma companheira de elenco, apresentada uma vez que Dawn. Quando ele conta para ela que foi apalpado, ela se escandaliza, e logo ele pede que ela se levante, sugerindo que iria mostrar uma vez que foi.

Uma vez que assim? Ele iria fazer com uma mulher o mesmo que foi feito com ele e o traumatizou? A atriz logo se esquiva e pergunta se foi por trás ou pela frente a apalpada, ao que ele responde a segunda opção. Detalhes assim revelam a índole dos acusadores, não muito melhor que a do criminado.

De convénio com a série e o ator, não haveria problema se ele reproduzisse ali, na frente de uma câmera o que sofreu. Isso dá uma medida de que a série e ao menos esse entrevistado não são lá muito confiáveis.

Ao se preocupar demais em mostrar o planeta com seus fantasmas, o pai nazista e o diabo a quatro, “Kevin Spacey: A História Não Contada” parece até um testemunho de resguardo do réu, mais do que uma novidade plataforma para prolongar seu cancelamento na indústria do entretenimento, uma vez que se ele nunca mais pudesse trabalhar.

Ou seja, uma vez que documentário, é quadrilátero ao extremo, sem qualquer traço de originalidade. Uma vez que veículo de denúncia, é pior ainda, pois assume a manipulação e a falta de moral. É o tipo de “resultado audiovisual” que presta um desserviço à luta contra o assédio nos ambientes de trabalho.

Folha

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