Laufey está nervosa de cantar bossa nova para brasileiros

Laufey está nervosa de cantar bossa nova para brasileiros – 30/05/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Laufey está somente há algumas horas no Brasil, mas já se encantou com o país. “Estou achando melhor do que eu imaginava”, afirma a cantora. “Todo mundo é muito gentil, e a língua é muito linda. Estou obcecada em ouvir as pessoas conversando. É tão suave, tem um ritmo, uma compasso, que é muito músico.”

Atração do Popload Festival, que acontece em São Paulo neste sábado, ela tem no Brasil uma referência fundamental para sua obra, que trafega entre o jazz e a bossa novidade, com influências também da música clássica e um tratamento pop. Mas Laufey está nervosa com o repto de trovar bossa novidade para os brasileiros.

“Todo mundo cá conhece a boa música e isso não é um pouco novo —na verdade, é uma cultura na qual estou me inspirando, de onde pego uma inspiração muito profunda”, afirma. “Em uma das músicas, até cito a bossa novidade na letra. Portanto, estou muito nervosa. É uma vez que tocar música clássica para um professor de música clássica —ou jazz para um músico de jazz. É mal me sinto.”

Laufey fala do gênero brasiliano em “Falling Behind”, uma de suas músicas mais famosas, em que o eu-lírico vê todos a sua volta se apaixonarem —menos ela mesma. Lançada no primeiro de seus dois álbuns, “Everything I Know About Love”, de 2022, é somente uma das faixas da cantora de 26 anos com centenas de milhões de reproduções no streaming.

Mas ela não é uma estrela pop geral. Em sua música não há batidas eletrônicas ou qualquer elemento que lembre uma pista de dança. Na verdade, Laufey despontou apresentando aos jovens estilos que vêm de outras eras.

Sua marca, diz a cantora islandesa, é uma tapeçaria sonora de toda a música que ela patroa e estuda. “Quando vou inventar, seja qual for o som que contemple melhor aquela história, é detrás dele que vou. Houve uma idade que sentia pânico por ter tantas sonoridades diferentes no meu cérebro. Mas acho que o mais importante foi ter ouvido todo o repertório de cada gênero respectivo antes de principiar a misturar todos eles.”

Laufey vê essa mistura não somente uma vez que o que fornece a identidade de seu som, mas o que faz dela uma artista de seu tempo. Filha de pai islandês e mãe chinesa, ela estudou música clássica nos Estados Unidos e conta que não compôs zero até ter um conhecimento vasto de música, o que aconteceu quando a artista tinha por volta de 20 anos de idade.

“Eu sempre quis que as pessoas da minha idade amassem esse tipo de música que ouço tanto quanto eu. Esse sempre foi meu objetivo”, ela afirma. “Portanto, quero ser um portal para esse estilo de música. Minha esperança era saber pessoas mais jovens, porque escrevo sobre experiências de jovens, coisas que eu mesma vivo sendo uma jovem.”

Se sua música parece vinda diretamente de um pretérito idílico e nostálgico, a cantora diz que não queria viver em outra idade. “Era terrível para as mulheres. Sou muito feliz vivendo agora”, afirma a artista, que gosta de usar as redes sociais e alcançou um grande público no TikTok.

Segundo ela, essa capacidade de transitar por diferentes terrenos musicais é também uma legado da mãe, uma violinista clássica que atua na Islândia. “Lá, não temos muita escolha a não ser fazer um pouco de tudo, porque tem pouca gente no país”, diz. “Minha mãe toca com a orquestra sinfônica, mas também com cantores pop. Num dia, está tocando com uma filarmónica de death metal e no outro está tocando Bach.”

Laufey também rejeita o rótulo de ícone do jazz da geração Z. Por mais que tenha influência do estilo e cante inclusive clássicos do gênero, ela afirma que não faz somente jazz. Ainda que fizesse, diz, “há muitas pessoas da comunidade do jazz que trabalham duro e dentro desse universo, um ofício que não deveria ser liderado por uma pessoa uma vez que eu”.

O mesmo vale para a música clássica. “Trabalho com muitas orquestras, tenho muita influência da música clássica. Mas não sou o rosto da música clássica, entende? Tenho grandes aspirações”, ela diz. “Não vou fazer música pop, mas o que é o pop exatamente? Os clássicos do jazz americano já foram pop uma vez.”

A islandesa tem uma apelo que vai além de um ou outro estilo. Ela pode tanger tanto uma vez que Billie Eilish quanto uma vez que Billie Holiday, lembrar tanto Taylor Swift quanto Astrud Gilberto. A brasileira, aliás, é uma de suas maiores referências no jeito de trovar.

Depois de crescer ouvindo bossa novidade com o pai em vivenda, Laufey estudou com brasileiros nos Estados Unidos e se encantou ao ouvir Astrud Gilberto numa cafeteria. Ela conta que o disco “Beach Samba”, de 1967, mudou sua vida.

“Cresci tocando violoncelo e ouvindo Ella Fitzgerald, e era tudo muito grande. Quando você toca violoncelo, tudo é longo, tem vibrato, muita emoção e drama. Astrud me mudou enquanto artista mais do que qualquer outro músico que eu tenha ouvido.”

“Aprendi que não precisa gritar para ser bonito, a performance não precisa ser dramática para narrar uma história formosa”, diz. “Aquele disco é espirituoso e tem vários sonzinhos engraçados dos anos 1960 que eu senhoril. E é curioso porque contrasta totalmente com minha geração [na Islândia].”

Na estrada com seu segundo álbum, “Bewitched”, de 2023, Laufey confessa a sofreguidão de trovar no Brasil pela primeira vez. Ela é um dos principais nomes do Popload Festival, que conta com atrações de vertentes diferentes da dela, uma vez que Kim Gordon, St. Vincent e Norah Jones.

No show no parque Ibirapuera, a cantora espera retribuir o carinho dos fãs brasileiros. E também a inspiração que pegou daqui.

“Sei que meus fãs ficam muito animados por eu ter me inspirado na cultura deles. Acho muito importante que eu venha cá e vivencie a cultura, através da música —e da música atual—, mas também da comida, das pessoas, do cinema, de qualquer arte, porque é um pouco com que me importo muito e do qual aprendi muito. Portanto, o que quero é retribuir.”

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *