Não leio comentários acerca do que escrevo ou falo. Interesse zero. Tampouco tenho interesse em “debates”. Debates são um fetiche quando tomados uma vez que forma para se “continuar” no entendimento de questões complexas e que mobilizam muitos interesses e paixões das partes em contenda.
Mas, às vezes, leio, por curiosidade mórbida talvez, comentários feitos a textos de colegas colunistas ou artigos em universal e constato que são, em sua imensa maioria, uma enorme perda de tempo.
Evidente que há exceções nesse balaio de inconsistências —usemos um termo chique hoje— que são os comentários, mas em universal não justifica o tempo perdido.
O caso da guerra entre Israel e Hamas é um exemplo que borda a caricatura. Articulistas, jornalistas e colunistas são no Brasil, em sua totalidade maioria, contra Israel, mas nos comentários um monte de gente acusa os veículos de “estarem a serviço do sionismo”. O que fazer diante de tal sem razão?
Aliás, vale salientar que argumentos uma vez que levante são herdeiros diretos da peça antissemita russa czarista “Os Protocolos dos Sábios de Sião” —os judeus mandam no mundo com seu moeda.
Essa epidemia de inconsistências que as redes geram —muitas vezes, uma vez que no caso dos comentários, apresentados uma vez que democratização da informação e opinião— é uma das manifestações de uma situação estrutural mais profunda, que é a relação delinquente que a humanidade sempre teve com a fala, a linguagem e a emissão de opiniões.
Não aprendemos a falar “para” o conhecimento consistente de zero. Aprendemos a falar, na melhor das hipóteses, “para” prometer a sobrevivência, a resguardo e convencer as fêmeas a admitir o sexo de forma suave.
E, por sua vez, sendo o sexo frágil, as fêmeas aprenderam a falar “para” prometer o melhor dos mundos verosímil para elas e sua prole, muito antes de Leibniz (1646-1716) ter concebido sua filosofia do melhor dos mundos verosímil criado por Deus na sua teodiceia.
No restante dos casos, a linguagem está a serviço do delírio, da peta, da fofoca, da manipulação das mentes e dos corações. Portanto, é mais fácil ser inconsistente no uso da linguagem do que seu contrário.
Por isso, o trabalho do jornalismo decente, não preguiçoso, e do intelectual decente não enviesado ideologicamente, é tão difícil e vasqueiro.
A única forma de combater as fake news seria derrubar as redes sociais, teoria absurda, evidente —e nem assim, porque a peta é proporcional ao simples aumento da circulação da termo, porque amamos a peta em si, sem nenhuma razão privativo, uma vez que dizia o repórter gaulês Georges Bernanos (1888-1948).
Mas podemos ir mais além do que as lamúrias e os clichês de ocasião no que se refere ao problema das fake news. Suspeito que o lamento ao volta das fake news e as lágrimas de crocodilo a elas associadas aumenta a cada momento simplesmente porque quem domina as redes é a direita.
Fosse o contrário, não sei, não. Os bolcheviques praticaram fake news —uma vez que todo mundo— largamente. Talvez uma das mais famosas tenha sido quando espalharam que o czar Nicolau 2° era um agente germânico na Primeira Guerra Mundial —Nicolau 2° era muito idiota para tal.
A prática do pragmatismo revolucionário no uso da moral e da linguagem foi geral entre comunistas. Lenin, Trótski e Stálin o usaram a larga. Marx veria as fake news uma vez que úteis para o pragmatismo revolucionário da linguagem, se usado para o lado “notório”.
Toda luta política acirrada é um terreno fértil para esse uso pragmático revolucionário da linguagem. O
importante é acuar a termo do outro, esvaziá-la de valor, gerar mais engajamento de uma determinada
narrativa. Isso não vai mudar.
Se as leis conseguirem infligir duras perdas financeiras às grandes plataformas da internet, pode-se atingir qualquer resultado tímido, lembrando que quem criará e aplicará as leis serão os mesmos sapiens que adoram a peta em prol do que creem.
A delinquência moral é estrutural em nossa espécie. O que nos confunde são os salamaleques, recurso clássico de quem detém o monopólio legítimo da
violência no uso da linguagem.
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