“Um dos homofóbicos era muito gostoso”, diz Lil Nas X no documentário “Long Live Montero”, que chega às plataformas digitais no dia 4 de julho. O cantor foi ao encontro de um grupo de fanáticos religiosos protestando do lado de fora de um de seus shows.
Um retrato da turnê “Montero”, o filme acompanha a estrela da música pop americana lidando com a glória, os shows e o impacto de sua arte provocativa na sociedade. Mostra também sua relação complexa com a família, a primeira instância conservadora com a qual o rapper, que é gay, teve de mourejar.
Lil Nas X despontou em 2019, quando tinha 20 anos e lançou “Old Town Road”, uma bem-humorada irrupção pelo country com uma batida de trap e um sample do Nine Inch Nails. Feita de maneira caseira, por um portanto anônimo, a música de refrão chiclete bateu o recorde de mais tempo no topo do ranking de mais ouvidas nos Estados Unidos.
Dois anos depois, ele entrou na mira dos conservadores com o clipe de “Montero (Call Me By Your Name)”, em que rebola para o Diabo e celebra pessoas LGBTQIA+ em sua versão fabulosa do inferno e do paraíso. Foi, em suas palavras, de “caubói atento e amigável” a “gay incerto e satânico” na percepção das pessoas.
“É a percepção das pessoas”, ele diz à Folha. “Tem gente que genuinamente me vê desse jeito. Não chega a ser um pouco muito maluco na vida real, tirando as pessoas que vêm até mim manifestar ‘Deus te governanta’ ou ‘não mexa com Deus’.”
Um provocador desbocado nas redes sociais, e publicado uma vez que o rei dos memes, Lil Nas X é retratado uma vez que uma pessoa de músculos e osso no filme. Em certa profundeza do documentário, sobe ao palco para manifestar à plateia que vai atrasar a apresentação porque havia completo de vomitar no camarim.
De certa forma, a turnê “Montero”, sua primeira grande excursão, representa um momento de conexão de Lil Nas X com o mundo real. Isso significa mourejar com haters humanos, não só arrobas numa rede social.
“Acho que quando você já está tendo episódios de surto mental —seja depressão ou um pouco ruim—, sua mente procura tudo de negativo que disseram sobre você, diz que isso está manifesto e joga contra você —mesmo que você não acredite nelas”, diz. “É uma vez que me senti.”
Em um dos shows retratados em “Long Live Montero”, Lil Nas X encontra Madonna no camarim. Não há muita interação entre eles nas câmeras, mas é interessante notar a conexão entre artistas de gerações diferentes que exploram temáticas LGBT+ em sua obra e são alvos de católicos e conservadores.
Ele afirma que lida com a sexualidade através da arte. “Penso nisso de maneira não propositado quando me vejo compondo.”
Dá uma vez que exemplo a geração de “Montero (Call Me By Your Name)”. “A primeira vez que escrevi sobre um rosto e sobre cavalgar um rosto, coisas diferentes assim, senti uma impaciência tomando conta de mim. Trovar essas coisas no estúdio, ou perto de pessoas que me conhecem, foi tipo, ‘espera lá, não estou confortável com isso ainda’. Lançar isso no mundo foi uma vez que se libertar de correntes.”
O documentário mostra uma vez que essas tensões têm origem na puerícia de Lil Nas X, em Atlanta. Sua relação com a família é fundamental para entender sua arte —e talvez seja o ponto elevado do filme.
O rapper diz em “Long Live Montero” que, aos 16 anos, parou de confiar no cristianismo. Conta que sua família é bastante católica e que seu pai foi a primeira pessoa para quem ele saiu do armário, mas suas “experiências com rapazes” sempre foram “elefantes na sala”.
“Meu pai diz que posso descrever essas coisas, mas continua sendo uma luta botar isso para fora”, ele afirma no filme. “Senhoril meu pai até a morte, mas me sinto desconectado dele.”
Lil Nas X também diz que tudo que ele faz é para “chacoalhar o jeito que minha família e o mundo em universal enxergam essas coisas”. Admite ainda, no filme, que é muito mais fácil se expressar com o corpo na gravação de um clipe do que na frente da família.
“Acho que tenho essa natureza rebelde que às vezes não consigo entender recta”, diz à reportagem. “Minha família me ver fazendo tudo isso para o mundo todo meio que mudou a percepção deles de mim, de ser um rosto recluso.”
Hoje, é difícil imaginar Lil Nas X uma vez que um recluso, oferecido o despudor que ele apresenta no palco ou nas redes sociais. Mas, antes do sucesso, o rapper de 25 anos se abria basicamente na internet.
“A turnê me ajudou a entender o pedestal que tenho para além das conexões na internet”, diz. “Ver uma vez que as pessoas de verdade, não números ou estatísticas, reagem a mim foi tipo, ‘caramba, você realmente existe e me apoia’. Esses dias, quando fiz check-in num hotel, tinha um rosto dizendo que me amava. Pensei, ‘meu Deus, você me vê uma vez que uma pessoa real, e não uma persona da internet.”
O documentário ainda mostra uma vez que Lil Nas X buscou referências de artistas negros e queer do pretérito —uma vez que Little Richard, o pioneiro libertino do rock americano— para entender que não estava sozinho nesse universo.
A passagem pelo Brasil, quando cantou no Lollapalooza do ano pretérito, e conheceu Pabllo Vittar, também foi marcante para Lil Nas X. O cantor conta que se apaixonou pela vontade dos brasileiros.
“Acho que Brasil e Argentina foram meus lugares favoritos da turnê”, afirma. “Me apaixonei pelo jeito que vocês não estão nem aí e só querem amar qualquer coisa que vocês amam e fazem isso de um jeito barulhento e celebrativo. O pandemônio que vocês fazem por essas coisas, isso é humano. E eu senhoril.”
Três anos depois de seu primeiro e mais recente álbum, e de rodar o mundo com shows solo ou encabeçando grandes festivais americanos e europeus, ele se prepara para dar o próximo passo da curso. Lançou um single em que imita Jesus Cristo crucificado e indicou que sua próxima temporada deve ser cristã.
Lil Nas X diz que sabe das armadilhas de um mundo pop em que subida e queda muitas vezes acontecem com a mesma velocidade e intensidade. “É preciso encontrar o que você pode trazer para o mundo sem se vender ou furar mão do que você acredita”, diz. “E não quero que as mesmas ideias que me levaram ao último lugar me levem ao próximo.”